sábado, 24 de julho de 2010

PERDER PODE SER UMA GRANDE VITÓRIA

Pr. Raul Marques

Como habitantes de um mundo extremamente capitalista, tendemos a aceitar com naturalidade a crença de que nascemos para o triunfo da matéria, de tal modo que ganhar só faz sentido quando for sinônimo de ajuntar e possuir. Essa violência ideológica fomenta a destruição do sentimento de gratidão para com Deus, a vida, a família e os amigos, pois não permite que estejamos contentes com o pouco que temos, senão que almejemos sempre mais, e mais, e mais...

Perder pode ser uma grande vitória, por mais paradoxal que pareça. Às vezes é necessário que percamos coisas, oportunidades e pessoas, de maneira que percebamos com clareza que éramos mais pobres com elas, e que estávamos agarrados a desvalores. O apóstolo Paulo, por exemplo, afirma ter perdido tudo por amor a Cristo, ao ponto de ressaltar “não mais vivo eu, mas Cristo vive em mim”. Ele perdeu as influências do Sinédrio, as benesses do governo romano, a comodidade das salas infestadas de religiosidade, trocando tudo pela poeira das estradas, a insegurança dos caminhos, a imagem cansada de pessoas simples, a humildade dos casebres e a sabedoria dos iletrados.

Esta semana li com profunda avidez dois artigos maravilhosos, escritos pela pena da experiência do real e não da ficção. O Bispo Anglicano Robinson Cavalcanti, registrando os seus “50 anos de crente”, depois de relatar tantas experiências, finaliza o artigo dizendo: “Fui difamado e processado, e sofri um nunca imaginado martírio no interior da própria igreja. Continuo, porém, ainda vivo, ministrando, assistido por meu Senhor!”. O Pr. Ricardo Gondim, da Assembléia de Deus Betesda, conclui o seu magistral artigo, dizendo: “Não quero que discursos substituam a força do abraço. Os amigos de Jó tropeçaram nos cadarços porque se imaginaram aptos para oferecer consolo com juízos horrorosos. Quero falar do céu sem desgrudar-me do mundo e mostrar que a vida abundante prometida por Jesus não merece ser empurrada para depois da morte. Repetirei as palavras de Paulo: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”. Vou enfatizar que a verdadeira religião consiste em cuidar do órfão e da viúva. E não me esquecerei: toda a lei se resume em amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo. Se conseguir teologar assim, com a ternura dos poetas e a paixão dos profetas, completarei a minha carreira, tendo guardado a fé”.

Às vezes ficamos murmurando com certas perdas, mas, com o tempo, percebemos que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Algumas vezes na nossa vida precisamos agradecer a Deus tudo o que perdemos, pois, somente assim, Ele nos faz mais que vencedores!

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