Correndo
atrás do vento...
Pr. Raul
Marques
“Tudo é vaidade e correr
atrás do vento” (Ec. 2.17)
P
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ara
Salomão, “correr
atrás do vento”,
significa tentar desesperadamente
abraçar, sem jamais conseguir, a coisa buscada. Ele retrata a caça, exclusivamente
humana, das conquistas sem a dependência do Criador. Ele vai, finalmente, se
dar conta deste drama abissal no seu filosófico e amargurado fim de discurso...
Este é, de fato, um filme triste, porém verdadeiro e desafiador, da insensatez
e da insensibilidade humanas, encarado por um rei, sábio, rico e destemido, que
não vê saída para a sua finitude e bate de cara contra o muro de sua própria
existência.
Ao longo da vida ele busca presentear-se e regalar-se de todas as
formas possíveis, sempre prestando contas apenas a si mesmo, como se nada,
jamais, tivesse fim. Ele se exalta, se estima, e se percebe auto-suficiente,
capaz de se encastelar e afrontar a dor e a amargura da existência, mas, não
vai muito longe... Ele entende, ao fim de cada reflexão, que tudo vale a pena
circunstancialmente. Ele percebe a efemeridade de sua vida antes do passo
seguinte. O rei percebe, afinal, que o seu reinado não era bem aquilo que
supunha; que o seu poder não era ilimitado; que os seus recursos não lhe
bastariam sempre; que a sua saúde e virilidade não eram tão constantes; que os
seus súditos não seriam fieis indeterminadamente; que a sua família não seria
tão politicamente perfeita e nem socialmente tão aconselhável! O pensador se dá
conta de que existe vida para além das palavras; que a beleza é relativa; que o
vigor tem limite e é marcado pelo tempo; que as festas e regalos são
paradoxais; que nunca ninguém estará sempre com a razão; que nada é de todo
imprestável e que tudo, absolutamente “tudo é vaidade e correr atrás do vento”.
Que grande tolice é pensar que nos bastamos a nós mesmos! Quão
ingênuos somos nós quando pensamos ser aquilo que, talvez, nunca venhamos a
ser! Quão rotativa é a cadeira do carrossel da vida, na qual nos sentamos com a
enganosa sensação de que, jamais, ocorrerão enguiços... O mesmo rei que pensara
ter conquistado tanto, conclui que ele em nada difere daquele que nada possui;
o fim de ambos é o mesmo... Ele trabalhou, desafiou, contendeu, construiu,
ajuntou riquezas, ganhou fama, contudo, não pode conter a frustração de que, no
máximo, deixaria tudo para quem lhe sucedesse, à quem a vida lhe poria em
condições absolutamente iguais: finitude, dependência e suscetibilidade.
Nada hoje é diferente! Tudo continua igual desde sempre! Por que
ajuntamos tanto? Por que consumimos tanto? Por que lutamos tanto para parecer
diferentes dos outros bilhões de iguais? Qual o motivo pelo qual poucos têm
tanto e muitos nada têm? Qual a necessidade de se possuir diversas moradias se
muitos sequer conseguem um banco de praça para repousar em paz? Por que,
afinal, famílias se regozijam em possuir a mais rica lápide dos cemitérios?
Qual a diferença entre o câncer no fígado do bilionário e do mais pobre dos
homens da terra? Que diferença haverá entre o caviar e o feijão com gorgulho,
se ambos apodrecerão ao final do ciclo? Qual a diferença entre o analfabeto e
aquele que encheu o mundo de livros com suas ideias e pensamentos, se ambos,
inexoravelmente, perecerão no esquecimento? Finalmente, com um misto de tristeza
e relaxamento, o pensador conclui: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e
guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus
trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido,
seja bom, seja mal”
Eclesiastes 12:13,14. Pensemos nisto! Vamos parar de correr, ajuntar e tentar
merecer o bem que eventualmente possamos receber na terra dos viventes, a
despeito de todos os outros que vão ficando à margem do caminho por onde passamos,
pois, afinal, “tudo
é vaidade e correr atrás do vento!”.
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