Pr. Raul Marques
Há mais de dois mil anos, quando foi escrita a Carta aos Hebreus, já se debatia a entrada e o abandono dos crentes na Casa de Deus, com a mesma naturalidade e sob os pretextos mais diversificados que se possa pensar para os dias de hoje. Tanto é verdade que houve naquela Carta uma recomendação específica a este respeito: “Não deixemos de congregar-nos, como é o costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quando vedes que o dia se aproxima.” (Hebreus 10.24, 25). Mas, essa história não começou aí. Já na época de Jesus, mais específicamente quando Ele ressuscitou, houve um fato relevante sobre o abandono repentino da fé e do bom convívio dos irmãos, sob o pretexto da frustração com Deus.
No Evangelho de Lucas, capítulo 24 e versículos 13 a 53, encontramos dois homens desenganados com a fé em Jesus Cristo, abandonando a cidade santa de Jerusalém na direção de uma comunidade chamada Emaús, completamente desiludidos em suas expectativas religiosas. Creio que esse texto nos servirá perfeitamente para ilustrar os objetivos desta nossa reflexão.
Não é difícil encontrar pelas cidades pessoas que tiveram experiências com Jesus por algum tempo e que, de repente, desistiram desta caminhada por motivos os mais banais, deixando o convívio da igreja, abandonando o trabalho do Reino, colocando de largo irmãos à quem dizia amar, e vivendo uma vida de completa insignificância espiritual. Esse grupo de pessoas pode ser chamado de “discípulos de Emaús”, pois tem características muito semelhantes àqueles dois homens lembrados por Lucas. É possível abandonar a igreja por não ver milagres acontecendo como solicitados. Os homens de Emaús estavam frustrados porque, para eles, o milagre da ressurreição não havia ocorrido; a cegueira espiritual não lhes deixava ver. É possível saber de pessoas que abandonaram a igreja porque os seus problemas pessoais não se acabaram. Os homens de Emaús também estavam ressentidos porque esperavam que Jesus redimisse Israel politicamente, mas esse não era o prpósito do Senhor. Muitos deixam o convívio da igreja por serem praticantes da melediscência e das fofocas de última hora. Os homens de Emaús também eram assim. Eles inquiriram de Jesus: “E Ele lhes disse: que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e porque andais tristes? E respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse: És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela tem ocorrido nesses dias?”. Muitos também largam de vez a igreja por não conhecerem nada das Escrituras. Os homens de Emaús eram exatamente assim. Por isso Jesus lhes apareceu e caminhou com eles para trazer-lhes à memória tudo aquilo que eles deviam saber e não sabiam; tudo o que deveriam praticar e não praticavam, e por isso estavam tão frustrados: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. Os homens de Emaús só conseguiram abrir os olhos espirituais depois de voltarem à comunhão com o Senhor, com Ele à mesa, partindo o pão. Que Deus tenha misericórdia de todos nós!
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