sábado, 2 de fevereiro de 2013


A PEDRA...
Pr. Raul Marques


T
radicionalmente vem-se a dividir a Idade da Pedra em Paleolítico (ou Idade da Pedra Lascada), com um sistema econômico de caça-coleta, e Neolítico (ou Idade da Pedra Polida), no qual se produz a revolução para o sistema econômico produtivo e sedentário: agricultura e pecuária. Há um período intermédio chamado de Mesolítico, no qual usavam, ao mesmo tempo, instrumentos de pedra lascada e pedra polida. Os três períodos, por sua vez, encontram-se subdivididos” (Wikipédia).
De acordo com a Bíblia as primeiras Leis escritas foram estampadas em pedras: os dez mandamentos, que foram entregues a Moisés para divulgação com o seu povo. Naquele Livro, a pedra tem significações muito importantes e servem como designação e inspiração para todas as gerações posteriores. Foi da pedra que Moisés extraiu água para matar a sede. Foi com uma pedra que o pequeno Davi livrou o seu povo do cativeiro dos filisteus. Foi com o exemplo da pedra que Jesus Cristo demonstrou o Seu profundo senso de justiça ao livrar da morte por apedrejamento uma mulher vítima e algoz de si mesma, que foi posta sob a execração pública. Jesus usou a pedra como símbolo de sua firmeza e da sua inabalável conduta moral e espiritual. Os seus discípulos afirmaram e reproduziram com convicção que Ele era a pedra angular, aquela que aponta para uma edificação estruturada para sempre.
No entanto, a pedra ganha outros significados nas mãos humanas. No século XIX, nasceu em engenho de Cruz do Espírito Santo, o mais destacado poeta paraibano, Augusto dos Anjos, que afirmou em um dos seus mais famosos sonetos, Versos Íntimos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Um pouco mais adiante, no século XX, nasce em Itabira, Minas Gerais, um dos mais cotejados poetas contemporâneos, Carlos Drummond de Andrade, que dentre tantas coisas profundas e belas que escreveu não se conteve ao desabafar que “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra, no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho. Tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra” (No meio do Caminho).
Cresci ouvindo as pessoas dizerem que quando alguém está em dificuldades, está com uma pedra no sapato. Quando duas pessoas não se dão muito bem se constituem uma pedra no caminho da outra. Quando alguém é considerado insensível é porque tem um coração de pedra... Enfim, quem não tem a sua pedra dos significados?
Quando Jesus evitou o apedrejamento daquela mulher que foi denunciada por adultério, que pedras Ele evitou que fossem atiradas sobre ela? A pedra da falsa santidade? A pedra da justiça mascarada? A pedra da censura em favor de interesses escusos? A pedra da falta de misericórdia e amor? A pedra da religiosidade hipócrita? A pedra da supremacia masculina sobre a fragilidade feminina? Afinal de contas, com que tipos de pedras mais lidamos hoje em dia? Quem ainda não esteve sob a mira de muitas destas pedras?
Temo muito que tenhamos involuído tanto, ao ponto de sairmos da era do Homem da Pedra para a era do Homem de Pedra. Que Deus tenha misericórdia de todos nós!   

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