ENTRE O PRAZER E O SACRIFÍCIO...
Pr. Raul Marques
A
vida que Jesus Cristo viveu será sempre o nosso mais completo manual e
fonte inesgotável de sabedoria, onde podemos encontrar respostas para as nossas
angústias, anseios, prazeres e sacrifícios que valham a pena continuar neste
mundo, ainda que, como “peregrinos e forasteiros”, conforme reconheceu o
apóstolo Pedro.
Tudo o que Jesus realizou estava recheado do prazer do cumprimento, entretanto, dentre tantos momentos singulares entre o prazer e o sacrifício, nenhum foi tão altamente tenso e questionador quanto aquele em que Ele desabafou a Sua inquietação perante Deus: “Jesus saiu, então, e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: "Orai para que não entreis em tentação". Depois afastou-Se bruscamente deles até à distância de um tiro de pedra, aproximadamente, e, posto de joelhos, começou a orar dizendo: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua". Então vindo do Céu, apareceu-Lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos encontrando-os a dormir devido à tristeza. Disse-lhes: "Porque dormis? “Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação” Lucas 22.39-46. Neste momento agudo da vida de Jesus “o vinho” não tinha o componente do prazer, posto que se revelara ali a face mais cruel do sofrimento sacrificial. O “vinho” tinha gosto de fel! A “obra” tinha o peso da humanidade inteira mergulhada no mais profundo tremedal de lama, no pecado.
Felizmente nós também
temos os mesmos sentimentos do Mestre... Quantas vezes nos sentimos no limiar
do prazer e do sacrifício? Querendo continuar fazendo a Sua vontade, comendo a
Sua comida, nos vemos diante do amargor do vinho que é sempre servido nos
cálices da amargura, da tristeza, do torpor e da indiferença? Ainda assim, com
toda esta ambiguidade própria da nossa humanidade frágil, continuamos a sentir
como o nosso Mestre, como Ele fez com os seus discípulos: “Antes da festa
da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para
o Pai, e havendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até o fim” João 13:1.