O BOM PASTOR...
Pr. Raul Marques
“Eu Sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e sou
conhecido por elas...” João 10.14
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ão há situação mais prazerosa e
mais reconfortante do que ser reconhecido como quem você realmente é; nem mais,
nem menos. É muito agradável conhecer pessoas e, igualmente bom, é dar-se a
conhecer por elas. Eu penso que Jesus tinha isto em mente quando, enquanto
humano, conheceu o universo dos humanos ao mesmo tempo em que se deu a conhecer
por ele. Viu de perto as suas fraquezas e as suas virtudes ao mesmo tempo em
que lhes mostrou suas dores mais profundas, a solidão, a angústia e até o seu
limite: “passa de mim este cálice...”.
Jesus ensinou
que devemos amar as pessoas do início ao fim da nossa jornada, conforme
demonstrou em João 13. Isto não é fácil e nem é simples, pois, requer
abnegação, renúncia do ego, consideração pelas fraquezas do outro, e,
sobretudo, um conhecimento maduro e compatível de si mesmo.
Lembro-me
agora de um poema que escrevi quando tinha mais ou menos dezoito anos onde,
tomado pelo sentimento da dureza da existência humana, expus: “eu muitas vezes quero ser um bicho pra pelo
menos ir viver em paz...”. A humanidade é, ao mesmo tempo, linda e
dramática; singela e complexa; necessária e deletéria! Somente agora, na idade
madura, torna-se possível mensurar o que tantas vezes ouvi dos mais velhos
quando em criança: “É mais fácil criar
galinhas que lidar com gente!”.
A
responsabilidade pastoral muitas vezes se confunde com a incumbência paistoral – um neologismo agridoce... “Quem se nega a disciplinar e repreender seu
filho não o ama; quem o ama de fato não hesita em corrigi-lo” Pv. 13.24.
Ocorre que nem sempre é possível corrigir uma ovelha como a um filho... Há
filhos dóceis e ovelhas indomáveis.
Quando o
Senhor Jesus afirmou: “Eu conheço as
minhas ovelhas”, Ele sabia perfeitamente do que estava falando – “Tu formaste o íntimo do meu ser e me teceste
no ventre de minha mãe” Salmos 139.13. Quando, porém, disse: “e sou por elas conhecido”, estava
evidenciando muito mais sobre a Sua capacidade de se deixar conhecer do que da
sinceridade dos que poderiam tê-lo conhecido melhor e mais adequadamente.
Porventura, não é esta uma descrição assemelhada
entre as pessoas da igreja e o pastor? Este tem a obrigação de conhecer e tratar
as feridas e as insanidades daquelas; aquelas, quase sempre, nunca sabem
discernir quando ele padece ou carece da compreensão, da sensatez e do
abraço...
Realmente,
jamais poderia ter sido formado do pó aquele que levaria sobre si os pecados do
mundo... Era preciso ter nascido por obra do Espírito Santo! O coração pastoral
tem mais de materno do que de si mesmo. Ser pastor não é uma escolha nossa,
pessoal, antes pelo contrário, é obra exclusiva de Deus: é chamado, do qual não
se pode arredar e discrepar. Ser pastor é viver uma luta diária e renhida
contra a sua natureza do άνθρωπος (homem).
Dá-nos forças,
Senhor, para que sejamos semelhança do teu Filho, Jesus Cristo, e não nos
cansarmos de “amar até o fim”; para
que saibamos conhecer as ovelhas que
nos tem confiado e para que sejamos por elas conhecidos. Dá-nos sempre a mesma
força da humildade e mansidão dadas ao Teu Santo Filho que, imerso no mais
agudo da dor da traição e da incompreensão, clamou: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem!”. Dá-nos a
alegria e a dignidade de nos sentirmos como Jesus ao ouvir de Ti: “Este é o meu Filho muito amado, em quem eu
tenho prazer!”. Livra-nos do desejo de vingança, pois ela a Ti pertence.
Livra-nos de devolver as pedras lançadas. Dá-nos o gozo permanente de
simplesmente saber introjetar a Tua promessa: “Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, e perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e
alegrai-vos sobremaneira, pois é esplêndida a vossa recompensa nos céus; porque
assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós” Mateus 5.11-12.