quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


A MANJEDOURA, A COROA E A CRUZ
Pr. Raul Marques 

V
alho-me das palavras de Paulo: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê...” (Romanos 1.16a) todas as vezes em que vejo, ouço ou leio sobre os crimes teológicos que são cometidos contra o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, sobretudo porque hipnotizam e carregam consigo multidões de incautos, sinceros na fé, porém rasos de entendimento. Não há como duvidar do poder de Jesus Cristo, que nos ensina há séculos um modelo de vida incomparável diante de tudo o quanto já se escreveu sob o céu!
Não é à toa que está escrito: “Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem” (I Cor 1.18-21).
A Igreja de Jesus Cristo não é lugar de agiotagem, de barganha, de escambo ou coisa que o valha. A Igreja do Senhor Jesus é, por assim dizer, um grande Tanque de Betesda, um pavilhão da misericórdia de Deus onde se ajuntam os necessitados, os doentes, os pecadores, os de alma suja, os fracos, os sem ânimo, os decepcionados, os desiludidos com as regras deste mundo caído. Neste pavilhão são encontrados os significados para a vida, a alegria que não pode ser comprada, o caráter, o respeito e a dignidade para os quais o Pai das Luzes nos fez.
A Casa de Deus não é agência lotérica, que é aberta para vender a sorte. O Deus da Igreja de Jesus Cristo não é ganancioso, nababesco, exibicionista ou maquiavélico. A Igreja de Jesus Cristo nasce numa manjedoura, lugar que se reservavam para a alimentação dos animais. Diante dela são colocados ouro, incenso e mirra, que nem a história conseguiu ofuscar a singeleza e simplicidade do seu profundo significado. A Igreja de Jesus Cristo se desenvolve em torno da sabedoria de um homem-Deus que recebe sobre si uma coroa de espinhos e não de pedras preciosas. Ela esvazia todos os significados de reino da opulência e se mostra traduzindo em si todo o sofrimento humano posto sob a cabeça de um rei manso e humilde que veio para nos redimir do pecado e nos reconciliar com Deus!
A Igreja de Jesus Cristo, finalmente, ao contrário de tudo o quanto se prega sob a égide da prosperidade material, falaciosa e sem escrúpulos, é definitivamente concluída e mostrada a toda a humanidade perdida, numa Cruz que atrai para si um dualismo de poder e fraqueza, um inimaginável diálogo entre fé e razão, bendição e maldição, pecado e santidade, capazes de enternecer os mais endurecidos corações. Obrigado, Senhor, por me fazer entender aqueles que ainda não compreendem o escândalo da cruz, e orar para que, enfim, recebam de Ti o verdadeiro sentido e significado porque "Pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo" (1Co 1.23).     

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


A DESCONSTRUÇÃO DA IGREJA
Pr. Raul Marques

Até que o Senhor Jesus volte para levar consigo a Sua Igreja gloriosa, teremos muito ainda que caminhar! A Bíblia nos informa que Jesus não voltará até que todos o tenham conhecido: “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.12-14). Penso que estamos assistindo a desconstrução da igreja que foi idealizada por Jesus... Será que estamos ouvindo ser pregado o mesmo Evangelho de que Jesus pregou? Tenho por certo que Jesus falava com Pedro sobre uma igreja indestrutível, alicerçada sobre o Cristo de Deus, a Rocha: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18). Não obstante a certeza de que a igreja de Jesus jamais poderá ser destruída, há uma crescente tendência à sua desconstrução e à sua descaracterização.
Encontro com muita facilidade pessoas desigrejadas, que perderam a simpatia pelas causas do Evangelho, tal como os povos têm perdido a esperança na política e, sobretudo, nos políticos. São pessoas feridas e decepcionadas que não conseguem mais vislumbrar qualquer semelhança entre teoria e prática. Tudo isto tem sentido nas palavras de Jesus: “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará...”, contudo, felizmente Ele prossegue: “mas aquele que perseverar até o fim será salvo”.
Onde deveria ocorrer sinergia, há disputa; onde deveria ocorrer gratuidade, há exploração; onde deveria estar a sacralidade, há o circo; de onde deveria nascer a liberdade, grassa a escravidão mental; do proveito coletivo, nasceu a obsessão pessoal e, sobre a miséria das multidões foram construídas arquiteturas monumentais e fortunas inomináveis...
A igreja não nasceu para vender ilusões; ela foi criada para manifestar a Verdade e a Glória de Deus. O cabeça da Igreja é Cristo. O apóstolo Paulo nos avisa que “temos a mente de Cristo” (I Cor 2.16), no entanto, as manifestações da “igreja” em nossos dias têm mostrado uma profunda amnésia cristã e uma indescritível cauterização das mentes. Jesus Cristo “veio buscar e a salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10); a igreja moderna está buscando perder-se na desconstrução dos ideais de Jesus Cristo, sob os pretextos mais diversos e difusos. Perdoa-nos, Senhor Jesus, pois somos grandes pecadores, mas, põe-nos de volta no caminho do primeiro amor. Porventura não é a nós que falas: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres” (Ap 2:4-5). Apieda-te, Senhor, de todos nós!      

sábado, 2 de fevereiro de 2013


A PEDRA...
Pr. Raul Marques


T
radicionalmente vem-se a dividir a Idade da Pedra em Paleolítico (ou Idade da Pedra Lascada), com um sistema econômico de caça-coleta, e Neolítico (ou Idade da Pedra Polida), no qual se produz a revolução para o sistema econômico produtivo e sedentário: agricultura e pecuária. Há um período intermédio chamado de Mesolítico, no qual usavam, ao mesmo tempo, instrumentos de pedra lascada e pedra polida. Os três períodos, por sua vez, encontram-se subdivididos” (Wikipédia).
De acordo com a Bíblia as primeiras Leis escritas foram estampadas em pedras: os dez mandamentos, que foram entregues a Moisés para divulgação com o seu povo. Naquele Livro, a pedra tem significações muito importantes e servem como designação e inspiração para todas as gerações posteriores. Foi da pedra que Moisés extraiu água para matar a sede. Foi com uma pedra que o pequeno Davi livrou o seu povo do cativeiro dos filisteus. Foi com o exemplo da pedra que Jesus Cristo demonstrou o Seu profundo senso de justiça ao livrar da morte por apedrejamento uma mulher vítima e algoz de si mesma, que foi posta sob a execração pública. Jesus usou a pedra como símbolo de sua firmeza e da sua inabalável conduta moral e espiritual. Os seus discípulos afirmaram e reproduziram com convicção que Ele era a pedra angular, aquela que aponta para uma edificação estruturada para sempre.
No entanto, a pedra ganha outros significados nas mãos humanas. No século XIX, nasceu em engenho de Cruz do Espírito Santo, o mais destacado poeta paraibano, Augusto dos Anjos, que afirmou em um dos seus mais famosos sonetos, Versos Íntimos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Um pouco mais adiante, no século XX, nasce em Itabira, Minas Gerais, um dos mais cotejados poetas contemporâneos, Carlos Drummond de Andrade, que dentre tantas coisas profundas e belas que escreveu não se conteve ao desabafar que “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra, no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho. Tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra” (No meio do Caminho).
Cresci ouvindo as pessoas dizerem que quando alguém está em dificuldades, está com uma pedra no sapato. Quando duas pessoas não se dão muito bem se constituem uma pedra no caminho da outra. Quando alguém é considerado insensível é porque tem um coração de pedra... Enfim, quem não tem a sua pedra dos significados?
Quando Jesus evitou o apedrejamento daquela mulher que foi denunciada por adultério, que pedras Ele evitou que fossem atiradas sobre ela? A pedra da falsa santidade? A pedra da justiça mascarada? A pedra da censura em favor de interesses escusos? A pedra da falta de misericórdia e amor? A pedra da religiosidade hipócrita? A pedra da supremacia masculina sobre a fragilidade feminina? Afinal de contas, com que tipos de pedras mais lidamos hoje em dia? Quem ainda não esteve sob a mira de muitas destas pedras?
Temo muito que tenhamos involuído tanto, ao ponto de sairmos da era do Homem da Pedra para a era do Homem de Pedra. Que Deus tenha misericórdia de todos nós!