segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

DE QUE NATAL ESTAMOS 

FALANDO, AFINAL?

        Pr. Raul Marques




      Alguma coisa muito estranha está ocorrendo no mundo! Esta talvez seja a expressão mais recorrente nas conversas entre as pessoas no planeta inteiro neste momento... Estamos todos completamente atônitos, perplexos, cheios de dúvidas, de incertezas, de medo e até de pânico! Mas, afinal, o que tem produzido tudo isto? O que mais temíamos há bem pouco tempo era a eclosão de uma guerra fria entre as super potências... Era, quem sabe, a estúpida decisão de crivar os céus com ogivas nucleares que, atravessando o Atlântico, o Ártico, o Pacífico e o Mediterrâneo, dizimassem populações inteiras e varressem povos e etnias definitivamente do Mapa... Vivíamos como se o amor e a solidariedade jamais tivessem existido... No entanto, o que percebemos é que o que mais nos assusta é exatamente aquilo que não vemos: o vírus, o sanguinolento COVID-19! É a coagulação do sangue que ele prefere, depois de atacar todo o aparelho respiratório!

A Bíblia nos ensina há séculos e séculos que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Este presente de Deus é ainda mais relevante porque Ele o fez com o Seu próprio sacrifício: “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (I João 1.7). ELE não tomou o sangue de ninguém, pelo contrário, ELE deu o que era propriamente Seu!

Há mais de dois mil anos o mundo viu nascer o seu Redentor! O nascimento dEle trouxe muita dor: ao coração de Deus, ao corpo de Maria e no desespero de José! Este sim, foi o Natal que trouxe salvação pro mundo! Naquele Natal apenas uma estrela brilhou intensamente no céu. Não havia fogos de artifício e muito menos luzes artificiais! Naquele Natal ninguém se banqueteava; não havia opulência; sequer aquela família tinha um lugar adequado para o nascimento do seu filho... No entanto, ninguém se lamentava, ao contrário, havia pastores pobres nos campos exultando de alegria com os seus rebanhos porque algo sobrenatural estava ocorrendo no mundo...

Pela primeira vez a humanidade está privada de celebrar um Natal que ela jamais aprendeu realmente o seu significado! De que Natal estamos falando, afinal? O Natal dos homens não será possível até que eles ressignifiquem tão profundo acontecimento! Não será possível grandes concentrações humanas para dar vazão às glutonarias, às orgias, aos sacrilégios, às blasfêmias, etc. O mundo está em polvorosa! O vírus letal parou todos os sistemas planetários... Nunca se ouviu tanto “ai meu Deus!” Não vai haver Natal nos moldes humanos... O verdadeiro Natal ganhará novos significados nos corações dos que, temerosos e aturdidos, se voltarem para o céu e, como Bartimeu – que nada conseguia ver! – sintam que Jesus está passando ali por perto e, finalmente, gritem: “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia...” (Lucas 10.47). Uma coisa precisa ser dita, ainda que muitos não creiam: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Romanos 8.35). Eu creio que poderemos viver o verdadeiro Natal, sempre! Deus tenha misericórdia de todos nós!

 

 

 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O COMPLEXO DA CENTÉSIMA OVELHA


Pr. Raul Marques


É notícia recorrente no meio evangélico o fato de ovelhas desgarradas do rebanho virarem turistas da religião. O pior disso tudo é que a ovelha por onde passa dissemina a ideia de ter sido abandonada, completamente largada e, por isso mesmo, está às soltas buscando encontrar um novo aprisco.

O texto de Lucas 15.4-7 revela-nos duas belas imagens que poderão perfeitamente ilustrar e explicar esse fenômeno do comportamento religioso. Primeiro, o evangelista faz arguição à liderança do rebanho: “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?”.

Certamente que nenhum pastor se compraz com o abandono de qualquer de suas ovelhas. É natural que o pastor sinta a falta de qualquer de suas ovelhas no rebanho e seja capaz de “deixar” noventa e nove daquelas cem a fim de alcançar o retorno daquela que está desgarrada. Mas é bastante significativo notar que o texto não deixa qualquer dúvida sobre o estado em que se encontra a centésima ovelha: ela é o arquétipo de um pecador arrependido. Informa-nos o texto: “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15.7).

Infelizmente não é o que costumeiramente vemos ocorrer nos apriscos: arrependimento. Ao contrário, vemos muito orgulho, vergonha, ressentimento, e o que é pior: atribuição de culpa ao pastor que no mais das vezes é o último a saber das causas, sendo sempre o único a tentar minimizar as consequências. Deve o pastor ser bíblico no tratamento das suas ovelhas, mas não poderá jamais compactuar com mimos e vaidades pessoais que levem ao comprometimento de todo o rebanho. Parece-nos que muitos sentem prazer o complexo da centésima ovelha: impactar a vida do pastor e causar desassossego nas noventa e nove que terão que suportar a dureza do deserto... Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós!

 


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 QUANDO O SILÊNCIO 

FALA MAIS ALTO

Pr. Raul Marques



“Mas Jesus permaneceu em silêncio. O sumo sacerdote lhe disse: Exijo que você jure pelo Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, diga-nos Mateus 26.63.
 

Cresci ouvindo este adágio popular: “Quem cala, consente!”. Não creio que isto seja uma verdade absoluta, pois, podemos perfeitamente discordar de alguém ou de alguma coisa sem, contudo, emitirmos qualquer palavra. O silêncio muitas vezes tem o poder de gritar mais alto! “O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis” (Êxodo 14:14).
O manifesto do silencio é, muitas vezes, a mais contundente resposta a indagações carregadas de maldade e de intenções espúrias. Silenciar pode significar abrir espaço para Deus falar por nós! Grandes obras não são feitas com força, mas a perseverança (Samuel Johnson). Indagações maldosas ferem; o silêncio, porém, incomoda muito mais às maldades. O silencio pode ser o nosso maior aliado, dependendo das circunstâncias. Muitas vezes somos espremidos e quase obrigados a dar respostas que não temos ou, de outro modo, a emitir opinião que tão somente colocariam mais fogo no palheiro, se entendidas distorcidamente. Os poetas e pensadores amam o silencio! Os profetas e os sábios também expressaram muito com o silencio. Jesus foi O mestre da palavra e do silencio.

Silenciamos diante de situações duvidosas... Silenciamos para não magoar... Silenciamos em nome da paz... Silenciamos em nome do amor! O silencio tanto pode ser a angústia mais profunda dos culpados, quanto a atitude mais sábia dos inocentes. Pode ser tanto a expressão mais profunda da lisura, quanto a mais lancinante resposta às arguições infundadas. Em tudo deve haver prudência.

Quantas vezes precisei engolir à seco? Quantas vezes senti sapos descerem goela a baixo? Quantas vezes precisei entender os algozes, no meu silencio? Quantas vezes andei a segunda milha em absoluto silencio? Quantas vezes tomei a minha cruz e segui silenciosamente?

Na ordem do cânon bíblico, entre Malaquias e Mateus, há um lapso de tempo entendido por muitos como o silencio de Deus. No capítulo 26 de Mateus, versículo 63 está registrado que, diante de um sacerdote, Jesus preferiu o silencio como resposta à leviandade impetrada contra Ele. Num momento seguinte, diante de Pôncio Pilatos (Mateus 27.13-14), Jesus preferiu silenciar mais uma vez. Mais tarde, diante de Deus-Pai, Todo Poderoso, Fiel e Justo Juiz, Jesus expressou a Sua resposta às acusações do mundo: “Quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19:30). Pode alguém, de hoje em diante, dormir em paz com este barulho?

domingo, 25 de outubro de 2020

                                           ORAÇÕES INÚTEIS...

“Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de madrugada me buscarão, porém não me acharão”       Provérbios 1:28

“Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração” Jeremias 29:12-13.



A Bíblia nos adverte que só há uma maneira de agradar a Deus: com fé! A fé ensinada nas Escrituras pressupõe temor (respeito) à Santidade de Deus; nada tem a ver com super poderes ou com uma suposta aura de santidade, que mais se assemelha a teatro, que a qualquer aspecto puramente espiritual. A prostituição religiosa é a mais absurda e mais aviltante atividade humana em relação à busca da presença de Deus! Não estamos tratando de um pressuposto filosófico; estamos, isto sim, fazendo uma afirmação exclusiva da fé bíblica que desautoriza toda e qualquer atividade cúltica que seja desenvolvida em favor de deuses e Deus, sejam eles quais forem. Por exemplo, temos uma importante citação de João: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo 1 João 2:15-16. 
O cerne do texto é a incompatibilidade entre as concupiscências da CARNE, dos OLHOS e a SOBERBA DA VIDA que, exercitadas, colocam Deus num plano subjacente e de desonra. Quem assim exercita sua “fé” está anulando o seu canal de comunicação com Deus, ainda que, deste modo, a Graça e a Misericórdia de Deus não estejam nulas; conquanto se manifeste o verdadeiro arrependimento.
Creio que mesmo distante de nós, mais de 2.700 anos, Isaías realça profeticamente estes valores trocados que vivenciamos hoje em dia: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos! Ai dos que são poderosos para beber vinho, e homens de poder para misturar bebida forte; Dos que justificam ao ímpio por suborno, e aos justos negam a justiça!” Isaías 5:20-23.
O mandamento mais desrespeitado e desonrado em nossa sociedade moderna é, sem dúvidas, “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”, ainda que traga consigo a advertência de que Ele não terá por inocente aqueles que assim o façam. Como tal, é bem difícil deixar de compreender por que tantos de nós vivem sem respostas de Deus às nossas orações... Ele vela sobre a Sua Palavra para que seja cumprida, de tal modo, que não Se corrompe com emocionalismos e atitudes fantasiosas que buscam esconder o lixo da alma, a falta de escrúpulo e a desonestidade espiritual.
Buscar a Deus e achá-lo é fruto de uma intenção imaculada. Não podemos achá-Lo, jamais, nas densas trevas! É necessário um desejo intenso, profundo e sincero até que O achemos de todo o nosso coração, ou estaremos jogando palavras ao vento, elaborando orações inúteis...

terça-feira, 13 de outubro de 2020

 

COMO AS ESTAÇÕES DO ANO...


Pr. Raul Marques

É incrível como tudo o quanto Deus fez é perfeito! Nada, absolutamente nada, está fora de mutualidade de interação, integração e cooperação. Tudo foi criado com um objetivo muito específico, e por este motivo existe, dentro de uma deliberada interdependência, para que uma parte seja a completude da outra parte, e assim sucessivamente... Vejamos, por exemplo, a imensa semelhança entre a vida individual dos seres humanos e as estações do ano com toda a sua riqueza de conteúdo e circunstância. “Todo mundo já sabe que durante o ano ocorrem quatro estações: Primavera, verão, outono e inverno. As estações do ano acontecem por causa da inclinação da terra em relação ao sol. O movimento do nosso planeta em torno do sol dura um ano. Esse movimento recebe o nome de translação e a sua principal conseqüência é a mudança das estações do ano. Se a Terra não se inclinasse em seu eixo, não existiriam as estações. Cada dia teria 12 horas de luz e 12 horas de escuridão. E como o eixo do planeta terra forma um ângulo com seu plano orbital, existe o verão e o inverno, dias longos e dias curtos. Durante o Verão, os dias amanhecem mais cedo e as noites chegam mais tarde. Ao longo dos três meses desta estação, o sol se volta lentamente para a direção norte e os raios solares diminuem sua inclinação. No início do Outono, os dias e as noites têm a mesma duração: 12 horas. Isso é porque a posição do sol está exatamente na linha do Equador. Porém, o sol, vai continuar se distanciando aparentemente para norte. A partir daí, os raios solares atingem o mínimo de inclinação no início do Inverno, e, ao contrário do Verão, os dias serão mais curtos e as noites mais longas. Então, o Sol vai começar a se deslocar na direção sul. Começando então a Primavera e os dias e as noites terão a mesma duração. Portanto, as estações do ano e a inclinação dos raios solares variam com a mudança da posição da Terra em relação ao Sol. Quando o Pólo Norte se inclina em direção ao Sol, o hemisfério Norte se aquece ao calor do verão. Seis meses mais tarde, a Terra percorreu metade de sua órbita. Agora o Pólo Sul fica em ângulo na posição do Sol. É verão na Austrália e faz frio na América do Norte”. A vida humana também existe em ciclos: na primavera existencial a vida é cheia de flores; os dias não são tão quentes e nem muito frios; há uma enorme manifestação de amor, de produção e de reprodução; no verão, no entanto, um período mais quente é mais comum a busca por lugares frescos, pelos ribeiros de água. Há uma explosão de alegria e nós tendemos a ser mais receptivos; o outono vem com as folhas caindo no chão da nossa existência: são os sonhos que se desfizeram... No inverno, tudo parece muito mais frio; as chuvas são frequentes e há muita rajada de trovão e relâmpago; nós tendemos à reclusão nesta fase...
Em que período você está agora? Qual a estação existencial que você vive agora? Não importa qual delas venha a ser, o importante mesmo é saber se também em você os ciclos existem porque sua vida gira em torno de Jesus, o sol da justiça; e se esse movimento recebe o nome de adoração, as estações vão e vêm, as mudanças surgem e desaparecem, mas o principal permanece: o amor – cheio de muita esperança e fé – pois este, segundo a Bíblia, jamais acaba!

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS...

Pr. Raul Marques





D
esde que nascemos neste mundo Deus nos concede a graça das oportunidades. É certo que não escolhemos a família em que nascemos, não decidimos sobre o lugar onde haveremos de nascer, mas, uma coisa é certa: sendo Ele, Deus, as escolhas que fez foram as mais acertadas. A nós, no entanto, Ele nos dá outras opções de escolhas: que amigos teremos? Em que lugares andaremos? Quais serão as nossas companhias? Devemos crer ou não no que Ele ensinou? Enfim, temos a oportunidade de dar curso à nossa história de vida, escrevendo as cenas dos próximos capítulos...
A nossa história pode ser escrita de maneiras as mais distintas. O viés que escolhermos será determinante no final da contas... Muitos são fatalistas, deterministas, fundamentalistas, e crêem que nada mais há que se fazer, pois Deus já escreveu como seriam todas as coisas, inclusive a nossa história. Mas, afinal de contas, Deus criou homens ou robôs? Criou seres com sensibilidade, sentimento e poder de volição ou, simplesmente autômatos que seguem um script que não pode mais ser mudado? Então, para que servem as orações e as intercessões? Então, que responsabilidade tem o homem sobre os seus próprios atos? De que crime ele pode ser culpado se não pode decidir nada sobre os seus atos?
Bom, dito isto, quero lembrar-lhes que estamos próximos de mais um ano em nossas vidas, e este é um novo tempo dado por Deus para que saibamos continuar escrevendo a nossa história a partir das tintas que Ele mesmo nos tem presenteado. Não adianta lamentar o dia de ontem, pois ele é página virada. Não se pode trazer o passado de volta. Tão pouco se pode antecipar o futuro. A vida pulsa agora.
Deus está nos presenteando com mais uma chance de fazer as coisas acontecerem de forma diferente. A paz com que tanto sonhamos não começa na Faixa de Gaza; começa em mim! Os erros que cometemos no passado não devemos mais repeti-los. Os nossos acertos devem servir de exemplos a serem aperfeiçoados.
Mais um ano está chegando ao fim... Quando olho para trás vejo apenas o que deveria ter feito diferente para que nada desse errado. Agora eu posso fazer tudo, menos tropeçar na mesma pedra! Quantas lágrimas chorei e que me valeram muito a pena? Mas, quantas vezes eu tive que chorar amarga e inutilmente? Quantas alegrias me trouxeram até este momento? Quantas pessoas se tornaram definitivamente importantes na minha história? Para quantas outras eu precisei pedir forças a Deus para não odiá-las? Essas dores nos fazem mais maduros e mais inteligentes para futuras escolhas.
O Ano Novo está às portas. Eu desejo aproveitar melhor os espaços e as oportunidades que Deus me tem reservado, de modo que eu não tenha que culpar ninguém, nem a mim mesmo, pois quero viver a intensidade de um dia de cada vez, tendo assimilado muito mais profundamente o que nos ensinou o nosso Salvador, Jesus Cristo: “Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal” Mateus 6.34.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

 EU TENHO MEDO...

Pr. Raul Marques





          Quando criança eu tinha muitos medos! Medo das muitas águas; do escuro intenso; das portas fechadas com trancas; do “lobisomem”; do “velho do saco”; da “bruxa malvada”; enfim... Na medida em que fui crescendo outros medos foram sendo acrescentados: medo de matemática; medo das confusões e das multidões; medo de ser chamado ao quadro negro, etc. A grande maioria deles foi superada pela razão e pela maturidade; outros, no entanto...
           O medo é um sentimento profundamente complexo como a nossa própria existência! Ele é bom, enquanto sinal de alerta, e mal, se se tornar patológico. Ao longo da nossa vida outros medos vão se associando à caminhada e vão nos mostrando mais nítidas certas obscuridades... Eles nos ajudam na nossa proteção pessoal, ao mesmo tempo em que podem proteger as outras pessoas de nós...
           O medo não pode ser considerado um ato de covardia quando servir de motivação para o exílio contra as forças da impiedade! Ele pode, perfeitamente, se constituir no canal mais legítimo a nos levar aos “getsêmanis” em busca de paz.
Eu tenho medo do “homem”! Não é sem motivo que a Bíblia vaticina: “Maldito o homem que confia no homem, que faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17. 5). Eu tenho medo dos “falsos irmãos”, de quem o apóstolo Paulo fez menção (II Cor 11.26). O apóstolo teve tanto receio deste aspecto que, angustiado, foi além: “agora vos escrevo para que não vos associeis com qualquer pessoa que, afirmando-se irmão, for imoral ou ganancioso, idólatra ou caluniador, embriagado ou estelionatário. Com pessoas assim não deveis, sequer, sentar-se para uma refeição” (I Coríntios 5.11).
        Tenho medo do que Jesus profetizou sobre esses fatos difíceis: “Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” Mateus 24.10-12. Tenho medo que as decepções resultem em apatia ou, ainda pior, em antipatia às atividades do exercício da fraternidade legítima, sobretudo, quando ouço a voz do Mestre a ressoar: “Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” Lucas 18:8b.

     Tenho encontrado tanta gente ferida, enganada, desiludida e frágil com as deformadas relações cristãs, que falta-me o fôlego... Conheço líderes abandonados do mesmo modo como conheço ovelhas nanicas e desnutridas clamando por amor e acolhimento. Tenho medo do tempo em que vivo. Por isto, Senhor, tem misericórdia de todos nós! Tenho saudades dos medos de quando criança... Já não sinto aquele medo ingênuo do escuro da noite; tenho medo, muito medo, das densas trevas da mente e coração humanos... 

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 

VENDAVAIS...

Pr. Raul Marques

Vendavais são perturbações marcantes no estado normal da atmosfera. Deslocamento violento de uma massa de ar, de uma área de alta pressão para outra de baixa pressão. Os vendavais, também chamados de ventos muito duros, correspondem ao número 10 na escala de Beaufort, compreendendo ventos cujas velocidades variam entre 88,0 a 102,0 km/h. Os ventos com velocidades maiores recebem denominações específicas: 103,0 a 119,0 km/h ciclone extratropical; acima de 120,0 km/h ciclone tropical, furacão ou tufão. O vendaval é fenômeno físico da natureza. Não obstante, existem também os vendavais existenciais, e esses são próprios da natureza humana. Como aqueles, estes também são perturbações marcantes no estado normal dos indivíduos. São violentos deslocamentos de forças da insensatez direcionados contra a racionalidade, visando a perturbação e a inquietação da alma. Os vendavais existenciais também são organizados em escala de gravidade, e a sua velocidade suprema é a força motivadora das angústias que levam ao suicídio. É o ápice do desvario e da loucura. É um ato de suprema possessão do mal. Os vendavais existenciais podem ter início em pequenos insucessos; em detalhes de ciúmes não percebidos; na inveja; na covardia; na traição; na frustração; nos sonhos irrealizados; enfim, no acolhimento do lixo do pecado se avolumando em pequenos cestos... Os vendavais existenciais sacodem as nossas vidas, revolvem os nossos sentimentos, desorganizam pensamentos, apagam as nossas aspirações e minam as nossas esperanças. Os ventos tempestuosos são forças contrárias que planejam nos arremessar contra as rochas em meio a um mar bravio. Eles sempre ocorrem quando o tempo se fecha completamente absorvido pelas trevas. É aí que reside a nossa extrema necessidade da companhia de Jesus. Aquele que conhece plenamente o poder destruidor das tempestades, é o único que pode sempre nos socorrer na hora da angústia. No mar da vida nunca poderemos prescindir da presença de Jesus no barco da nossa existência. É bastante lembrarmos a passagem de Lucas 8.22-25, onde encontramos o questionamento dos discípulos de Jesus: “Quem é este que até aos ventos e às ondas repreende, e lhe obedecem?”. Se as forças da natureza se rendem à voz de Jesus Cristo, porque é tão difícil à natureza humana quedar-se diante dele em meio às tempestades existenciais? Creio que o melhor da vida só nos ocorrerá quando tomarmos a decisão de “passar para a outra margem” no mesmo barco em que Jesus está: o barco da Salvação. Não há vendaval que resista ao poder de Deus. Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós!


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Quando a Igreja faz sentido

Pr. Raul Marques


O neoliberalismo e o capitalismo selvagem instalados no mundo atual, sobretudo nos países do Terceiro Mundo, e mais especificamente na América Latina onde nós estamos inseridos, têm afetado as famílias e as instituições na nossa sociedade de forma brutal e desconcertante, trazendo incontáveis prejuízos morais, sociais, psicológicos e espirituais sem precedentes. As mazelas advindas da descaracterização da família são responsáveis pelo desmoronamento da fé necessária e sadia, e da impotência da Igreja diante do caos social manifesto através das sandices culturais escondidas atrás da cortina da chamada modernidade. Afinal de contas, de que mais se ressente a Igreja atual? De que mal está acometida a Igreja hoje? Certamente que estas questões só podem ser respondidas a contento à luz do verdadeiro e único manual de conduta e postura cristãs, a Bíblia Sagrada.
O livro de Atos dos Apóstolos (ou Atos do Espírito Santo através dos apóstolos) nos dá a dimensão exata de como uma sociedade passa a fazer sentido através da compreensão das ações de Deus na vida humana. Após sete semanas da ressurreição de Jesus Cristo ocorreu o Pentecostes. Muitos que haviam se maravilhado com os milagres de Jesus, e muitos dos que haviam se comprometido com o Seu plano de mudança de vida, já se tinham dispersado por medo ou por pura incredulidade. Mas, alguns ainda se mantinham unidos à espera de que se concretizassem as promessas do mestre Galileu. O mundo da época era semelhante ao nosso: muito pecado, rebeldia, distanciamento dos padrões da fé, escravidão política, queda moral, caos social, etc. Todos ansiavam por mudanças, mas ninguém queria começar por si mesmo; alguma coisa teria que cair do céu... E, como toda resposta às nossas inquietações só pode vir de cima, Deus agiu trazendo a elucidação dos fatos através de Pedro, naquilo que o Espírito Santo já havia prometido ao profeta Joel, cerca de 820 a.C, fazendo com que as pessoas se voltassem para o verdadeiro sentido de vida comunitária através da experiência da fé e da transformação de seus pensamentos.
Depois da manifestação sobrenatural de Deus e da perplexidade dos discípulos, que logo instigaram multidões que indagavam sobre o que estava acontecendo, veio o sopro do Espírito Santo sobre todos eles trazendo unidade, fé, esperança e significado de vida verdadeira. Foi assim que Lucas viu e registrou através destas palavras: “
Regularmente eles adoravam juntos no templo todos os dias, reuniam-se em grupos pequenos nas casas para a Comunhão, e participavam das suas refeições com grande alegria e gratidão, louvando a Deus. A cidade inteira tinha simpatia por eles, e cada dia o próprio Senhor acrescentava à igreja todos os que estavam sendo salvos” Atos 2.46-47. Neste exato instante a comunidade da esperança começou a fazer sentido. A vida pessoal começou a ter significado. A fé começou a operar mudanças: todos agora tinham desejo e alegria de estarem juntos todos os dias; faziam questão de compartilhar as refeições; estavam juntos e comprometidos com Deus através da oração e da comunhão. Todos estes fatos fizeram com que a cidade inteira simpatizasse e se mostrasse interessada na verdadeira igreja que se formava em toda a sua pujança e plenitude. Somente assim faz sentido ser Igreja. Somente assim Deus se agradará de nós!