domingo, 18 de dezembro de 2016

O BOM PASTOR...
Pr. Raul Marques
 “Eu Sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e sou conhecido por elas...” João 10.14


N
ão há situação mais prazerosa e mais reconfortante do que ser reconhecido como quem você realmente é; nem mais, nem menos. É muito agradável conhecer pessoas e, igualmente bom, é dar-se a conhecer por elas. Eu penso que Jesus tinha isto em mente quando, enquanto humano, conheceu o universo dos humanos ao mesmo tempo em que se deu a conhecer por ele. Viu de perto as suas fraquezas e as suas virtudes ao mesmo tempo em que lhes mostrou suas dores mais profundas, a solidão, a angústia e até o seu limite: passa de mim este cálice...”.
Jesus ensinou que devemos amar as pessoas do início ao fim da nossa jornada, conforme demonstrou em João 13. Isto não é fácil e nem é simples, pois, requer abnegação, renúncia do ego, consideração pelas fraquezas do outro, e, sobretudo, um conhecimento maduro e compatível de si mesmo.
Lembro-me agora de um poema que escrevi quando tinha mais ou menos dezoito anos onde, tomado pelo sentimento da dureza da existência humana, expus: eu muitas vezes quero ser um bicho pra pelo menos ir viver em paz.... A humanidade é, ao mesmo tempo, linda e dramática; singela e complexa; necessária e deletéria! Somente agora, na idade madura, torna-se possível mensurar o que tantas vezes ouvi dos mais velhos quando em criança: É mais fácil criar galinhas que lidar com gente!”.
A responsabilidade pastoral muitas vezes se confunde com a incumbência paistoral – um neologismo agridoce... Quem se nega a disciplinar e repreender seu filho não o ama; quem o ama de fato não hesita em corrigi-lo Pv. 13.24. Ocorre que nem sempre é possível corrigir uma ovelha como a um filho... Há filhos dóceis e ovelhas indomáveis.
Quando o Senhor Jesus afirmou: Eu conheço as minhas ovelhas, Ele sabia perfeitamente do que estava falando – Tu formaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe Salmos 139.13. Quando, porém, disse: e sou por elas conhecido, estava evidenciando muito mais sobre a Sua capacidade de se deixar conhecer do que da sinceridade dos que poderiam tê-lo conhecido melhor e mais adequadamente. Porventura, não é esta uma descrição assemelhada entre as pessoas da igreja e o pastor? Este tem a obrigação de conhecer e tratar as feridas e as insanidades daquelas; aquelas, quase sempre, nunca sabem discernir quando ele padece ou carece da compreensão, da sensatez e do abraço...
Realmente, jamais poderia ter sido formado do pó aquele que levaria sobre si os pecados do mundo... Era preciso ter nascido por obra do Espírito Santo! O coração pastoral tem mais de materno do que de si mesmo. Ser pastor não é uma escolha nossa, pessoal, antes pelo contrário, é obra exclusiva de Deus: é chamado, do qual não se pode arredar e discrepar. Ser pastor é viver uma luta diária e renhida contra a sua natureza do άνθρωπος (homem).
Dá-nos forças, Senhor, para que sejamos semelhança do teu Filho, Jesus Cristo, e não nos cansarmos de amar até o fim; para que saibamos conhecer as ovelhas que nos tem confiado e para que sejamos por elas conhecidos. Dá-nos sempre a mesma força da humildade e mansidão dadas ao Teu Santo Filho que, imerso no mais agudo da dor da traição e da incompreensão, clamou: Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem!. Dá-nos a alegria e a dignidade de nos sentirmos como Jesus ao ouvir de Ti: Este é o meu Filho muito amado, em quem eu tenho prazer!. Livra-nos do desejo de vingança, pois ela a Ti pertence. Livra-nos de devolver as pedras lançadas. Dá-nos o gozo permanente de simplesmente saber introjetar a Tua promessa: Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos sobremaneira, pois é esplêndida a vossa recompensa nos céus; porque assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós Mateus 5.11-12.     

sábado, 10 de dezembro de 2016

ALCANÇADO PELA GRAÇA 

DO NATAL DIÁRIO


Pr. Raul Marques

Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus”  
1 Tessalonicenses 5:18


T
udo na história da salvação é profundamente impressionante! As profecias anunciadas com séculos de antecedência, os detalhes minuciosos sobre como ocorreriam, as características de tempo, geografia, política, fatos sociológicos, materialidade, enfim, tudo conspira perfeitamente para a realidade da transcendência de Deus: Isaías 55.8,9: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos. Meus caminhos não são os vossos caminhos, pois assim como os céus são mais altos que a terra, meus caminhos são mais altos que os vossos e meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos”, no mundo imanente dos homens: Atos 17.25, 28:Deus dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas [...] N’Ele nos movemos, vivemos e existimos.”
O natal de Jesus Cristo nos inspira a lembrar e refletir sobre os infindáveis aspectos e influências que revela sobre as nossas próprias vidas. Considerando que o Espírito Santo inspirou a Davi para nos deixar o legado desta profunda e indescritível realidade, é-nos oportuno lembrar: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existirSalmos 139:13-16. Com o coração aí, percebamos o quanto somos alcançados pela graça do natal diário!
Eu poderia ter sido abortado, porém Deus, em Sua infinita misericórdia, decidiu formar-me completamente. À Ele a minha eterna gratidão, pois, havendo derramado amor sobre os meus pais deu-lhes também condições para criar-me, educar-me e repassar-me o seu caráter afetivo, familiar, seus valores de humildade, dignidade, simplicidade e dependência de Deus!
Eu poderia ter sucumbido nos becos escuros e sombrios desta vida, mas, a piedade e a bondade de Deus me encaminharam para espaços iluminados, através dos quais eu pudesse ver os carentes de amor, de justiça, de dignidade e de assistência através da fé e do temor postos em meu coração.
Eu poderia ter despedaçado a minha vida, quando em momentos de infortúnio e de beligerância, fui posto diante de caminhos através dos quais eu pudesse dirigir os meus passos ou cair um palmo adiante, mas, eu prossegui...
Eu poderia ter cedido às tentações de suprimir o amor e o perdão àqueles que me alvejaram quase mortalmente, mas, a graça de Deus me encheu de forças para não acolher ódio ou alimentar vingança em meu coração, e continuar, ainda que com passos trôpegos, até chegar aos pastos verdejantes...
Eu poderia ter desistido dos meus sonhos em meio aos pesadelos, contudo, o Espírito do Senhor não permitiu que eu vislumbrasse a extensão do vale dos ossos secos, mas, ao contrário, concentrasse a minha atenção na possibilidade do milagre da ressurreição de cada esqueleto...
Eu poderia ter dado cabo à minha vida quando injusta, cruel e covardemente me atingiram com tramas diabólicas, ensejando que eu fosse acometido por males físicos e psicológicos que me roubariam anos inteiros de alegrias. Entretanto, o Senhor de toda a graça, tratou-me com amor e paciência, fortalecendo ainda mais a minha fé, a minha casa, os meus dons, os verdadeiros amigos, irmãos e parceiros de caminhada. Ele sempre fez como prometeu!
É com gratidão ao Senhor Jesus que celebro a graça do natal diariamente! É com esta expectativa e foco que “elevo os meus olhos para o monte. De onde me virá o meu socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terraSalmos 121.1. Por estes e outros inúmeros motivos, celebro a cada dia um natal centrado em Jesus Cristo, no Seu amor e na Sua maravilhosa Graça!    

sábado, 8 de outubro de 2016

Correndo atrás do vento...
Pr. Raul Marques


“Tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec. 2.17)


P
ara Salomão, “correr atrás do vento”, significa tentar   desesperadamente abraçar, sem jamais conseguir, a coisa buscada. Ele retrata a caça, exclusivamente humana, das conquistas sem a dependência do Criador. Ele vai, finalmente, se dar conta deste drama abissal no seu filosófico e amargurado fim de discurso... Este é, de fato, um filme triste, porém verdadeiro e desafiador, da insensatez e da insensibilidade humanas, encarado por um rei, sábio, rico e destemido, que não vê saída para a sua finitude e bate de cara contra o muro de sua própria existência.
Ao longo da vida ele busca presentear-se e regalar-se de todas as formas possíveis, sempre prestando contas apenas a si mesmo, como se nada, jamais, tivesse fim. Ele se exalta, se estima, e se percebe auto-suficiente, capaz de se encastelar e afrontar a dor e a amargura da existência, mas, não vai muito longe... Ele entende, ao fim de cada reflexão, que tudo vale a pena circunstancialmente. Ele percebe a efemeridade de sua vida antes do passo seguinte. O rei percebe, afinal, que o seu reinado não era bem aquilo que supunha; que o seu poder não era ilimitado; que os seus recursos não lhe bastariam sempre; que a sua saúde e virilidade não eram tão constantes; que os seus súditos não seriam fieis indeterminadamente; que a sua família não seria tão politicamente perfeita e nem socialmente tão aconselhável! O pensador se dá conta de que existe vida para além das palavras; que a beleza é relativa; que o vigor tem limite e é marcado pelo tempo; que as festas e regalos são paradoxais; que nunca ninguém estará sempre com a razão; que nada é de todo imprestável e que tudo, absolutamente “tudo é vaidade e correr atrás do vento”.
Que grande tolice é pensar que nos bastamos a nós mesmos! Quão ingênuos somos nós quando pensamos ser aquilo que, talvez, nunca venhamos a ser! Quão rotativa é a cadeira do carrossel da vida, na qual nos sentamos com a enganosa sensação de que, jamais, ocorrerão enguiços... O mesmo rei que pensara ter conquistado tanto, conclui que ele em nada difere daquele que nada possui; o fim de ambos é o mesmo... Ele trabalhou, desafiou, contendeu, construiu, ajuntou riquezas, ganhou fama, contudo, não pode conter a frustração de que, no máximo, deixaria tudo para quem lhe sucedesse, à quem a vida lhe poria em condições absolutamente iguais: finitude, dependência e suscetibilidade.
Nada hoje é diferente! Tudo continua igual desde sempre! Por que ajuntamos tanto? Por que consumimos tanto? Por que lutamos tanto para parecer diferentes dos outros bilhões de iguais? Qual o motivo pelo qual poucos têm tanto e muitos nada têm? Qual a necessidade de se possuir diversas moradias se muitos sequer conseguem um banco de praça para repousar em paz? Por que, afinal, famílias se regozijam em possuir a mais rica lápide dos cemitérios? Qual a diferença entre o câncer no fígado do bilionário e do mais pobre dos homens da terra? Que diferença haverá entre o caviar e o feijão com gorgulho, se ambos apodrecerão ao final do ciclo? Qual a diferença entre o analfabeto e aquele que encheu o mundo de livros com suas ideias e pensamentos, se ambos, inexoravelmente, perecerão no esquecimento? Finalmente, com um misto de tristeza e relaxamento, o pensador conclui: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal” Eclesiastes 12:13,14. Pensemos nisto! Vamos parar de correr, ajuntar e tentar merecer o bem que eventualmente possamos receber na terra dos viventes, a despeito de todos os outros que vão ficando à margem do caminho por onde passamos, pois, afinal, “tudo é vaidade e correr atrás do vento!”. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

REFUGIADOS...
Pr. Raul Marques


36 muitos enfrentaram zombarias e torturas, outros ainda foram acorrentados e jogados aos cárceres; 37 apedrejados, serrados ao meio, tentados, mortos ao fio da espada. Andaram sem rumo, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, angustiados e maltratados. 38 Caminharam como refugiados, vagando pelos desertos e montes, pelas cavernas e buracos na terra. Pessoas das quais o mundo não foi digno! 39 Ora, todos esses, apesar de haverem sido aprovados por Deus por meio da fé, não presenciaram a concretização do que Ele havia prometido; 40 tendo em vista que Deus havia providenciado algo ainda mais excelente para nós, a fim de que juntamente conosco pudessem ser eles também aperfeiçoados. (Hebreus 11-KJA ) 


Li recentemente alguns artigos estarrecedores! Aliás, a bem da verdade, não se pode pretender ler, ver ou ouvir outras coisas senão estas em um mundo que, segunda as Escrituras, “jaz no maligno”. O primeiro deles traz uma estatística de que “65,3 milhões de refugiados e deslocados (são) obrigados a deixar suas casas ou seus países de origem em consequência de guerras ou como vítimas de perseguições, (anunciou a agência da ONU para os refugiados). Muitos saíram de condições deploráveis para enfrentarem no caminho muros, xenofobia e leis mais estritas contra a imigração”. Este número supera o da população do Reino Unido.
O segundo artigo, não menos doloroso, dá conta de que “94% (alguns dizem 86%) dos jovens evangélicos saem das igrejas para nunca mais voltar. Só isso já comprometeria, em termos aritméticos, a próxima geração de evangélicos. As razões alegadas são as mais diversas possíveis, e boa parte delas se deve ao assédio das atrações “do mundo”, às novas conquistas intelectuais que esvaziam a noção do sagrado, e o secularismo exacerbado de nossos dias”. Estes seriam os que “fogem” das igrejas e se amoldam aos modismos culturais e/ou cientificismos utópicos.
O terceiro artigo, finalmente, “Segundo o Instituto Schaeffer, 70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, e 72% dizem que só estudam a Bíblia, quando estão preparando sermões. A pesquisa mostrou que 80% acreditam que o ministério pastoral tem afetado negativamente as suas famílias, e 70% deles acreditam que não tem um amigo próximo. A expectativa, conforme o relatório do estudo feito pelo Instituto Schaeffer, é de que 80% dos atuais seminaristas vão deixar o ministério apenas 5 anos depois de formados”.
Há uma gama de deformidades nas relações humanas nos últimos tempos e, claro, isto tem afetado a relação do homem com Deus. Aliás, a inversão da ordem dos fatos é ainda mais verdadeira e elucidativa: o humano sem o divino não se sustém; muito menos a aparência de proximidade com o divino não resolve os problemas mais profundos da humanidade; o fato é invisível, é interior, é transcendente. Vivemos, portanto, numa geração inteira de refugiados! Ao tentarmos fugir de nós mesmos nos revelamos fugindo de Deus. Os refugiados das guerras e das perseguições religiosas, políticas e étnicas, sofrem porque viverão como nômades, expatriados, humilhados e excluídos dos direitos mais elementares à vida. Os refugiados da fé sofrerão a deturpação do caráter e a dor da auto-acusação por fingirem desconhecer o óbvio na busca da aceitação nos grupos sociais onde supõem viver a liberdade. Os refugiados da Vida – os suicidas - buscam, em última instância, a intensidade da última dor, da fuga do desassossego, dos insucessos, o alívio do peso das cobranças, da ausência dos verdadeiros amigos, da falta de amparo num ombro fraterno...

Como seria maravilhoso se tudo isto fosse apenas e tão somente uma ficção! Perdoa-nos, Senhor, por nossa imensa fraqueza humana e debilidade da fé! Ajuda-nos a entender, e mais que isto, vivenciar aquilo que o salmista expressou: “O SENHOR é o meu penhasco e minha fortaleza, quem me liberta é o meu Deus. Nele me abrigo; meu rochedo, meu escudo e o poder que me salva, minha torre forte e meu refúgio” (Salmo 18.2). Quem sabe, talvez entendamos melhor tudo isto através das palavras doces, ternas e salvadoras de Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem!(Lc 23.34).

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

ASFIXIA ESPIRITUAL...


Pr. Raul Marques

asfixia é a insuficiência ou ausência de oxigenação. É a interrupção respiratória. É a retirada do fôlego. É a vida se esvaindo. Quando nos falta o essencial à vida podemos dizer que estamos mergulhados na asfixia; estamos sendo sufocados pela ausência de conteúdos vitais. Infelizmente, tem sido muito comum encontrar pessoas asfixiadas existencialmente. Viver e vencer não têm sido uma tarefa fácil no mundo moderno, sobretudo porque somos influenciados pelos modismos, pela cultura capitalista, pela patologia do consumismo, pela religiosidade utilitária que barganha pela “fé” os “favores” de Deus.
Assim como as empresas têm que dar lucros cada vez maiores, as pessoas são guiadas cada vez mais para o desejo de ser o que não são; possuir o que não precisam e a gastar o que não têm. Não nos amamos mais; apenas nos usamos mais. As famílias se tornaram tão somente um agrupamento de pessoas onde cada um vive o “seu mundo” particular, completamente indiferente aos sonhos e aspirações do outro, como se dele de nada dependesse. O estímulo à competição profissional chegou a um nível tão exacerbado que as pessoas não se vêem mais como pessoas, e sim, como coisas. O mais dramático em todo esse quadro é a contaminação do coração e da alma do homem afrontando a Deus. Dói profundamente no coração do criador a derrocada de toda a sua criação. Estamos vivendo a era da asfixia espiritual.
O que é o materialismo, senão o estado do homem que se afastou de Deus; (...) ele passa unicamente a preocupar-se com os seus interesses terrestres”. Jean-Paul Sartre. Esta é a dinâmica da vida humana atualmente. Esta realidade catastrófica atingiu todas as etnias, todos os povos, línguas, tribos e nações. Por este fato interessa-nos afirmar que o Senhor não é um Deus nacional, mas universal, pois Ele “amou o mundo de tal maneira que deu o Filho unigênito para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
A humanidade sente falta da oxigenação de uma fé madura, alimentada não pelas ideologias ou filosofias dos homens, mas pela força inconteste de toda palavra que sai da boca de Deus. Quando deixamos os preceitos de Deus estamos abdicando do sopro de vida. Quando permitimos que a nossa mente seja comandada pelos ditames deste mundo, automaticamente estamos iniciando o doloroso processo de asfixia espiritual, que redundará na morte da nossa alegria e na perda completa do nosso entusiasmo para com a vida.
Tenho conhecido jovens asfixiados com a vida que levam, perdidos em sonhos malfadados; desiludidos pelas fantasias das paixões; famílias inteiras que se arrastam numa sobrevida insignificante, trancadas nas conveniências sociais que, enfim, lhes fecharam a torneira da respiração. Tenho visto pessoas cuja fé nada opera, cuja esperança nada traz, cuja alegria pereceu; gente asfixiada por uma religiosidade decadente, sem propósitos para viver e vencer. Tenho encontrado pessoas sufocadas pelas decisões impensadas; marcadas por mágoas e ressentimentos vividos com quem lhes dizia amar.
Tenho absoluta certeza que Jesus também pensava nesse tempo quando disse: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” João 16:33; Ele sabia que nos faltaria o ar nestes dias tão difíceis. O ar que necessitamos para a oxigenação da nossa vida não vem de baixo; ele vem do alto. Se quisermos de volta o sopro de Deus em nossas narinas devemos começar a fazer o que Jesus nos ensinou: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas". (Mt 6:33). A oxigenação da família é a oração cotidiana; a oxigenação da juventude é a verdadeira adoração; a oxigenação de todos os homens é o retorno ao primeiro amor!

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

PARA QUE O MUNDO CREIA...
Pr. Raul Marques
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Um dos questionamentos mais inquietantes que vemos estampado na Bíblia é formulado por um fariseu: "Quem é o meu próximo?" (Lucas 10.25-37). A pergunta ainda ecoa nas cordilheiras da nossa mente hoje em dia... Com o mais perverso capitalismo reinante, é cada vez mais real o distanciamento entre as pessoas em função da luta impiedosa de cada indivíduo na preservação do "seu" espaço pessoal. Nós aprendemos a usar tragicamente o discurso possessivo: "a minha casa", "o meu carro", "o meu dinheiro", e aí também transferimos para o universo espiritual: "a minha Igreja", "o meu Deus", "os meus irmãos", etc. Esta é a política do homem, não a de Deus! É profundamente reveladora a expressão de Tiago em sua Epístola: "Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores" (Tiago 2.9). Vivemos num país cuja mídia se alimenta da criação de ícones, chavões, ídolos e heróis caricatos, de onde se originam as divisões da nação em castas, grupos, classes, ou qualquer outro nome que se queira dar. Por exemplo: há bem pouco tempo fomos chamados de "a maior nação católica do mundo". Recentemente viraram esta página, e agora chamam-nos de "a segunda maior nação evangélica do mundo". O Brasil já é considerado também o maior país espírita do mundo, com números que chegariam a 30 milhões de seguidores e simpatizantes. O sincretismo religioso ou a indiferença religiosa são partes de uma mesma moeda cujo valor, no caso brasileiro, tem se configurado na criação dos guetos, dos partidos, das facções e denominações as mais diversas, sem, contudo, revelar qualquer unidade na diversidade. Conquanto falemos tanto no Sagrado, nos revelamos, na prática, cada vez mais distantes dele.

Somos uma nação plural nas etnias, mas não temos a noção exata disso. Somos uma nação alegre feita por gente infeliz... As religiões parecem não materializar as promessas feitas pelos seus seguidores, uma vez que, sendo ao mesmo tempo tão religiosos, buscamos não o bem de todos, mas o dos nossos blocos comunitários, quanto possível. Karl Marx, considerado um clássico da Sociologia, tem uma visão sobre a religião, sem, contudo, descartar a sua importância, "A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação sem espiritualidade, ela é o ópio do povo". A Bíblia, no entanto, vaticina sobre este fato da seguinte maneira: "A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo" (Tiago 1.27). Pensando que fazemos bem vivendo separados de tudo e de todos como pretexto de uma prática salutar da religiosidade, contradizemos todo o ensino de Jesus Cristo, que viveu profundamente envolvido com as pessoas, acolhendo-as com amor incondicional e libertando-as dos grilhões do ego, da soberba espiritual e, sobretudo, da acepção de pessoas. Em João 17.15, está escrito: "Pai, não peço que os retires do mundo, mas livra-os do mal!". Esta expressão de Jesus revela o seu desejo de que vivamos no mundo das pessoas e não no mundo das ilações religiosas. Devemos viver e conviver com todas as pessoas que pudermos, de modo que aquilo que recebemos de Deus seja compartilhado com elas; sejam bens materiais, sejam bênçãos espirituais. Nunca é demais lembrar daquilo que nos ensinou o apóstolo João: "Se alguém afirma "Eu amo a Deus", mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" I João 4.20. Além disso, devemos relembrar outra passagem igualmente pertinente: "Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Efésios 6:12). Finalmente, não podemos esquecer que foi o próprio Jesus, fundador e mantenedor da igreja, quem intercedeu a Deus por nós desta maneira: "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (João 17:21). O mundo só crerá que Deus é realmente amor, se nós vivenciarmos essa experiência de amor incondicional, conscientes de que "ser cristão não é um degrau que se sobe nem um chamado a mandar, mas, um degrau que se desce e um chamado a servir".

sábado, 27 de agosto de 2016

               POR QUE SOMOS TÃO                                                                                                          PRETENSIOSOS?

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Pr. Raul Marques

Em Mateus 20, encontramos um caso bem específico e bem exemplar sobre as nossas pretensões humanas relativas àqueles assuntos mais agudos sobre a fé, sobretudo, quando nos reconhecemos “donos” de Deus; isto é, Ele é “nosso” Deus e, portanto, haverá de sempre reconhecer as nossas ambições pessoais.

A mãe de Tiago e João não foi uma mãe diferente de mim e de você. Para ela, Tiago e João eram: 1) os melhores filhos do mundo; 2) aqueles que mais amavam o Senhor; 3) os que agiam com mais fidelidade. E, por estas e por tantas outras boas características que eles possuíam, ela tinha em seu coração uma reivindicação a ser feita ao Senhor”. O relato que encontramos em Mateus 20.20-28 enquadra criticamente os presunçosos, os que são demasiadamente narcisistas e se acham sempre mais bonitos e mais merecedores dos favores divinos que os demais mortais.

Podemos perceber que, também no nosso dia a dia, as nossas pretensões tendem a ser sempre em favor do nosso ego, quer seja nas visões positivas ou negativas. Se positivas, requeremos para nós o merecimento das melhores situações da vida; dos favores exclusivos de Deus e da atenção de todo o restante da sociedade. Se negativas, apontamos os nossos sofrimentos como os mais dignos de amparo e diligências; que as nossas angústias são mais dramáticas, de modo que ninguém se ocupe de nada mais além de nós.

Há pessoas que se consideram as mais belas ou as mais inteligentes que todas as demais. Há pessoas que se vêem através de lentes de aumento e outras, no entanto, necessitam de lupa para notarem sua pequenez. Por que, afinal, temos em nós esta desequilibrada postura? Por que será que nos vemos como verdadeiros elefantes e todo o restante como meras formiguinhas? Por que será que temos os nossos valores sempre mais elevados que os dos demais? Por que será que tratamos os defeitos alheios como jamais existentes em nós? Por que, na maioria das vezes, somos juízes implacáveis das condutas de outrem e, conosco, tão maternais? Por que julgamos merecer as melhores posições, os melhores lugares, as maiores chances, o perdão e a benevolência de todos, a despeito das credenciais alheias?

Pois bem, a mãe de Tiago e João, não obstante as muitas mães presentes nas multidões que acompanhavam o Mestre Jesus, não se conteve na pretensão de expressar a política protecionista e pretensiosa de todos os humanos: “Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino” Mateus 20:21. Jesus, porém, respondendo, disse: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado. E, quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” Mateus 20:22-28. Dá-me sabedoria, Senhor, para jamais pretender, exclusivamente para mim, aquilo que deve ser dividido com todos...    

quarta-feira, 27 de julho de 2016

                                           SAL E LUZ, NA MEDIDA CERTA!

Pr. Raul Marques

               
                 “Cortar o sal da dieta não faz tanto bem para o coração como sempre foi dito pelos médicos. De acordo com novo estudo, uma dieta com pouco sal, de fato, reduz a pressão sanguínea, mas aumenta os níveis de colesterol, gorduras e hormônios no sangue, além do risco de doenças cardíacas”. Li esta notícia recentemente em um Site que trata de saúde e logo me transpus para a relação que isto tem com o pensamento de Jesus Cristo, relativamente aos seus seguidores. Ele disse: “Vocês são o sal da terra... vocês são a Luz do mundo... assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” Mateus 5.13,14,16.
                       Cresci ouvindo um provérbio popular que afirma: “Tudo demais é veneno!”. Quando Jesus fez a Sua afirmativa, o fez na expectativa de que os seus discípulos fossem transformados na “medida certa”; que eles tivessem o tempero e o brilho exatos; sem exageros, e assim, fossem seguidos como um diferencial – um referencial seria a melhor expressão! Assim como sal e luz em excesso fazem mal ao paladar e à visão, do mesmo modo os seus discípulos seriam um mal para o mundo, se se pusessem em demasiado grau, ao ponto de se mostrarem radicais e, portanto, fundamentalistas, no mais extremo conceito do termo, estragando a experiência com Deus pela carência ou pela demasia...
                 Ser cristão é uma questão de justo encaixe, isto é, nem tanto e nem tão pouco; apenas exato. Temos visto muitos excessos na vivência cristã que têm se constituído em verdadeiras muralhas erguidas diante de muitos que gostariam de ver o que existe “do outro lado da ponte”, mas são impedidos de ver... São pessoas que pensam estar manifestando tanta luz que chegam a ofuscar a visão dos que gostariam de ver além da ribalta, mas só enxergam a escuridade... Uns exageram tanto na salinidade, que estragam o sabor de tudo...
                   Ele disse também: “Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto par ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém ascende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha” (Mateus 5.13-14). O sal só serve se for na medida certa. A luz só faz bem se se mostrar compatível com os nossos olhos. Ela precisa ser vista e o sal precisa ser provado, de tal modo que produza o bem estar nos homens. 
Afinal de contas, ninguém foi mais sal e luz que o próprio Jesus, no entanto, Ele sempre atraiu o mundo para Si, como até hoje o faz; sem excessos ou radicalismos. Jesus é a nossa “medida certa”: o pão que nos alimenta e a água que mata a nossa sede. Ele é a “brilhante Estrela da Manhã”, que tão perfeitamente aponta para que cada um encontre nEle, “o caminho, e a verdade, e a vida”. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Por que as pessoas se afastam de Jesus?

Pr. Raul Marques

Há mais de dois mil anos, quando foi escrita a Carta aos Hebreus, já se debatia a entrada e o abandono dos crentes na Casa de Deus, com a mesma naturalidade e sob os pretextos mais diversificados que se possa pensar para os dias de hoje. Tanto é verdade que houve naquela Carta uma recomendação específica a este respeito: “Não deixemos de congregar-nos, como é o costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quando vedes que o dia se aproxima.” (Hebreus 10.24, 25). Mas, essa história não começou aí. Já na época de Jesus, mais especificamente quando Ele ressuscitou, houve um fato relevante sobre o abandono repentino da fé e do bom convívio dos irmãos, sob o pretexto da frustração com Deus.
No Evangelho de Lucas, capítulo 24 e versículos 13 a 53, encontramos dois homens desenganados com a fé em Jesus Cristo, abandonando a cidade santa de Jerusalém na direção de uma comunidade chamada Emaús, completamente desiludidos em suas expectativas religiosas. Creio que esse texto nos servirá perfeitamente para ilustrar os objetivos desta nossa reflexão.
Não é difícil encontrar pelas cidades pessoas que tiveram experiências com Jesus por algum tempo e que, de repente, desistiram desta caminhada por motivos os mais banais, deixando o convívio da igreja, abandonando o trabalho do Reino, colocando de largo irmãos à quem dizia amar, e vivendo uma vida de completa insignificância espiritual. Esse grupo de pessoas pode ser chamado de “discípulos de Emaús”, pois tem características muito semelhantes àqueles dois homens lembrados por Lucas. É possível abandonar a igreja por não ver milagres acontecendo como solicitados. Os homens de Emaús estavam frustrados porque, para eles, o milagre da ressurreição não havia ocorrido; a cegueira espiritual não lhes deixava ver. É possível saber de pessoas que abandonaram a igreja porque os seus problemas pessoais não se acabaram. Os homens de Emaús também estavam ressentidos porque esperavam que Jesus redimisse Israel politicamente, mas esse não era o propósito do Senhor. Muitos deixam o convívio da igreja por serem praticantes da 
maledicência e das fofocas de última hora. Os homens de Emaús também eram assim. Eles inquiriram de Jesus: “E Ele lhes disse: que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e porque andais tristes? E respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse: És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela tem ocorrido nesses dias?”. Muitos também largam de vez a igreja por não conhecerem nada das Escrituras. Os homens de Emaús eram exatamente assim. Por isso Jesus lhes apareceu e caminhou com eles para trazer-lhes à memória tudo aquilo que eles deviam saber e não sabiam; tudo o que deveriam praticar e não praticavam, e por isso estavam tão frustrados: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. Os homens de Emaús só conseguiram abrir os olhos espirituais depois de voltarem à comunhão com o Senhor, com Ele à mesa, partindo o pão. Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

MORTOS E MARTAS...

Pr. Raul Marques
Uma das mais fantásticas passagens bíblicas sobre a valorização da vida está relacionada também ao poder restaurador de Jesus Cristo: o caso da ressurreição de Lázaro. Jesus tem a vida em alta conta. Para ele todas as pessoas têm importância vital. Há vida em toda a criação de Deus.
Jesus Cristo tinha motivos muito pessoais para nutrir amizade e amor muito especiais pela casa de Lázaro. Ali Ele daria lições de verdadeira adoração ao Senhor. Ali Ele daria instruções sobre as coisas que realmente importam à vida humana. Na casa de Lázaro Jesus nos cumularia de sábios conselhos sobre a vida e a morte; sobre a morte e a ressurreição; sobre o valor da vida e a importância da morte. Certo dia Jesus foi à casa de Lázaro e se deparou com duas mulheres preocupadas em lhe oferecer o melhor que podiam. Ele lhes fez lembrar que o melhor que elas tinham estava na alma e não nas iguarias ou na fartura da mesa. Ele percebeu o quanto Marta era preocupada com as tarefas domésticas, através das quais cria que mais plenamente agradaria o Mestre. Ele viu também que Maria, irmã de Marta, tinha muita satisfação em recebê-lo em sua casa, mas a sua dedicação estava direcionada para ouvir os seus ensinamentos, diferentemente de Marta que corria freneticamente de um lado para o outro, preocupada em como agradá-lo socialmente.
Reflito hoje este quadro bíblico com os olhos postos no nosso modo de vida atual. O amor e a amizade de Jesus por Lázaro, Maria e Marta, são os mesmos nutridos por nós, por cada uma das nossas famílias. Ele sabe também das nossas inúmeras inquietações, da nossa tendência à adesão às preocupações com este mundo. Ele percebe que muitos de nós, em nossas casas, estão correndo tanto que nenhum tempo nos resta para adoração, para oração e para comunhão. Ele percebe que somos mais preocupados com a quantidade que com a qualidade das coisas que temos. Ele sabe, inclusive, que nós temos muito desejo de agradá-lo, mas temos agido sempre da maneira mais inconsequente, contradizendo nos atos aquilo que afirmamos com palavras.
A morte de Lázaro foi tão profundamente dolorosa para Jesus quanto para Marta, Maria e todos os amigos da aldeia onde eles residiam. Quando lhe avisaram da morte de Lázaro Ele sofreu por elas, pois conhecia bem os sentimentos humanos, sobretudo com as perdas. Antes, porém, de dirigir-se para a aldeia de Marta e Maria, decidiu atender outros necessitados, demorando-se por dois dias em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João havia batizado. A aparente demora de Jesus é sempre um tormento a mais para os que sofrem e parecem ter perdido as esperanças. No entanto, a Bíblia nos afirma que Ele é o nosso “socorro bem presente na hora da angústia” Salmo 46:1.
Quantas vezes nos encontramos na vida em meio a “mortos e Martas”, mergulhados numa atmosfera de tristezas e lutas; de dúvidas e dificuldades? Quantas vezes somos sacudidos pelas perdas irreparáveis; pelo luto; pelo vazio; pela solidão e até pela descrença? Por quantas vezes temos visto os nossos sonhos perecerem, em virtude de não termos dado importância àquilo que realmente merecia? Quantas vezes temos agradado à pessoa errada, errando o alvo? Quantas vezes temos nos matado fazendo coisas que nunca agradarão ao Senhor, omitindo aquelas que verdadeiramente Lhe satisfariam?
Certa vez Jesus chamou alguém para segui-lo e obteve a seguinte resposta: “Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus” Lucas 9.59-60. Não devemos nos preocupar com nada daquilo que foge ao nosso controle, nada conseguiremos fazer naquilo que somente o poder de Deus pode agir. Uma coisa é certa: se temos estado feito “mortos”, sem sentimentos, inertes, já cheirando mal; ou agido feito “Martas”, correndo de um lado para outro, sem consciência daquilo que realmente pode agradar a Deus, é hora de clamar a Deus para que nos ressuscite: que faça rolar a pedra do nosso túmulo existencial, e nos permita sair e ver a luz da vida outra vez.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

CICATRIZES...

Pr. Raul Marques

Toda maldade produz cicatrizes. Toda ferida pode, com o tempo, cicatrizar. Todas as marcas deixadas, porém, são partes da história de cada um e muito dificilmente não nos trarão a lume os seus significados. Não podemos dizer que nunca deixaremos de lembrar a intensidade da dor que produziram aquelas marcas. Lembraremos sim, pois elas estão ali, na pele, tatuadas e prontas a responder com o silêncio a profundidade e o significado da sua existência. Entretanto, são elas também que sinalizam pra nós, que são cicatrizes presentes de uma dor passada...
O intenso sofrimento de Jesus Cristo marcou o seu corpo e a sua alma tão profundamente que não seria razoável supor que não houvessem deixado sinais. É claro que Jesus perdoou os seus algozes; Ele se expressou a respeito disso em meio ao seu desvairado sofrimento: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” Lucas 23.34; no entanto, tivesse Jesus permanecido entre nós vivenciando por muitos anos a crueldade do nosso coração, certamente que todos veriam as suas cicatrizes expostas apontando para um martírio vivido. Um grande exemplo disto está estampado no diálogo que Jesus teve com Tomé. As marcas em Jesus ao serem tocadas por Tomé tiveram o poder de transmitir-lhe verdade, perdão e muito amor.
As cicatrizes podem ser ao mesmo tempo a prova do sofrimento e a marca da necessidade do perdão. Se olharmos para as nossas cicatrizes com sofrimento e ódio, certamente estaremos alimentando a sangria em feridas que teimarão em não sarar. Por outro lado, se fitamos as nossas marcas como sinais da possibilidade do perdão e da felicidade anelada, não podemos negar a óbvia presença do Espírito Santo de Deus em nossas vidas, ajudando-nos a entender que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
Todos nós temos algumas cicatrizes. Importa-nos saber o que fazemos delas; com que motivação elas se evidenciam em nós. O que será que elas tendem a nos lembrar? É bom não esquecermos a recomendação bíblica: “a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).

segunda-feira, 30 de maio de 2016

VENDAVAIS...

Pr. Raul Marques

Vendavais são perturbações marcantes no estado normal da atmosfera. Deslocamento violento de uma massa de ar, de uma área de alta pressão para outra de baixa pressão. Os vendavais, também chamados de ventos muito duros, correspondem ao número 10 na escala de Beaufort, compreendendo ventos cujas velocidades variam entre 88,0 a 102,0 km/h. Os ventos com velocidades maiores recebem denominações específicas: 103,0 a 119,0 km/h ciclone extratropical; acima de 120,0 km/h ciclone tropical, furacão ou tufão. O vendaval é fenômeno físico da natureza. Não obstante, existem também os vendavais existenciais, e esses são próprios da natureza humana. Como aqueles, estes também são perturbações marcantes no estado normal dos indivíduos. São violentos deslocamentos de forças da insensatez direcionados contra a racionalidade, visando a perturbação e a inquietação da alma. Os vendavais existenciais também são organizados em escala de gravidade, e a sua velocidade suprema é a força motivadora das angústias que levam ao suicídio. É o ápice do desvario e da loucura. É um ato de suprema possessão do mal. Os vendavais existenciais podem ter início em pequenos insucessos; em detalhes de ciúmes não percebidos; na inveja; na covardia; na traição; na frustração; nos sonhos irrealizados; enfim, no acolhimento do lixo do pecado se avolumando em pequenos cestos... Os vendavais existenciais sacodem as nossas vidas, revolvem os nossos sentimentos, desorganizam pensamentos, apagam as nossas aspirações e minam as nossas esperanças. Os ventos tempestuosos são forças contrárias que planejam nos arremessar contra as rochas em meio a um mar bravio. Eles sempre ocorrem quando o tempo se fecha completamente absorvido pelas trevas. É aí que reside a nossa extrema necessidade da companhia de Jesus. Aquele que conhece plenamente o poder destruidor das tempestades, é o único que pode sempre nos socorrer na hora da angústia. No mar da vida nunca poderemos prescindir da presença de Jesus no barco da nossa existência. É bastante lembrarmos a passagem de Lucas 8.22-25, onde encontramos o questionamento dos discípulos de Jesus: “Quem é este que até aos ventos e às ondas repreende, e lhe obedecem?”. Se as forças da natureza se rendem à voz de Jesus Cristo, porque é tão difícil à natureza humana quedar-se diante dele em meio às tempestades existenciais? Creio que o melhor da vida só nos ocorrerá quando tomarmos a decisão de “passar para a outra margem” no mesmo barco em que Jesus está: o barco da Salvação. Não há vendaval que resista ao poder de Deus. Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós!