SERÁ QUE O DIABO ESTÁ DE FÉRIAS?
Pr. Raul Marques
“Então o diabo o deixou até o momento oportuno” (Lc 4.13)
stamos vivenciando
outra vez um tempo de trégua entre o bem e o mal... É uma época tão dissimulada
que parece mesmo real. Tudo está como era antes, porém, todos se preparam para
expurgar e expulsar os demônios interiores com atos e gestos que não são
próprios nos demais dias do ano. Os corações parecem quebrantados, a humildade
parece mais latente, os miseráveis passam a ter importância social, os ricos
disfarçam a opulência com atitudes de generosidade, as Igrejas se vestem da
mesma fantasia lúdica, os palácios se aproximam das favelas, o inferno se
traveste de paraíso e, portanto, nos parece a todos que o Diabo está de férias... Assim,
ele permite que todos pintem e bordem com os utensílios da desfaçatez e da
hipocrisia. Os maus continuam maus, pois a natureza de escorpião não se
transforma na natureza das borboletas...
Há, sim, um natal
verdadeiro: uma época em que recordamos que Deus veio até nós da forma mais
milagrosa e mais transformadora que o mundo já viu. Os emissários de Deus
vieram anunciar boas novas de grande alegria. Uma família muito simples foi a
signatária desta verdadeira operação de milagre. O mundo nunca mais foi o
mesmo, pois o Espírito do Senhor veio agir no meio de nós, ainda que este mundo
viva sob a égide do maligno, palco da mais renhida luta entre a verdade e a
mentira.
Numa tentativa
involuntária de confissão de culpas, o mundo se veste de aparência luminosa. Há
um colorido tão exuberante que chega a hipnotizar até o mais sensato dos
homens. Há uma disposição tão grande em proteger os desprotegidos, que nos
parece até que a fome, a miséria, a corrupção, as guerras, a ambição, a
ganância, a seca, as drogas, as epidemias, tudo enfim, fez parte de um mundo
que já desapareceu...
O que ocorre, na
verdade, é que o diabo nos deixou até o momento oportuno... Assim como ele fez
com Jesus, está a fazer conosco. É necessário que, como Jesus, vivamos a dureza
das tentações sem perder a lucidez. É necessário que vivamos com intensidade a
nossa fé sem nos permitirmos guiar por utopias. É importante sabermos da nossa
transitoriedade neste mundo, como peregrinos e forasteiros. É imperioso que não
nos prendamos às coisas efêmeras; traça e ouro corroem; o amor é eterno!
Na história do
verdadeiro natal Cristo foi presenteado com ouro, incenso e mirra. No entanto,
em nenhum momento Ele se apegou a isto, pelo contrário: sendo dono de tudo, não
ousou demonstrá-lo, antes esvaziou-se das suas prerrogativas supremas para
viver na carne o drama de cada um de nós.
Não, o Diabo não
está de férias; ele, ao contrário, estará assentado à mesa de muitos neste natal
profano, enquanto Jesus repousará na manjedoura dos corações que o buscarem com
diligência.