DISCIPLINA: "Não por força, mas pelo Espírito!"
Pr. Raul Marques
Eu logo aprendi
desde que me converti que a vida cristã deve ser vivida à base do AMOR. Não
daquele sentimento piegas através do qual a grande maioria tenta passar a ideia
fantasiosa e malfadada de que "amor é tapinha nas costas" ou
"aperto de mão", ou ainda, através da vazia verbalização de jargões
da cultura dita "evangélica", que mais separam uns de outros do que
promovem a verdadeira comunhão dos santos em Cristo.
Já ouvi algumas
dezenas de vezes os fariseus externando suas opiniões - destilando o seu
próprio veneno - sobre a leveza e candura com que trato os que, por qualquer
infelicidade, se encontram atolados na areia movediça do pecado... Felizmente,
não é por eles que baseio a minha fé e as minhas atitudes; como alguém que é
também absolutamente dependente da GRAÇA DE DEUS, coloco os meus olhos e
coração na direção do Mestre, Jesus Cristo.
A disciplina não
tem por objetivo a execração e a humilhação das pessoas, pois este fardo o
próprio pecado já lhes impõe. Ao contrário, ela busca corrigir, edificar,
conscientizar e restaurar através, exclusivamente, do AMOR.
Vejamos, por
exemplo, o caso particular de Pedro. Temperamento explosivo, cheio de atitudes
impulsivas, apressado nas decisões e quase sempre sem a menor consciência
delas. Mesmo tendo ciência de toda esta problemática comportamental de Pedro,
Jesus não hesitou em chamá-lo para seguir na caminhada. Pedro demonstrou em
diversas ocasiões um completo despreparo para lidar nos relacionamentos
interpessoais e, sobretudo, nos relacionamentos com Jesus. Não obstante, o
Mestre continuava junto dele tratando a sua mente e coração, preparando-o para
situações futuras que iriam requerer dele perspicácia, sabedoria e, claro, AMOR.
Muito próximo do
retorno de Jesus para junto do Pai, após a sua ressurreição, Ele chamou a Pedro
e, didaticamente, colocou-lhe sob disciplina, usando o método seguinte:
- Simão, filho de
João, você me ama mais do que a estes? Disse ele:
"Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Disse-lhe
Jesus: "Cuide dos meus cordeiros!".
Novamente Jesus
lhe disse: "Simão, filho de João, você me ama?". Ele
respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo!". Disse-lhe
Jesus: "Pastoreie as minhas ovelhas!". Pela terceira vez, Ele lhe disse:
"Simão, filho de João, você me ama?". Pedro
ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez "Você me ama?", e lhe
disse: "Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que eu te amo!". Disse-lhe
Jesus: "Cuide das minhas ovelhas!" (João 21.15-17).
Jesus recomendou
a Pedro que CUIDASSE dos Seus "cordeiros" e fizesse
o pastoreio das Suas "ovelhas", isto é, o Mestre estava confiando ao Seu discípulo o mesmo AMOR
que lhe dedicara.
A grande maioria,
por ter um histórico de vida permeado de "castigos" domésticos,
escolares e sociais, acredita que a verdadeira disciplina é aquela que machuca,
que produz marcas físicas e psicológicas. Jesus, ao contrário, mostra-nos que,
1) Só amamos porque primeiro fomos amados; 2) Só perdoamos porque fomos
perdoados; 3) Só somos restaurados porque Ele nos resgatou das trevas para a
Sua maravilhosa Luz. A grande lição de disciplina para nós pecadores é o
confronto entre nós e a nossa malignidade; é o olhar dentro dos nossos próprios
olhos e descobrirmos conscientemente as marcas danosas que ela produz; é, por
fim, amarmo-nos a nós mesmos para que sejamos capazes de produzir o amor
compassivo, compreensivo, sem interesses escusos, semente produzida pelo fruto
do AMOR DE DEUS, da Videira Verdadeira.
Não posso e não
devo cuidar dos outros, senão do mesmo modo como o meu Senhor tem cuidado de
mim: com o mais puro AMOR! A violência espiritual é a mais ridícula de todas as
torturas! Quem não tem pecados ou precisa de restauração, que atire a primeira
pedra. Antes, porém, "ouça o que o Espírito diz às Igrejas" - “Não por força e nem
por violência, mas pelo Espírito!” (Zacarias 4.6).