quinta-feira, 13 de maio de 2010

O VERDADEIRO SUPRIMENTO


Pr. Raul Marques




Eu vivi uma parte da minha vida junto com meu pai e meus irmãos, atuando numa pequena mercearia, passando por experiências que jamais saíram da minha memória. O dia da feira era sempre o sábado, quando muitos agricultores deixavam o trabalho árduo do campo e vinham para a cidade fazer compras para abastecimento familiar. Víamos de tudo. Alguns ficavam tão embevecidos com as novidades urbanas, que gastavam todo o dinheiro com jogo e cachaça antes mesmo de chegarem até a mercearia, e aí aconteciam os lamentos e os desabafos. Outros, coitados, não conseguiam ver seus patrões e assim, sem o recebimento dos seus parcos salários, se arriscavam a pedir fiado até o próximo sábado. Outros, porém, apesar de terem recebido seus limitados recursos não conseguiam levar para casa tudo o que precisavam e iam devolvendo mercadorias até que bastassem à soma que traziam no bolso. Tudo aquilo me doía muito, embora visse também muita gente feliz simplesmente por estar voltando para casa com a tarefa cumprida: compras feitas, nada fiado, nada de jogo ou bebida, e a certeza do suprimento garantido para aquela semana.
Nós vivíamos uma vida muito simples; tudo o que vendíamos naquela feira supria as nossas necessidades e ainda nos permitia estudar e sonhar com dias melhores. Meu pai, um homem muito honesto, cumpridor dos seus deveres, pacato, sóbrio, romântico com a família; minha mãe, uma gerente doméstica, não por obrigação, mas por talento, vocação e prazer, nos conduzia com a obstinação de quem estava absolutamente certa do caminho através do qual nos queria ver andar.
Quantas vezes vi meu pai escrevendo poemas que nunca foram publicados, mas arquivados debaixo dos papéis do seu birô: era a hora em que ele supria as suas carências dos sonhos não realizados. Aprendi com tudo isso que todos nós temos muitos anseios e sonhos que precisam ser supridos ao longo da vida, mas, aprendi, sobretudo quando cresci, que o verdadeiro suprimento para as nossas almas só pode vir do Senhor. Hoje, quando leio os Salmos 127 e 128, vejo com absoluta nitidez a mão de Deus a guiar-me desde os tempos em que não havia o conhecimento devido. Percebo com profunda gratidão que o Senhor me pôs numa família temente e respeitosa quanto aos valores mais sagrados; permitiu-me andar pelo vale da sombra e da morte sem que nele me detivesse; concedeu-me a graça de formar também uma família que não retira os olhos do Senhor Jesus; pôs os meus pés sobre a rocha, e nos meus lábios um cântico novo; de modo que hoje sei perfeitamente, apesar das minhas infinitas limitações, que nEle eu posso esperar com paciência, pois Ele se inclinará para mim e ouvirá o meu clamor; o meu, o seu, e o de todo aquele que nele crer! Por isso, vale a pena elevarmos a Deus a nossa oração através do Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente às águas tranquilas; Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome, Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte não temeria mal algum, porque tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam; Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda; Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias de minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias”.

2 comentários:

Anônimo disse...

pastor raul suas menssagens são de grande profundidade pastoral e teologia, parabens.
carlos vidal lima - joão pessoa paraiba

Anônimo disse...

pastor raul além de grande escritor de menssagens, o senhor também e um bom escritor, parabens.
carlos vidal lima - joão pessoa-pb