sábado, 15 de maio de 2010

VINGANÇA, NÃO!

Pr. Raul Marques

Meu pai foi um homem muito simples, com grau de instrução primária, mas, sempre muito atento às coisas importantes da vida, ávido pelo conhecimento libertário que abre novos horizontes e capacita para o enfrentamento das lutas diárias. Pois bem, foi através dele que ouvi falar pela primeira vez sobre dois livros com personagens muito marcantes: “Cela 2455 – o corredor da morte”, cuja personagem central era o próprio autor Caryl Whittier Chessman; e “Vingança, não!”, de Francisco Pereira da Nóbrega, que tinha a própria alma descrita na vida da família que protagonizava a história. Essas obras me saltaram à memória em função da violência que vemos acontecer na atualidade, de modo que, apesar de perturbadora, também tem muito a nos ensinar, mesmo que pela dor, evitando a cadeia do mal e o conseqüente desinteresse pelo bem. Vivenciamos hoje uma guerra por dia, e em cada guerra inúmeras batalhas: pela família, pelo emprego, pela paz, pela fé e pelos relacionamentos humanos. Somos hoje uma população mundial de mais de 6,5 bilhões de pessoas que agonizam de alguma forma e que não sabem mais o caminho da convivência, da tolerância e da mutualidade. Até parece que não cabemos dentro do planeta – (a superfície da terra é estimada em 510.065.500 Km2) - e por isso necessitamos empurrar alguns milhares ladeira a baixo todos os dias, na cruel ilusão de que estamos preservando o nosso espaço pessoal.

Chessman não queria vingar-se do mundo e da justiça; ele ansiava, isto sim, que se fizesse justiça a alguém que trazia consigo muitas marcas de sofrimentos e que estava lutando com todas as suas forças para defender a si mesmo. “Em sua pequena cela na penitenciária de San Quentin no estado da Califórnia, a famosa cela 2455, Chessman que só tinha feito o quinto ano primário fez algo que deixou o mundo boquiaberto: leu mais de dois mil livros de direito e tornou-se autodidata em leis... Chessman sofreu sua agonia por nove minutos na Cadeira de Gás, ele que através de dezenas de petições aos tribunais e a corte suprema americana, conseguira adiar por sete vezes a sua execução, desta vez não teve jeito. O coração dele já não bate mais, mataram aquele que no mundo todo se tornara um famoso rapaz, sua luta pela vida e comoveu gente importante demais”.

Chico Pereira transcreveu a saga da própria família marcada pela dor, e cunhou o título da sua obra bem no coração da humanidade: “Vingança, não!”. É de amor que todos necessitamos. Amor capaz de dizer verdades que libertem; que seja capaz de parecer duro, sem ser leviano; que possa produzir mudança e crescimento sem qualquer conotação de vingança. Que os nossos erros tragam consigo lições libertárias e da dimensão do amor, “porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Filho unigênito para que o todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

Nenhum comentário: