quarta-feira, 1 de setembro de 2021

 Correndo atrás do vento...

Pr. Raul Marques



“Tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec. 2.17)


P
ara Salomão, “correr atrás do vento”, significa tentar   desesperadamente abraçar, sem jamais conseguir, a coisa buscada. Ele retrata a caça, exclusivamente humana, das conquistas sem a dependência do Criador. Ele vai, finalmente, se dar conta deste drama abissal no seu filosófico e amargurado fim de discurso... Este é, de fato, um filme triste, porém verdadeiro e desafiador, da insensatez e da insensibilidade humanas, encarado por um rei, sábio, rico e destemido, que não vê saída para a sua finitude e bate de cara contra o muro de sua própria existência.
Ao longo da vida ele busca presentear-se e regalar-se de todas as formas possíveis, sempre prestando contas apenas a si mesmo, como se nada, jamais, tivesse fim. Ele se exalta, se estima, e se percebe autossuficiente, capaz de se encastelar e afrontar a dor e a amargura da existência, mas, não vai muito longe... Ele entende, ao fim de cada reflexão, que tudo vale a pena circunstancialmente. Ele percebe a efemeridade de sua vida antes do passo seguinte. O rei percebe, afinal, que o seu reinado não era bem aquilo que supunha; que o seu poder não era ilimitado; que os seus recursos não lhe bastariam sempre; que a sua saúde e virilidade não eram tão constantes; que os seus súditos não seriam fieis indeterminadamente; que a sua família não seria tão politicamente perfeita e nem socialmente tão aconselhável! O pensador se dá conta de que existe vida para além das palavras; que a beleza é relativa; que o vigor tem limite e é marcado pelo tempo; que as festas e regalos são paradoxais; que nunca ninguém estará sempre com a razão; que nada é de todo imprestável e que tudo, absolutamente “tudo é vaidade e correr atrás do vento”.
Que grande tolice é pensar que nos bastamos a nós mesmos! Quão ingênuos somos nós quando pensamos ser aquilo que, talvez, nunca venhamos a ser! Quão rotativa é a cadeira do carrossel da vida, na qual nos sentamos com a enganosa sensação de que, jamais, ocorrerão enguiços... O mesmo rei que pensara ter conquistado tanto, conclui que ele em nada difere daquele que nada possui; o fim de ambos é o mesmo... Ele trabalhou, desafiou, contendeu, construiu, ajuntou riquezas, ganhou fama, contudo, não pode conter a frustração de que, no máximo, deixaria tudo para quem lhe sucedesse, à quem a vida lhe poria em condições absolutamente iguais: finitude, dependência e suscetibilidade.
Nada hoje é diferente! Tudo continua igual desde sempre! Por que ajuntamos tanto? Por que consumimos tanto? Por que lutamos tanto para parecer diferentes dos outros bilhões de iguais? Qual o motivo pelo qual poucos têm tanto e muitos nada têm? Qual a necessidade de se possuir diversas moradias se muitos sequer conseguem um banco de praça para repousar em paz? Por que, afinal, famílias se regozijam em possuir a mais rica lápide dos cemitérios? Qual a diferença entre o câncer no fígado do bilionário e do mais pobre dos homens da terra? Que diferença haverá entre o caviar e o feijão com gorgulho, se ambos apodrecerão ao final do ciclo? Qual a diferença entre o analfabeto e aquele que encheu o mundo de livros com suas ideias e pensamentos, se ambos, inexoravelmente, perecerão no esquecimento? Finalmente, com um misto de tristeza e relaxamento, o pensador conclui: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal” Eclesiastes 12:13,14. Pensemos nisto! Vamos parar de correr, ajuntar e tentar merecer o bem que eventualmente possamos receber na terra dos viventes, a despeito de todos os outros que vão ficando à margem do caminho por onde passamos, pois, afinal, “tudo é vaidade e correr atrás do vento!”.  Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

sábado, 7 de agosto de 2021

 O PROFUNDO AMOR DE DEUS POR NÓS

Pr. Raul Marques

Jesus Chorou” João 11:35

U
m dos textos mais populares e mais expressivos da Bíblia se encontra no Evangelho de João, capítulo 3, e versículo 16: “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”.  É, certamente, o versículo mais citado na evangelização dos povos, e de onde já foram extraídos os mais relevantes sermões que a humanidade tenha ciência. Nele estão revelados os mais profundos sentimentos de Deus por nós: o Amor, a Graça e a Salvação. 
Jesus Cristo materializou este vaticínio de Deus de maneira extraordinariamente sobrenatural e definitiva. Ele revelou ao mundo em Si mesmo a realidade da fé, a inequívoca prova da existência de Deus, Criador e mantenedor de toda a existência, de todos os seres e de todas as coisas.
Há, no entanto, outro versículo bíblico, que nos revela a profundidade filosófica do seu conteúdo, com a expressão do sentimento do luto de Deus diante da finitude humana. Jesus sempre foi muito bem relacionado socialmente. Sempre teve apreço e afeição por todas as pessoas, inclusive por aquelas que o ignoravam ou até o desprezavam. No capítulo 11 do seu Evangelho, João faz o relato da morte de um homem que era um amigo muito próximo de Jesus, de quem Ele apreciava a companhia e a hospitalidade familiar. 
Ocorreu, portanto, a morte repentina deste amigo chamado Lázaro, quando Jesus fazia a sua peregrinação evangelística. Quando ficou sabendo do fato, Jesus não se deteve diante da morte e, no meio do caminho, cuidou de mais alguém que dele necessitava, até que chegou no velório do estimado amigo. Lá Ele encontrou um quadro aterrador: pranto, desolação, desesperança, solidão e desespero. Diante daquele infausto ocorrido, “Jesus chorou!”; Ele não conteve a emoção e desatou a chorar... A demonstração de Jesus com as lágrimas comoveu a multidão que se aglomerava nas proximidades da casa da família, e mais ainda, diante do túmulo onde fora posto o cadáver do seu amigo.
Nesta expressão aparentemente simples e natural de que “Jesus chorou”, está contida toda a significação do sentimento mais que humano da perda, do luto, da impotência do homem perante a realidade da morte; enfim, do mais concreto descontrole do homem sobre si mesmo. Quando Jesus chorou, Ele expressou a dor mais solitária e mais concreta da humanidade. Ele permitiu que todos vissem a total dependência que temos de Deus. Ele sofreu, não apenas pela concretude da morte física, mas, sobremaneira, pela excrescência do pecado que possibilitou a separação entre a criatura e o Seu Criador. Ele chorou por sentir a indescritível fragilidade humana; Ele lamentou o fato de que ali ninguém percebia quem Ele realmente era; não apenas o homem – Jesus -, mas, o próprio Deus Emmanuel, que tinha um propósito definido naquele lugar que serviria como o símbolo maior e mais significativo a possibilidade de não morrer para sempre. 
Todos ali entenderiam mais tarde o significado de Suas palavras, quando afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” João 11:25. Você conhece alguém, em toda a literatura mundial, que tenha registrado o Seu amor por cada um de nós com tanta lucidez e verdade? Você conhece alguém que tenha vinda até nós, não para levar consigo o que, por ventura, tivéssemos de bom, mas, para “levar sobre Si toda nossa iniqüidade?”. Jesus fez exatamente isto: “o castigo que nos trás a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados!” Isaías 53.4-5.      

segunda-feira, 26 de julho de 2021

                                                   O BOM PASTOR...

Pr. Raul Marques
 “Eu Sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e sou conhecido por elas...” João 10.14


N
ão há situação mais prazerosa e mais reconfortante do que ser reconhecido como quem você realmente é; nem mais, nem menos. É muito agradável conhecer pessoas e, igualmente bom, é dar-se a conhecer por elas. Eu penso que Jesus tinha isto em mente quando, enquanto humano, conheceu o universo dos humanos ao mesmo tempo em que se deu a conhecer por ele. Viu de perto as suas fraquezas e as suas virtudes ao mesmo tempo em que lhes mostrou suas dores mais profundas, a solidão, a angústia e até o seu limite: passa de mim este cálice...”.
Jesus ensinou que devemos amar as pessoas do início ao fim da nossa jornada, conforme demonstrou em João 13. Isto não é fácil e nem é simples, pois, requer abnegação, renúncia do ego, consideração pelas fraquezas do outro, e, sobretudo, um conhecimento maduro e compatível de si mesmo.
Lembro-me agora de um poema que escrevi quando tinha mais ou menos dezoito anos onde, tomado pelo sentimento da dureza da existência humana, expus: eu muitas vezes quero ser um bicho pra pelo menos ir viver em paz.... A humanidade é, ao mesmo tempo, linda e dramática; singela e complexa; necessária e deletéria! Somente agora, na idade madura, torna-se possível mensurar o que tantas vezes ouvi dos mais velhos quando em criança: É mais fácil criar galinhas que lidar com gente!”.
A responsabilidade pastoral muitas vezes se confunde com a incumbência paistoral – um neologismo agridoce... Quem se nega a disciplinar e repreender seu filho não o ama; quem o ama de fato não hesita em corrigi-lo Pv. 13.24. Ocorre que nem sempre é possível corrigir uma ovelha como a um filho... Há filhos dóceis e ovelhas indomáveis.
Quando o Senhor Jesus afirmou: Eu conheço as minhas ovelhas, Ele sabia perfeitamente do que estava falando – Tu formaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe Salmos 139.13. Quando, porém, disse: e sou por elas conhecido, estava evidenciando muito mais sobre a Sua capacidade de se deixar conhecer do que da sinceridade dos que poderiam tê-lo conhecido melhor e mais adequadamente. Porventura, não é esta uma descrição assemelhada entre as pessoas da igreja e o pastor? Este tem a obrigação de conhecer e tratar as feridas e as insanidades daquelas; aquelas, quase sempre, nunca sabem discernir quando ele padece ou carece da compreensão, da sensatez e do abraço...
Realmente, jamais poderia ter sido formado do pó aquele que levaria sobre si os pecados do mundo... Era preciso ter nascido por obra do Espírito Santo! O coração pastoral tem mais de materno do que de si mesmo. Ser pastor não é uma escolha nossa, pessoal, antes pelo contrário, é obra exclusiva de Deus: é chamado, do qual não se pode arredar e discrepar. Ser pastor é viver uma luta diária e renhida contra a sua natureza do άνθρωπος (homem).
Dá-nos forças, Senhor, para que sejamos semelhança do teu Filho, Jesus Cristo, e não nos cansarmos de amar até o fim; para que saibamos conhecer as ovelhas que nos tem confiado e para que sejamos por elas conhecidos. Dá-nos sempre a mesma força da humildade e mansidão dadas ao Teu Santo Filho que, imerso no mais agudo da dor da traição e da incompreensão, clamou: Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem!. Dá-nos a alegria e a dignidade de nos sentirmos como Jesus ao ouvir de Ti: Este é o meu Filho muito amado, em quem eu tenho prazer!. Livra-nos do desejo de vingança, pois ela a Ti pertence. Livra-nos de devolver as pedras lançadas. Dá-nos o gozo permanente de simplesmente saber introjetar a Tua promessa: Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos sobremaneira, pois é esplêndida a vossa recompensa nos céus; porque assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós Mateus 5.11-12.     

sexta-feira, 9 de julho de 2021

 EU TENHO MEDO...

Pr. Raul Marques

 


              Quando criança eu tinha muitos medos! Medo das muitas águas; do escuro intenso; das portas fechadas com trancas; do “lobisomem”; do “velho do saco”; da “bruxa malvada”; enfim... Na medida em que fui crescendo outros medos foram sendo acrescentados: medo de matemática; medo das confusões e das multidões; medo de ser chamado ao quadro negro, etc. A grande maioria deles foi superada pela razão e pela maturidade; outros, no entanto...

           O medo é um sentimento profundamente complexo como a nossa própria existência! Ele é bom, enquanto sinal de alerta, e mal, se se tornar patológico. Ao longo da nossa vida outros medos vão se associando à caminhada e vão nos mostrando mais nítidas certas obscuridades... Eles nos ajudam na nossa proteção pessoal, ao mesmo tempo em que podem proteger as outras pessoas de nós...

         O medo não pode ser considerado um ato de covardia quando servir de motivação para o exílio contra as forças da impiedade! Ele pode, perfeitamente, se constituir no canal mais legítimo a nos levar aos “getsêmanis” em busca de paz.

           Eu tenho medo do “homem”! Não é sem motivo que a Bíblia vaticina: “Maldito o homem que confia no homem, que faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17. 5). Eu tenho medo dos “falsos irmãos”, de quem o apóstolo Paulo fez menção (II Cor 11.26). O apóstolo teve tanto receio deste aspecto que, angustiado, foi além: “agora vos escrevo para que não vos associeis com qualquer pessoa que, afirmando-se irmão, for imoral ou ganancioso, idólatra ou caluniador, embriagado ou estelionatário. Com pessoas assim não deveis, sequer, sentar-se para uma refeição” (I Coríntios 5.11).

          Tenho medo do que Jesus profetizou sobre esses fatos difíceis: “Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” Mateus 24.10-12. Tenho medo que as decepções resultem em apatia ou, ainda pior, em antipatia às atividades do exercício da fraternidade legítima, sobretudo, quando ouço a voz do Mestre a ressoar: “Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” Lucas 18:8b.

         Tenho encontrado tanta gente ferida, enganada, desiludida e frágil com as deformadas relações cristãs, que falta-me o fôlego... Conheço líderes abandonados do mesmo modo como conheço ovelhas nanicas e desnutridas clamando por amor e acolhimento. Tenho medo do tempo em que vivo. Por isto, Senhor, tem misericórdia de todos nós! Tenho saudades dos medos de quando criança... Já não sinto aquele medo ingênuo do escuro da noite; tenho medo, muito medo, das densas trevas da mente e coração humanos... 

 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

 FORTALEZA E FRAGILIDADE

Pr. Raul Marques
  

 

Gosto muito de ler biografias de pessoas influentes, que deixaram legados importantes nas mais diversas áreas da vida. Aprendo muito. Sou um eterno aprendiz; isto me faz reconhecer o meu tamanho, diversidade e carências. É muito comum, apesar de não achar normal, que muita gente fique intrigada com o fato de ouvir dizer que o pastor fulano de tal está de férias... A ideia que se tem de um pastor de férias está diretamente ligada ao ócio, nunca ao descanso, à reposição de forças, a releitura de si mesmo, a também ouvir, enfim, parece que ele abandonou a Deus por uns dias... Ninguém indaga se ele está doente ou mesmo se está precisando que alguém lhe ouça; afinal, ele é pastor pastor é o mais forte do rebanho... Santa ingenuidade!
Li recentemente numa rede social esta expressão atribuída a Spurgeon: "Cristãos temporários não são cristãos. Quem quer tirar férias desse serviço divino nunca entrou nele". Lembrei-me, então, da sua biografia que atesta o seguinte: “Por diversas ocasiões Spurgeon teve que se ausentar de seu púlpito por recomendação médica. Chegou a passar alguns períodos de férias na Europa, e depois de 1876, muitas vezes, sempre no fim do ano, se hospedava em Menton, Sul da França, pelo clima mais quente que na Inglaterra, por recomendação médica. Depois de 1887, foram cada vez mais constantes essas viagens, chegando a passar meses em retiro”. Caso a primeira expressão seja verdadeira, onde estaria a coerência deste “grande” conhecedor das Escrituras e, por conseguinte, do seu ofício pastoral? A sensatez recomenda-nos reconhecer que ele, afinal, também era de carne e osso, forte e frágil, santo e pecador. A sua biografia revele que este santo homem de Deus também sofreu grandes ataques de depressãodecorrentes das próprias lutas pastorais como, por exemplo, “quando um culto realizado em Surrey Garden foi organizado para cerca de 10.000, e devido a um tumulto provocado por um falso alarme de incêndio, levou a morte de seis pessoas” (Biografia de Carlos H. Spurgeon, por Alfredo S. Rodríguez y García, Cuba, 1930). “John Piper nos ajuda a entender um pouco da jornada e do desgaste pastoral: A maioria dos nossos irmãos não faz ideia do preço que se paga por duas ou três mensagens semanais em termos de exaustão espiritual e intelectual. Sem contar o esgotamento causado pelos sofrimentos familiares, as decisões da igreja, os dilemas morais e teológicos imponderáveis. Eu, por exemplo, não sou um poço artesiano, Meu cântaro se esvazia mesmo quando dele nada se verte. Meus ânimos não se revigoram na correria. A carência de tempo para a leitura tranquila e reflexão, além da urgência do preparo do sermão, reprime minha alma e, logo, o espectro da morte espiritual se manifesta. Poucas coisas me assustam mais que o início da esterilidade proveniente das responsabilidades desmedidas que mal permitem a nutrição espiritual e a meditação. (Piper, Irmãos, nós não somos profissionais, p. 81-2)”. Já que começamos citando uma possível expressão de Spurgeon, que tal concluirmos com uma importante lição dele relativa ao cuidado com a vida e os limites das ações pastorais? Assim nos ensina ele: “Se um homem for de natureza alegre como um pássaro, dificilmente poderá manter-se assim ano após ano contra esse processo suicida. Fará do seu escritório uma prisão e de seus livros carcereiros de um presídio, enquanto do lado de fora da sua janela a natureza acena-lhe com a vida saudável e chama-o para a alegria. Aquele que esquece o zumbir das abelhas na urze, o arrulho dos pombos selvagens na floresta, o canto dos pássaros no arvoredo, o ondular do regato por entre o junco, e os lamentos do vento entre os pinheiros, não tem por que se espantar caso o seu coração olvide cantar e sua alma fique pesarosa. Passar um dia respirando o ar fresco das montanhas, ou fazer uma excursão de algumas horas na umbrosa tranquilidade das copadas faias, servirá para varrer as teias de aranha das cabeças cheias de vincos dos nossos fatigados ministros que já andam meio mortos. Uma tragada de ar marinho, ou uma firme caminhada contra o vento, não dará graça à alma, que é o que há de melhor, mas dará oxigênio ao corpo, coisa que vem em segundo lugar” (Spurgeon, Lições aos meus alunos 2, p. 239-240).
Em Marcos 6.30-32, Jesus Cristo nos deixa uma lição tremendamente importante sobre o tema aqui enfocado: “Os apóstolos voltaram e, reunindo-se com Jesus, contaram-lhe tudo quanto tinham feito e ensinado. Havia tanta gente indo e vindo que Jesus e seus apóstolos não tinham tempo sequer para comer. Então Jesus lhes disse: — Venham comigo. Vamos sozinhos encontrar um lugar tranquilo para descansar um pouco. E eles partiram de barco, sozinhos, para um lugar sossegado”. Ah, como é bom e humano admitirmos a nossa força e fraqueza!