PARA QUE O MUNDO CREIA...
Pr. Raul Marques
Um dos questionamentos mais
inquietantes que vemos estampado na Bíblia é formulado por um fariseu: "Quem é o meu próximo?" (Lucas 10.25-37). A pergunta ainda ecoa nas
cordilheiras da nossa mente hoje em dia... Com o mais perverso capitalismo
reinante, é cada vez mais real o distanciamento entre as pessoas em função da
luta impiedosa de cada indivíduo na preservação do "seu" espaço pessoal. Nós aprendemos a usar
tragicamente o discurso possessivo: "a minha casa", "o meu carro", "o meu dinheiro", e aí também transferimos para o universo
espiritual: "a minha
Igreja",
"o meu
Deus",
"os meus irmãos", etc. Esta é a política do homem, não a de
Deus! É profundamente reveladora a expressão de Tiago em sua Epístola: "Mas, se fazeis acepção de
pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores" (Tiago 2.9). Vivemos num
país cuja mídia se alimenta da criação de ícones, chavões, ídolos e heróis
caricatos, de onde se originam as divisões da nação em castas, grupos, classes,
ou qualquer outro nome que se queira dar. Por exemplo: há bem pouco tempo fomos
chamados de "a maior
nação católica do mundo". Recentemente viraram esta página, e agora chamam-nos de "a segunda maior nação evangélica
do mundo". O
Brasil já é considerado também o maior país espírita do mundo, com números que chegariam a 30 milhões
de seguidores e simpatizantes. O sincretismo religioso ou a indiferença
religiosa são partes de uma mesma moeda cujo valor, no caso brasileiro, tem se
configurado na criação dos guetos, dos partidos, das facções e denominações as
mais diversas, sem, contudo, revelar qualquer unidade na diversidade. Conquanto
falemos tanto no Sagrado, nos revelamos, na prática, cada vez mais distantes
dele.
Somos uma nação plural nas
etnias, mas não temos a noção exata disso. Somos uma nação alegre feita por gente infeliz... As religiões parecem não materializar as
promessas feitas pelos seus seguidores, uma vez que, sendo ao mesmo tempo tão
religiosos, buscamos não o bem de todos, mas o dos nossos blocos comunitários,
quanto possível. Karl Marx, considerado um clássico da Sociologia, tem uma
visão sobre a religião, sem, contudo, descartar a sua importância, "A religião é o suspiro da
criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito
de uma situação sem espiritualidade, ela é o ópio do povo". A Bíblia, no entanto,
vaticina sobre este fato da seguinte maneira: "A religião pura e imaculada
diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas
aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo" (Tiago 1.27). Pensando que
fazemos bem vivendo separados de tudo e de todos como pretexto de uma prática
salutar da religiosidade, contradizemos todo o ensino de Jesus Cristo, que
viveu profundamente envolvido com as pessoas, acolhendo-as com amor incondicional e libertando-as dos grilhões do
ego, da soberba espiritual e, sobretudo, da acepção de pessoas. Em João 17.15,
está escrito: "Pai, não peço que os retires do mundo, mas livra-os do mal!". Esta expressão de Jesus
revela o seu desejo de que vivamos no mundo das pessoas e não no mundo das
ilações religiosas. Devemos viver e conviver com todas as pessoas que pudermos,
de modo que aquilo que recebemos de Deus seja compartilhado com elas; sejam
bens materiais, sejam bênçãos espirituais. Nunca é demais lembrar daquilo que
nos ensinou o apóstolo João: "Se alguém afirma "Eu amo a Deus", mas
odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não
pode amar a Deus, a quem não vê" I João 4.20. Além disso, devemos relembrar
outra passagem igualmente pertinente: "Porque a nossa luta não é contra
o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas
regiões celestes" (Efésios
6:12). Finalmente, não podemos esquecer que foi o próprio Jesus, fundador e
mantenedor da igreja, quem intercedeu a Deus por nós desta maneira: "Para que todos sejam um, como tu,
ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o
mundo creia que tu me enviaste" (João 17:21). O mundo só crerá que Deus é
realmente amor, se nós vivenciarmos essa experiência de amor incondicional, conscientes de que "ser
cristão não é um degrau que se sobe nem um chamado a mandar, mas, um degrau que
se desce e um chamado a servir".
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