terça-feira, 29 de junho de 2010

PORQUE CHORAS?


Pr. Raul Marques


Uma das circunstâncias mais sofridas para os seres humanos é a perda. Perder os entes queridos; perder os amigos; perder o emprego; perder a condição social privilegiada; perder os sonhos; perder as oportunidades; enfim, tudo o que subtraia de nós aquilo que valorizamos se constitui numa grande vala que se abre em nossas almas. Nós nunca lidamos bem com as perdas. O luto é como um grande portão que se abre convidando-nos à solidão indefinida. O “adeus” é como uma ferida que sangra cada vez que é tocada pelo punhal da saudade. O fim de um casamento... Um sonho interrompido... Um filho que vai e não volta mais...
Os discípulos de Jesus Cristo o amavam muito, apesar de não terem sabido expressar em dados momentos cruciais. As mulheres que andavam com o Mestre nutriam por Ele uma admiração e respeito tão grandes que, perdê-lo, era algo impensável. As multidões ficavam admiradas ao ouvi-lo falar. Até os que lhe tinham por adversário não conseguiam disfarçar que ficavam inebriados com a sua sabedoria.
Os pais de Jesus lhe tinham em alta estima. Maria “guardava tudo em seu coração” desde a sua infância. José orgulhava-se dele pelo respeito e obediência. Como essa gente poderia pensar em perder Jesus? Era inimaginável! E este fato era tão latente, que Pedro certa vez, pensando que estava fazendo o melhor, quis contrariar os planos de Deus. Em Mateus 16:16, Pedro fez uma grande confissão sobre Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus o elogiou, dizendo: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus" (Mateus 16:18). Logo depois, Jesus falou sobre sua própria morte e Pedro o repreendeu. A resposta de Jesus foi áspera: "Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens" (Mateus 16:23). Só em pensar na dor da perda Pedro disse uma grande bobagem. Ele estava lidando estritamente com as coisas humanas.
Quando Jesus ressuscitou ao terceiro dia, Maria Madalena tinha ficado perto da entrada do túmulo, chorando porque perdera Jesus. Enquanto chorava, ela se abaixou, olhou para dentro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus. Um estava na cabeceira, e o outro, nos pés. Os anjos perguntaram: - Mulher, por que você está chorando? Ela respondeu: - Levaram embora o meu Senhor, e eu não sei onde o puseram! Depois de dizer isso, ela virou para trás e viu Jesus ali de pé, mas não o reconheceu. Então Jesus perguntou: - Mulher, por que você está chorando? Quem é que você está procurando? Ela pensou que ele era o jardineiro e por isso respondeu: - Se o senhor o tirou daqui, diga onde o colocou, e eu irei buscá-lo. - Maria! - disse Jesus. Ela virou e respondeu em hebraico: - "Rabôni!" (Esta palavra quer dizer "Mestre".) Jesus disse: - Não me segure, pois ainda não subi para o meu Pai. Vá se encontrar com os meus irmãos e diga a eles que eu vou subir para aquele que é o meu Pai e o Pai deles, o meu Deus e o Deus deles. Então Maria Madalena foi e disse aos discípulos de Jesus: - Eu vi o Senhor! E contou o que Jesus lhe tinha dito.
Muitas pessoas agora estão chorando suas perdas e não conseguem parar de chorar e olhar pra Jesus porque também não é fácil conseguir forças quando se está abatido. Contudo, se pela fé pararem por um instante, certamente ouvirão a voz do Senhor a perguntar-lhes: “Porque choras?”. A voz do Mestre lhes trará consolo, conforto e novo ânimo. Afinal de contas, foi também Ele que afirmou: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve" Mateus 11.28-30.

Que queres que eu te faça?


Pr. Raul Marques


Uma das passagens bíblicas mais instigantes é, com toda certeza, a do cego Bartimeu, em Marcos 10.51. Encontramos ali diversas lições de convivência pacífica do homem consigo mesmo, com Deus e com as outras pessoas, que nos evidenciam as formas terapêuticas do Senhor Jesus para com todos aqueles que o buscam.
Confesso que sou profundamente apaixonado pela oração mais simples e mais direta que alguém um diz fez na direção de Deus: “
Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Mc 10.47). Nesta oração tão curta, tão sincera e tão singela, Bartimeu nos revela o desespero humano na busca da resolução dos seus problemas. Aquela foi a única vez em que Jesus entrou em Jericó, e parece-nos que Bartimeu viu que aquela seria a sua única possibilidade de reversão da cegueira. Quando nós queremos muito que algo se realize em nossas vidas, nós nos esforçamos para que ela esteja cada vez mais próxima de acontecer. Nós vamos à luta. Contrariamos os pessimistas; envergonhamos os incrédulos; fortalecemos a nossa fé; e sentimos a força de Deus cada vez mais evidente conosco.
Nas nossas vidas lidamos diariamente com fatos semelhantes àqueles ocorridos com Bartimeu, embora, nem sempre tenhamos assumido as mesmas posturas dele; o que é uma pena... Quantos de nós imprimem em si mesmos a confiança de que as coisas podem, sim, mudar? Quantos estão julgando impossíveis as soluções para as suas dificuldades e inquietações? Quantos se opõem às multidões que lhe espremem evitando a passagem? Quantos estão dando ouvidos a espíritos enganadores que estão a serviço do cerceamento da vitória? Quantos estão olhando fixamente para as impossibilidades? Por outro lado, quantos estão crendo firmemente que Jesus ouve o nosso clamor? Quantos podem ver pela fé que Jesus se voltará e lhe acolherá ali mesmo, à beira do caminho? Quantos vivem preparados para receber a presença de Jesus em suas vidas? Quantos estão dispostos a vivenciar tudo o que há de vir depois do milagre?
Jesus Cristo, mesmo caminhando em meio a uma multidão que falava e até gritava, não deixou de ouvir a rogativa oração de Bartimeu que, além das imensas dificuldades físicas e emocionais teve que enfrentar a impiedade dos discípulos que o mandavam calar (fato que se repete ainda hoje através daqueles que pensam estar mais próximos de Deus). Jesus ouve o clamor que surge altissonante vindo da margem do caminho, vê a sua compleição, aproxima-se daquele pedinte, e aí lhe dirige uma pergunta estimulante e profundamente terapêutica: “
Que queres que eu te faça?” e Bartimeu, sem titubear, lhe responde: “Mestre! Que eu veja!” então Jesus lhe disse: “Vai, a tua fé te salvou!” Ele, então viu, e seguia a Jesus pelo caminho.
Solte-se das amarras da religiosidade. Desprenda-se dos seguidores legalistas. Fuja das multidões que caminham, mas não seguem. Não desista de se encontrar com Jesus, mesmo que Ele haja de passar uma única vez na sua Jericó existencial. Não se desespere porque está à margem do caminho; a sua solidão pode ser a senha de acesso ao coração de Deus, pois Ele é, e sempre será o “
nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na tribulação”.

sábado, 5 de junho de 2010

LEGITIMIDADE PROFÉTICA

Pr. Raul Marques

Jesus nos ensinou como reconhecer os falsos e os verdadeiros profetas quando vaticinou: “Pelos seus frutos os conhecereis” Mt 7.16. Não se pode esperar bons frutos de árvores estéreis, nem ainda, colher frutos saudáveis de plantas daninhas. Aliás, no princípio, quando Deus criou todas as coisas, Ele instituiu cada um segundo a sua espécie. Portanto, “O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” João 3.27. Este é um princípio imutável da vontade soberana de Deus. Assim sendo, é fácil compreender quando alguém tem legitimidade profética e está investido do poder do alto para anunciar as maravilhas do Senhor, além de expressar viva autoridade espiritual através do relacionamento com a Divindade e com as suas criaturas, ensejando mudanças sociais a partir das mudanças provocadas no interior dos que, pela fé, compreendem o amor do Criador.
Ninguém se faz representante de Deus por vontade própria, a menos que tenha propósitos espúrios e convicção de que logo, logo será envergonhado, visto que não recebeu tal autoridade do alto, do Pai das luzes. Todos os que crêem em Jesus Cristo como enviado de Deus para a salvação do mundo, recebem autoridade para desenvolver o ofício de Sacerdote anunciador. No entanto, a cada um é dado conforme a vontade de Deus, o dom profético e específico. Como diria o apóstolo Paulo, “e, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” ...mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis” I Cor 12.18-19. Não dependemos de nós mesmos para agirmos como profetas de Deus; dependemos, isto sim, exclusivamente da Sua vontade. Não existem auto-profetas; há, pelo contrário, profetas do alto.
A legitimidade de um profeta não está no fato de anunciar-se a si mesmo como tal, mas, na frutificação que virá através dele pelas mãos do Senhor. Frutos da transformação, gerados pelo amor de Deus que, cheio de graça e misericórdia chama, capacita e sustenta os seus profetas, mesmo sabendo que por este fato eles serão perseguidos e até mortos, como ocorreu no passado.