EU TENHO MEDO...
Pr. Raul Marques
Quando criança eu tinha muitos medos! Medo das muitas águas; do escuro intenso; das portas fechadas com trancas; do “lobisomem”; do “velho do saco”; da “bruxa malvada”; enfim... Na medida em que fui crescendo outros medos foram sendo acrescentados: medo de matemática; medo das confusões e das multidões; medo de ser chamado ao quadro negro, etc. A grande maioria deles foi superada pela razão e pela maturidade; outros, no entanto...
O medo é um sentimento profundamente complexo como a nossa própria existência! Ele é bom, enquanto sinal de alerta, e mal, se se tornar patológico. Ao longo da nossa vida outros medos vão se associando à caminhada e vão nos mostrando mais nítidas certas obscuridades... Eles nos ajudam na nossa proteção pessoal, ao mesmo tempo em que podem proteger as outras pessoas de nós...
O medo não pode ser considerado um ato de covardia quando servir de motivação para o exílio contra as forças da impiedade! Ele pode, perfeitamente, se constituir no canal mais legítimo a nos levar aos “getsêmanis” em busca de paz.
Eu tenho medo do “homem”! Não é sem motivo que a Bíblia vaticina: “Maldito o homem que confia no homem, que faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17. 5). Eu tenho medo dos “falsos irmãos”, de quem o apóstolo Paulo fez menção (II Cor 11.26). O apóstolo teve tanto receio deste aspecto que, angustiado, foi além: “agora vos escrevo para que não vos associeis com qualquer pessoa que, afirmando-se irmão, for imoral ou ganancioso, idólatra ou caluniador, embriagado ou estelionatário. Com pessoas assim não deveis, sequer, sentar-se para uma refeição” (I Coríntios 5.11).
Tenho medo do que Jesus profetizou sobre esses fatos difíceis: “Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” Mateus 24.10-12. Tenho medo que as decepções resultem em apatia ou, ainda pior, em antipatia às atividades do exercício da fraternidade legítima, sobretudo, quando ouço a voz do Mestre a ressoar: “Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” Lucas 18:8b.
Tenho encontrado tanta gente ferida, enganada, desiludida e frágil com as deformadas relações cristãs, que falta-me o fôlego... Conheço líderes abandonados do mesmo modo como conheço ovelhas nanicas e desnutridas clamando por amor e acolhimento. Tenho medo do tempo em que vivo. Por isto, Senhor, tem misericórdia de todos nós! Tenho saudades dos medos de quando criança... Já não sinto aquele medo ingênuo do escuro da noite; tenho medo, muito medo, das densas trevas da mente e coração humanos...
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