Ultimamente a gente não sabe mais definir o que é pior de ver: se os reality shows das TVs, que rendem milhões de reais, ou se os shows reais da política nacional, que rendem milhões de votos... O certo é que, tanto em uns quanto em outros, o povo continua sendo a parte mais utilitária da questão.
Por um lado, uma das emissoras de televisão que mais crescem no país, e que tem no seu nascedouro a marca do “cifrão evangélico”, leva ao ar uma dessas obras primas da coisificação e da banalização da intimidade das pessoas, onde o país assiste boquiaberto um festival de palavrões que empobrecem a mídia e prestam um enorme desserviço à cultura nacional. De outro, uma guerra eletrônica sem precedentes, onde as classes emergentes se deslumbram com as “verdades” eleitoreiras de vários candidatos que, inteligentemente, põem o povo para se digladiar consigo mesmo sob a subjacente alegação de que está mais maduro e que, portanto, já sabe votar e escolher livremente (?).
Nunca recebi tantos emails com o tema da política brasileira quanto agora. E o que é pior: gente que nunca foi vista se expondo por causa do Reino de Deus, expondo-se até moralmente em favor deste ou daquele candidato, supondo que está sendo instrumento de Deus como formador de opinião política. E nesta peleja enfadonha e renhida, o povo de Deus vai se dividindo e cerrando fileiras uns contra os outros. Enquanto isso, os políticos continuarão fazendo as suas alianças nos bastidores, e o povo voltando à sua cavernosa realidade depois das urnas.
Lamento que muitos estejam tomando partido com base na indústria da informação, supondo que quem os informa está absolutamente isento das maracutaias de uns e de outros. Lamento que muitos estejam se enganando tomando aqueles demônios de ontem como anjos de hoje. Lamento ter visto e ouvido a mudança nos discursos de uns e de outros com vistas nos quase 20 milhões de votos que provocaram o segundo turno. Lamento, sobretudo, que tantos se iludam com uns e outros que invocam o nome de Deus para hipnotizar e anestesiar o seu povo.
Jesus Cristo também vivenciou experiências políticas no seu tempo sendo, inclusive, vitima dela. O único partido, no entanto, no qual Jesus se envolveu foi o partido do povo, para quem a sua mensagem sempre foi muito clara: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” Mt 6.33. Temo que depois de todo esse embaraço político muita gente saia machucada, frustrada e dividida. Espero que no grande espetáculo eleitoral brasileiro, cujos protagonistas ora são anjos, ora são demônios, o nosso ingresso não esteja sendo pago com o mesmo preço dos reality shows: a inocência de milhões e milhões de telespectadores. Que Deus tenha misericórdia de todos nós!
Um comentário:
Meu irmão e amigo Raul,
De fato, parece mesmo que o povo está mais interessado pelas coisas da política. Isso tem o seu lado bom; pois, como já dizia Arnold Toynbee, "o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam".
Você tem razão ao criticar a forma como muitos se envolvem passionalmente, manipulando e sendo manipulados (às vezes, usando o Santo Nome em vão).
De fato, ainda não há muito que se esperar de um povo que não gosta de ler, que ainda não conhece a Bíblia nem nunca abriu a Constituição!
Abraço da Serra do Bodopitá.
Postar um comentário