sábado, 8 de outubro de 2016

Correndo atrás do vento...
Pr. Raul Marques


“Tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec. 2.17)


P
ara Salomão, “correr atrás do vento”, significa tentar   desesperadamente abraçar, sem jamais conseguir, a coisa buscada. Ele retrata a caça, exclusivamente humana, das conquistas sem a dependência do Criador. Ele vai, finalmente, se dar conta deste drama abissal no seu filosófico e amargurado fim de discurso... Este é, de fato, um filme triste, porém verdadeiro e desafiador, da insensatez e da insensibilidade humanas, encarado por um rei, sábio, rico e destemido, que não vê saída para a sua finitude e bate de cara contra o muro de sua própria existência.
Ao longo da vida ele busca presentear-se e regalar-se de todas as formas possíveis, sempre prestando contas apenas a si mesmo, como se nada, jamais, tivesse fim. Ele se exalta, se estima, e se percebe auto-suficiente, capaz de se encastelar e afrontar a dor e a amargura da existência, mas, não vai muito longe... Ele entende, ao fim de cada reflexão, que tudo vale a pena circunstancialmente. Ele percebe a efemeridade de sua vida antes do passo seguinte. O rei percebe, afinal, que o seu reinado não era bem aquilo que supunha; que o seu poder não era ilimitado; que os seus recursos não lhe bastariam sempre; que a sua saúde e virilidade não eram tão constantes; que os seus súditos não seriam fieis indeterminadamente; que a sua família não seria tão politicamente perfeita e nem socialmente tão aconselhável! O pensador se dá conta de que existe vida para além das palavras; que a beleza é relativa; que o vigor tem limite e é marcado pelo tempo; que as festas e regalos são paradoxais; que nunca ninguém estará sempre com a razão; que nada é de todo imprestável e que tudo, absolutamente “tudo é vaidade e correr atrás do vento”.
Que grande tolice é pensar que nos bastamos a nós mesmos! Quão ingênuos somos nós quando pensamos ser aquilo que, talvez, nunca venhamos a ser! Quão rotativa é a cadeira do carrossel da vida, na qual nos sentamos com a enganosa sensação de que, jamais, ocorrerão enguiços... O mesmo rei que pensara ter conquistado tanto, conclui que ele em nada difere daquele que nada possui; o fim de ambos é o mesmo... Ele trabalhou, desafiou, contendeu, construiu, ajuntou riquezas, ganhou fama, contudo, não pode conter a frustração de que, no máximo, deixaria tudo para quem lhe sucedesse, à quem a vida lhe poria em condições absolutamente iguais: finitude, dependência e suscetibilidade.
Nada hoje é diferente! Tudo continua igual desde sempre! Por que ajuntamos tanto? Por que consumimos tanto? Por que lutamos tanto para parecer diferentes dos outros bilhões de iguais? Qual o motivo pelo qual poucos têm tanto e muitos nada têm? Qual a necessidade de se possuir diversas moradias se muitos sequer conseguem um banco de praça para repousar em paz? Por que, afinal, famílias se regozijam em possuir a mais rica lápide dos cemitérios? Qual a diferença entre o câncer no fígado do bilionário e do mais pobre dos homens da terra? Que diferença haverá entre o caviar e o feijão com gorgulho, se ambos apodrecerão ao final do ciclo? Qual a diferença entre o analfabeto e aquele que encheu o mundo de livros com suas ideias e pensamentos, se ambos, inexoravelmente, perecerão no esquecimento? Finalmente, com um misto de tristeza e relaxamento, o pensador conclui: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal” Eclesiastes 12:13,14. Pensemos nisto! Vamos parar de correr, ajuntar e tentar merecer o bem que eventualmente possamos receber na terra dos viventes, a despeito de todos os outros que vão ficando à margem do caminho por onde passamos, pois, afinal, “tudo é vaidade e correr atrás do vento!”. 

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