Pr. Raul Marques
A vida que Jesus Cristo viveu será sempre o
nosso mais completo manual e fonte inesgotável de sabedoria, onde podemos
encontrar respostas para as nossas angústias, anseios, prazeres e sacrifícios
que valham a pena continuar neste mundo, ainda que, como “peregrinos e
forasteiros”, conforme reconheceu o apóstolo Pedro.
Certa
vez Jesus afirmou diante dos seus discípulos: “A minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou, e realizar a sua obra” João 4.34. Alimentar-se
é, além de uma necessidade, um prazer humano dos mais cultivados. É óbvio que o
Mestre tinha fome e os seus discípulos estavam certos disso, porém, Jesus lhes
fala sobre uma fome que não pode ser saciada com coisas perecíveis. Ele fala de
um prazer muito particular: fazer a vontade de Deus e realizar a Sua obra. Este
fato se sobrepunha a quaisquer outros que viesse a vivenciar. Não obstante,
mesmo aquilo que nos dá prazer em realizar cansa e fatiga. Não é o cansaço de
perder o apetite, mas a tenebrosa sensação de compreender a linha tênue entre o
fim do prazer e o princípio do sacrifício.
Tudo
o que Jesus realizou estava recheado do prazer do cumprimento, entretanto,
dentre tantos momentos singulares entre o prazer e o sacrifício, nenhum foi tão
altamente tenso e questionador quanto aquele em que Ele desabafou a Sua
inquietação perante Deus: “Jesus saiu, então, e foi, como de costume,
para o monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando
chegou ao local, disse-lhes: "Orai para que não entreis em tentação".
Depois afastou-Se bruscamente deles até à distância de um tiro de pedra,
aproximadamente, e, posto de joelhos, começou a orar dizendo: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não
se faça, contudo, a minha vontade mas a tua". Então vindo do Céu,
apareceu-Lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais
instantemente o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na
terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos encontrando-os
a dormir devido à tristeza. Disse-lhes: "Porque dormis? “Levantai-vos e
orai, para que não entreis em tentação” Lucas 22.39-46. Neste momento
agudo da vida de Jesus “o vinho” não tinha o componente do
prazer, posto que se revelara ali a face mais cruel do sofrimento sacrificial. O
“vinho”
tinha gosto de fel! A “obra” tinha o peso da humanidade
inteira mergulhada no mais profundo tremedal de lama, no pecado.
Felizmente
nós também temos os mesmos sentimentos do Mestre... Quantas vezes nos sentimos
no limiar do prazer e do sacrifício? Querendo continuar fazendo a Sua vontade,
comendo a Sua comida, nos vemos diante do amargor do vinho que é sempre servido
nos cálices da amargura, da tristeza, do torpor e da indiferença? Ainda assim,
com toda esta ambiguidade própria da nossa humanidade frágil, continuamos a
sentir como o nosso Mestre, como Ele fez com os seus discípulos: “Antes
da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste
mundo para o Pai, e havendo amado os seus que
estavam no mundo, amou-os até o fim” João 13:1.
Um comentário:
Palavras bastante pertinentes ao que convivemos no dia-a-dia. Sempre me fazem refletir sobre minhas atitudes como cristão. Um abraço.
Postar um comentário