sábado, 23 de abril de 2011

MORTOS E MARTAS...

Pr. Raul Marques

Uma das mais fantásticas passagens bíblicas sobre a valorização da vida está relacionada também ao poder restaurador de Jesus Cristo: o caso da ressurreição de Lázaro. Jesus tem a vida em alta conta. Para ele todas as pessoas têm importância vital. Há vida em toda a criação de Deus.

Jesus Cristo tinha motivos muito pessoais para nutrir amizade e amor muito especiais pela casa de Lázaro. Ali Ele daria lições de verdadeira adoração ao Senhor. Ali Ele daria instruções sobre as coisas que realmente importam à vida humana. Na casa de Lázaro Jesus nos cumularia de sábios conselhos sobre a vida e a morte; sobre a morte e a ressurreição; sobre o valor da vida e a importância da morte. Certo dia Jesus foi à casa de Lázaro e se deparou com duas mulheres preocupadas em lhe oferecer o melhor que podiam. Ele lhes fez lembrar que o melhor que elas tinham estava na alma e não nas iguarias ou na fartura da mesa. Ele percebeu o quanto Marta era preocupada com as tarefas domésticas, através das quais cria que mais plenamente agradaria o Mestre. Ele viu também que Maria, irmã de Marta, tinha muita satisfação em recebê-lo em sua casa, mas a sua dedicação estava direcionada para ouvir os ensinamentos de Jesus, diferentemente de Marta que corria freneticamente de um lado para o outro, preocupada em como agradá-lo socialmente.

Reflito hoje este quadro bíblico com os olhos postos no nosso modo de vida atual. O amor e a amizade de Jesus por Lázaro, Maria e Marta, são os mesmos nutridos por nós, por cada uma das nossas famílias. Ele sabe também das nossas inúmeras inquietações, da nossa tendência à adesão das preocupações com este mundo. Ele percebe que muitos de nós, em nossas casas, estão correndo tanto que nenhum tempo nos resta para adoração, para oração e para comunhão. Ele percebe que somos mais preocupados com a quantidade que com a qualidade das coisas que temos. Ele sabe, inclusive, que nós temos muito desejo de agradá-lo, mas temos agido sempre da maneira mais inconseqüente, contradizendo nos atos aquilo que afirmamos com palavras.

A morte de Lázaro foi tão profundamente dolorosa para Jesus quanto para Marta, Maria e todos os amigos da aldeia onde eles residiam. Quando lhe avisaram da morte de Lázaro Ele sofreu por elas, pois conhecia bem os sentimentos humanos, sobretudo com as perdas. Antes, porém, de dirigir-se para a aldeia de Marta e Maria, decidiu atender outros necessitados, demorando-se por dois dias em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João havia batizado. A aparente demora de Jesus é sempre um tormento a mais para os que sofrem e parecem ter perdido as esperanças. No entanto, a Bíblia nos afirma que Ele é o nosso “socorro bem presente na hora da angústiaSalmo 46:1.

Quantas vezes nos encontramos na vida em meio a “mortos e Martas”, mergulhados numa atmosfera de tristezas e lutas; de dúvidas e dificuldades? Quantas vezes somos sacudidos pelas perdas irreparáveis; pelo luto; pelo vazio; pela solidão e até pela descrença? Por quantas vezes temos visto os nossos sonhos perecerem, em virtude de não termos dado importância àquilo que realmente merecia? Quantas vezes temos agradado à pessoa errada, errando o alvo? Quantas vezes temos nos matado fazendo coisas que nunca agradarão ao Senhor, omitindo aquelas que verdadeiramente Lhe satisfariam?

Certa vez Jesus chamou alguém para segui-lo e obteve a seguinte resposta: “Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus” Lucas 9.59-60. Não devemos nos preocupar com nada daquilo que foge ao nosso controle, nada conseguiremos fazer naquilo que somente o poder de Deus pode agir. Uma coisa é certa: se temos estado feito “mortos”, sem sentimentos, inertes, já cheirando mal; ou agido feito “Martas”, correndo de um lado para outro, sem consciência daquilo que realmente pode agradar a Deus, é hora de clamar a Deus para que nos ressuscite: que faça rolar a pedra do nosso túmulo existencial, e nos permita sair e ver a luz da vida outra vez.

domingo, 3 de abril de 2011

UM SERMÃO QUE RESSUSCITA SONHOS

Pr. Raul Marques

Não há como não amar a Palavra de Deus; ela é viva e eficaz, refrigera a alma e ressuscita sonhos! A Bíblia afirma que a fé nasce daquilo que ouvimos de Deus (Rm 10.17). Os seus ensinos vão construindo em nós um edifício absolutamente seguro chamado FÉ, alicerçado na mais pura Rocha, que é Jesus, sobre quem batem ventos, chuvas e tempestades, mas ele jamais ruirá.

Hoje, orando a Deus por uma palavra direta para o meu coração, me vi debruçado sobre o livro de Mateus, capítulo 5 e versículos 1 a 15. Encontrei aí bastante água para matar a minha sede; para hidratar a minha vida e repor as energias consumidas pelos estressantes dias que vivemos na terra. Ao terminar a leitura fui ruminar as palavras com a mesma avidez que o animal devora a sua caça, por completa necessidade de sobrevivência.

Jesus, percebendo que havia multidões se achegando para ouvi-lo, procurou um lugar onde pudesse ser ouvido por todos e, então, passou a ensiná-los dizendo: “Muito felizes são os humildes!" dizia Ele, "porque o Reino dos Céus é dado a eles". Lembrei-me, então, do testemunho de um jovem lá de Curitiba, que era ateu, que conhecia Jesus filosoficamente, mas que foi rendido pela humildade do seu irmão mais moço, que durante um almoço em família declarou que lhes amava, e ele, com um nó na garganta não teve como responder, mas a partir dali buscou conhecer o mesmo Jesus que dera tanta humildade ao seu irmão. Provando este amor, ele também se converteu. "Felizes são os que choram! Porque serão consolados". Quantos irmãos choram neste momento, aparentemente sem consolo, sem perspectivas de ventos favoráveis? Se esses mesmos irmãos estiverem clamando ao Senhor, Deus Todo-Poderoso, amável e cheio de Graça e Misericórdia, eles serão consolados! "Felizes são os mansos e simples! Porque o mundo inteiro pertence a eles". Ah, irmãos, é tão mais simples buscar a paz que a guerra! A mansidão é uma atitude própria dos que amam, dos que são desencorajados por Deus para as guerras e contendas. É bem melhor sair de cena buscando o esconderijo do altíssimo, do que permanecer no palco das discórdias! "Felizes aqueles que aspiram por ser justos e bons, porque terão a justiça com toda a certeza". Muitas vezes os justos perecem simplesmente por quererem acertar; recebem, por conta disso, as contradições deste mundo. "Felizes são os que são amáveis e têm misericórdia dos outros, porque a eles se mostrará misericórdia". A atenção, o respeito, as boas maneiras, o bom tratamento cordial e fraterno, fazem com que estejamos mais próximos de Jesus. Ele sempre foi amável e teve misericórdia de muitos; não custa seguirmos o seu exemplo. "Felizes os que têm coração puro, porque verão a Deus". Quanta maldade campeia em nossa sociedade adoecida. Quanta gente é afastada do seu lugar por pessoas cheias de maldade e maledicência? "Felizes aqueles que procuram promover a paz - pois serão chamados Filhos de Deus". Jesus exalta os que são promotores da paz porque, além de fazerem a coisa certa, são muito poucos neste mundo cheio de partidarismos e contendas. "Felizes aqueles que são perseguidos por serem justos, pois o Reino dos Céus é deles". O mundo parece nos dizer que “não vale a pena agir corretamente” nas nossas relações; contradizer este fato com a lisura das ações, aí está o valor do cristão. "Quando vocês forem maltratados, perseguidos e caluniados por serem meus seguidores, ótimo!". As aflições que sofremos por causa do Senhor Jesus não são castigo, são prêmio! É assim que Jesus ensina: "Fiquem contentes com isso! Fiquem muito contentes! Porque uma grandiosa recompensa espera vocês lá em cima no céu. E lembrem-se: Os profetas antigos também foram perseguidos". Ele nos estimula na caminhada, às vezes solitária. Ele nunca nos desampara. Ele vela por nós para que sejamos mesmo muito felizes! Ele nos tem em alta conta: "Vocês são o Sal da terra que a tornou suportável. Se perderem seu sabor, que acontecerá ao mundo? Vocês mesmos serão jogados fora e tratados como coisa sem valor. Vocês são a Luz do mundo - uma cidade sobre um monte, brilhando durante a noite para ser vista por todos. Não escondam a Luz de vocês! Deixem que ela brilhe para todos; e que as boas obras de vocês brilhem para serem vistas por todos, de tal maneira que louvem o Pai celeste". Este é um sermão que ressuscita sonhos; que refrigera a alma; que nos põe outra vez na estrada, cheios do combustível mais importante que se conhece: o amor!

sábado, 2 de abril de 2011

ASFIXIA ESPIRITUAL

Pr. Raul Marques

A asfixia é a insuficiência ou ausência de oxigenação. É a interrupção respiratória. É a retirada do fôlego. É a vida se esvaindo. Quando nos falta o essencial à vida podemos dizer que estamos mergulhados na asfixia; estamos sendo sufocados pela ausência de conteúdos vitais. Infelizmente, tem sido muito comum encontrar pessoas asfixiadas existencialmente. Viver e vencer não tem sido uma tarefa fácil no mundo moderno, sobretudo porque somos influenciados pelos modismos, pela cultura capitalista, pela patologia do consumismo, pela religiosidade utilitária que barganha pela “fé” os “favores” de Deus.

Assim como as empresas têm que dar lucros cada vez maiores, as pessoas são guiadas cada vez mais para o desejo de ser o que não são; possuir o que não precisam e a gastar o que não têm. Não nos amamos mais; apenas nos usamos mais. As famílias se tornaram tão somente um agrupamento de pessoas onde cada um vive o “seu mundo” particular, completamente indiferente aos sonhos e aspirações do outro, como se dele de nada dependesse. O estímulo à competição profissional chegou a um nível tão exacerbado que as pessoas não se vêem mais como pessoas, e sim, como coisas. O mais dramático em todo esse quadro é a contaminação do coração e da alma do homem afrontando a Deus. Dói profundamente no coração do criador a derrocada de toda a sua criação. Estamos vivendo a era da asfixia espiritual.

O que é o materialismo, senão o estado do homem que se afastou de Deus; (...) ele passa unicamente a preocupar-se com os seus interesses terrestres”. Jean-Paul Sartre. Esta é a dinâmica da vida humana atualmente. Esta realidade catastrófica atingiu todas as etnias, todos os povos, línguas, tribos e nações. Por este fato interessa-nos afirmar que o Senhor não é um Deus nacional, mas universal, pois Ele “amou o mundo de tal maneira que deu o Filho unigênito para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

A humanidade sente falta da oxigenação de uma fé madura, alimentada não pelas ideologias ou filosofias dos homens, mas pela força inconteste de toda palavra que sai da boca de Deus. Quando deixamos os preceitos de Deus estamos abdicando do sopro de vida. Quando permitimos que a nossa mente seja comandada pelos ditames deste mundo, automaticamente estamos iniciando o doloroso processo de asfixia espiritual, que redundará na morte da nossa alegria e na perda completa do nosso entusiasmo para com a vida.

Tenho conhecido jovens asfixiados com a vida que levam, perdidos em sonhos malfadados; desiludidos pelas fantasias das paixões; famílias inteiras que se arrastam numa sobrevida insignificante, trancadas nas conveniências sociais que, enfim, lhes fecharam a torneira da respiração. Tenho visto pessoas cuja fé nada opera, cuja esperança nada traz, cuja alegria pereceu; gente asfixiada por uma religiosidade decadente, sem propósitos para viver e vencer. Tenho encontrado pessoas sufocadas pelas decisões impensadas; marcadas por mágoas e ressentimentos vividos com quem lhes dizia amar.

Tenho absoluta certeza que Jesus também pensava nesse tempo quando disse: ““Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” João 16:33; Ele sabia que nos faltaria o ar nestes dias tão difíceis. O ar que necessitamos para a oxigenação da nossa vida não vem de baixo; ele vem do alto. Se quisermos de volta o sopro de Deus em nossas narinas devemos começar a fazer o que Jesus nos ensinou: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas". (Mt 6:33). A oxigenação da família é a oração cotidiana; a oxigenação da juventude é a verdadeira adoração; a oxigenação de todos os homens é o retorno ao primeiro amor!