quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O EVANGELHO PERVERTIDO...

Pr. Raul Marques

“Admiro-me que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo” Gálatas 1.6-7


E
stou convencido de que, definitivamente, o trem da igreja verdadeira descarrilou e precisa do socorro daquEle que o construiu. Estamos sendo engodados há tempos pela inserção de amarras institucionais e burocráticas, culpadas pelo estado de desiquilíbrio moral e espiritual da igreja-empresa que o mundo impôs, planejada não para o alcance mais célere da humanidade caída, mas, para a sustentação de falsos profetas, dos que se imaginam apóstolos e não são, dos que viram neste “outro evangelho” a fatídica “galinha dos ovos de ouro”. Que vergonha!
A cada novo dia se consolida em meu coração a convicção de que, Jesus não teve, nem de longe, a intenção de criar “Organizações”, mas, “organismos vivos que pudessem se reproduzir pela condição saudável de cada parte; sólidos, como um edifício construído com as medidas certas e materiais apropriados, com tijolos colocados um a um formando uma unidade compacta e segura! Ele criou uma noiva pura e sensível às aspirações do noivo, não uma prostituta rendida às volúpias do “quem-der-mais”. Jesus Cristo criou a igreja e vaticinou que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Não obstante, os homens começaram a “construir puxadinhos, anexos e espaços contíguos, que tornaram a leveza da ideia inicial do Mestre numa pesada estrutura, sobrecarregada pelo instituto de corporações, associações, convenções e congêneres, que implicaram drasticamente no aparecimento ou ressurgimento de algumas anomalias:
- ANALFABETISMO BÍBLICO – antes, graças à inoperância da igreja romana que fazia opção pela burguesia e pela estrutura clerical, alijando as multidões dos acessos ao conhecimento, agora renasce em decorrência da multiplicidade de agências religiosas do entretenimento, do ativismo e da manutenção das pessoas ligadas às programações, promessas de bem-estar, do triunfalismo e da hipnotizante busca pela prosperidade;
- IDOLATRIA – aquilo que era compreendido desde o “bezerro de ouro”, agora ganha formas humanas através dos tele-ícones, dos que apregoam poder pelos anéis que ostentam, pela suntuosidade dos ambientes cúlticos, pelas exposições de objetos-amuletos, pela capacitação científica dos doutorados e pós-doutorados, pelo trânsito livre pelas mais diversas castas ou extratos sociais, pelas ações sociais que escondem atrás de si as associações políticas, praticas seculares espúrias, etc.;
- MERCANTILISMO – aquilo que, biblicamente, é compreendido como um chamado de Deus dá lugar às habilidades de gestores administrativo-financeiros, e passa a ser disputado como emprego cujos pretendentes precisam mostrar currículos operosos, boa aparência e profundo carisma para falar e gesticular, assim como os atores o fazem em grandes espetáculos...
- CORPORATIVISMO – o foco deixou de ser “os que se perdem”, embora seja importante que eles venham. O que se tornou maior foi a capacidade de manter a estrutura de manutenção do poder! Não se substituem democraticamente as pessoas nas organizações, apenas se revezam na dança das cadeiras enquanto se mantém as plateias nas arquibancadas e nas gerais em êxtase religioso, tal como se vêm nos estádios de futebol: gente oprimida e sufocada que extravasa as suas dores e frustrações na hora do gol... O império religioso está montado, enquanto a igreja do Senhor, ingênua e pobre, segue silente pelos subterrâneos do mundo, crescendo, a despeito de tudo e de todos na superfície da terra, levada pelo sopro do Espírito de Deus. Penso que o Senhor estará levantando outra vez um exército de ossos secos para a recomposição do seu povo!
O verdadeiro Evangelho não mudou; os homens também não mudaram... Aquele, permanece perfeito; estes, permanecem pecadores e rebeldes, pois, “não há uma só pessoa que entenda, ninguém que de fato busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que pratique o bem, não existe uma só pessoa. Suas gargantas são como um túmulo aberto; usam suas línguas para ludibriar, enquanto, debaixo dos seus lábios está o veneno da serpente” Romanos 3.11-13.
Em tempos de evangelho adulterado, é bom que ouçamos novamente a voz dos mártires, a exemplo de Estevam: “Ao ouvir tais palavras, grandemente se lhes enfureceu o coração e rilhavam os dentes contra Estevão. Contudo, Estevão, cheio do Espírito Santo, ergueu seus olhos em direção ao céu e contemplou a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus, e exclamou: ‘Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direita de Deus!’. Então, eles taparam os ouvidos e, aos berros, atiraram-se todos juntos contra ele. E arrastando-o para fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas roupas aos pés de um jovem chamado Saulo. Assim, enquanto apedrejavam Estevão, este declarava em oração: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito!” Então caiu de joelhos e clamou em alta voz: “Senhor, não lhes atribuas este pecado!” E, tendo dito estas palavras, adormeceu” Atos 7.54-60.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

FRENTE E VERSO DO BORDADO EXISTENCIAL!
Pr. Raul Marques
Q

uase nunca prestamos atenção na parte de trás de um bordado. À primeira vista toda tela é impecável! Invariavelmente, somos tentados a concluir que todo livro que traz uma boa capa é um excelente livro... Até declaramos poética e equivocadamente que “aquilo que os olhos não vêm, o coração não sente...”.
Lembro-me, perfeitamente, que em anos já distantes, vi muitas vezes mulheres esmeradas cuidando de bordados elaborados em um tecido esticado à base de duas argolas de madeira, com agulha e linhas de diversas cores, num entra e sai repetitivo que findava por trazer à vista belíssimas decorações e desenhos os mais variados e profundamente complexos! É tudo mais ou menos semelhante a um edifício concluído e irretocavelmente bem acabado, que não deixa à mostra vigas com excesso de cimento, pontas de ferro, arames, pedaços de gesso, fios e tubulações tão feias, porém, tão calculadamente postos...
  Ao recordar-me daqueles bordados, lembrei-me de pronto, que eles sempre tinham o avesso muito enfeado por um emaranhado de linhas que não mostravam quase nenhuma conexão e muito menos beleza... O verso do bordado era, por assim dizer, desprezível! Tinha razão, portanto, o filósofo Platão ao afirmar que nada do que vemos é real, apenas a sombra ou a aparência retratada do modo ideal.
Há um adágio popular que afirma: “Nem tudo o que reluz é ouro!”. Quem jamais ousou afirmar, por exemplo, que a Mona Lisa sorri de satisfação ou timidez? Qualquer conclusão é meramente especulativa e pessoal. Por trás daquela expressão há um enigmático sentimento; da modelo ou do artista...
Há tanta gente que se parece com este protótipo! Muitos de nós têm tentado viver para vender uma imagem instigante de si mesmos quando, na verdade, o esforço maior é o de esconder o emaranhado de linhas desconexas do bordado existencial! A policromia dos carretéis é gasta na tentativa de melhorar a avaliação externa do bordado do caráter; a agulha que atravessa o tecido da personalidade não consegue esconder os nós e pedaços de linha que interrompem a tessitura do bordado...
Na Bíblia, pela boca de Jesus, encontramos uma similaridade deste quadro: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia” Mateus 23:27. Nunca devemos avaliar as pessoas e as situações, simplesmente pelas partes exteriores, senão correremos sempre o risco de deixar de ver o que está por dentro ou por trás... Tem misericórdia de nós, Senhor, e cuida do bordado da nossa existência!