quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O COMPLEXO DA CENTÉSIMA OVELHA


Pr. Raul Marques


É notícia recorrente no meio evangélico o fato de ovelhas desgarradas do rebanho virarem turistas da religião. O pior disso tudo é que a ovelha por onde passa dissemina a idéia de ter sido abandonada, completamente largada e, por isso mesmo, está às soltas buscando encontrar um novo aprisco.
O texto de Lucas 15.4-7 revela-nos duas belas imagens que poderão perfeitamente ilustrar e explicar esse fenômeno do comportamento religioso. Primeiro, o evangelista faz argüição à liderança do rebanho: “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?”. Certamente que nenhum pastor se compraz com o abandono de qualquer de suas ovelhas. É natural que o pastor sinta a falta de qualquer de suas ovelhas no rebanho e seja capaz de “deixar” noventa e nove daquelas cem a fim de alcançar o retorno daquela que está desgarrada. Mas é bastante significativo notar que o texto não deixa qualquer dúvida sobre o estado em que se encontra a centésima ovelha: ela é o arquétipo de um pecador arrependido. Informa-nos o texto: “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15.7).
Infelizmente não é o que costumeiramente vemos ocorrer nos apriscos: arrependimento. Ao contrário, vemos muito orgulho, vergonha, ressentimento, e o que é pior: atribuição de culpa ao pastor que no mais das vezes é o último a saber das causas, sendo sempre o único a tentar minimizar as conseqüências. Deve o pastor ser bíblico no tratamento das suas ovelhas, mas não poderá jamais compactuar com mimos e vaidades pessoais que levem ao comprometimento de todo o rebanho. Parece-nos que muitos sentem prazer o complexo da centésima ovelha: impactar a vida do pastor e causar desassossego nas noventa e nove que terão que suportar a dureza do deserto... Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós!

domingo, 14 de dezembro de 2008

QUE NATAL É ESSE?


A Bíblia relata que uma estrela serviu de guia para levar alguns homens que viajaram desde o Oriente até a cidade de Belém para honrarem aquele que acabara de nascer: Jesus, o Filho do Deus Altíssimo. Eles viajaram dias e noites a fio até que chegassem ao lugar de destino. Eles visitariam o Rei dos reis; o Senhor dos senhores. Chegariam, enfim, ao Príncipe da Paz; Conselheiro; Deus Forte; Pai da Eternidade, e diante dele colocariam os presentes que carregavam consigo: ouro, incenso e mirra. Estes presentes tinham significado. Não eram simplesmente objetos de consumo; eram símbolos de honra, glória, poder e majestade. Tudo isso seria posto diante do Rei Eterno e Imortal: Jesus, o Cristo.
Passados todos esses pouco mais de dois mil anos, o quadro da anunciação do Natal mudou completamente. A estrela de Belém foi trocada pelas estrelas terrenas. No Natal de Jesus os primeiros homens que souberam do seu nascimento eram pastores do campo, gente simples, pacata, recatada, sem nenhuma ambição de consumo, sem nenhuma pretensão de grandeza. Estamos nos aproximando de mais um período natalino em que dizemos comemorar o nascimento de Jesus. Mas, afinal, que Natal é esse? Os presentes que carregamos conosco são pra Jesus? Que significados têm os nossos presentes? Que simbologia têm os nossos presentes para Deus? Qual o sentido da nossa caminhada, atravessando desertos, noites e dias, até que cheguemos a Belém? Que Natal é esse que não contempla mais os pastores do campo, que não tem mais manjedoura, nem hospedaria?
Será que é Natal nas favelas das nossas cidades? Será que é Natal na consciência dos políticos? Será que é Natal na ganância dos empresários? Será que é Natal na indiferença dos religiosos? Será que é Natal para o verdadeiro cristianismo? O que Jesus espera receber de cada um de nós neste período? Que espírito hoje habita em nós? Por favor, apaguem as luzes porque é Natal. O verdadeiro Natal só pode ser visto com as luzes apagadas, deixando brilhar a estrela sobre a Belém existencial dos homens!