sábado, 25 de junho de 2011

RESTOU A FÉ...

Pr. Raul Marques

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” II Tm 4.7

Uma das sensações mais gratificantes e tranquilizadoras na nossa vida é a do dever cumprido. Ainda que o cumprimento das nossas tarefas e obrigações tenha se constituído num fardo pesado para carregar, é compensador o fato de tê-lo feito conforme as nossas forças e com a dignidade daquilo em que acreditamos.

Quando o apóstolo Paulo escreveu a Segunda Epístola a Timóteo, mais especificamente no capítulo quatro, ele tinha em mente exatamente esta sensação agradável e libertadora de ter cumprido bem o seu papel. Ali ele não esconde as suas agruras, as suas dores e decepções; ele faz questão de citar nomes que o ajudaram e outros que o atropelaram, mas exalta, sobretudo, o fato de ter combatido com honestidade e dignidade, tendo finalmente, guardado o que mais é significativo: a fé. Creio ser esta uma das lições mais eloqüentes e cheias de propósitos para a vida de cada um de nós.

As decepções de que somos vítimas, as inquietações e os cuidados excessivos com as coisas deste mundo, as tribulações que tentam nos abater e obstruir o caminho da nossa intimidade com Deus, são como explosões atômicas cujos efeitos radioativos interferem por longos anos nas nossas atividades cotidianas, causando-nos uma série de contrariedades e disfunções. Entretanto, sabemos que nada disso é capaz de sobrepujar o poder de transformação que emana do Deus em que cremos e de quem recebemos a motivação para o enfrentamento das lutas. É em função disso a Palavra de Deus vaticina: “Se Deus é por nós, quem será contra nós” Romanos 8.31.

Como Paulo, agradeço a Deus por todos os que têm dedicado tempo de suas vidas em oração em nosso favor, em situações tão adversas; agradeço a Deus por todos os que têm compartilhado conosco lágrimas e sorrisos; que têm sentido conosco a dor e o refrigério; por aqueles que, como nós, não temeram os ventos e as tempestades, mas, ao contrário, junto conosco clamaram pelas misericórdias do Senhor e agora esperam com paciência o gozo da calmaria para continuarmos singrando os mares.

Foi com a experiência da vida que o apóstolo Paulo, inspirado por Deus, nos deixou o legado do seu testemunho: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” II Coríntios 48-9. Esta capacidade de sermos como a Águia, renovados, resulta na certeza de que a nossa fé não será, jamais, abalada. Por isso mesmo podemos afirmar, como Jó: “eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra” 19.25. É esta fé que nos alimenta a cada instante, dando-nos a certeza de que, contra tudo e contra todos, ainda assim aguardamos aquilo que não vemos. Esta mesma fé nos dá a certeza de que “em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou Romanos 8.37.

O dado mais relevante neste estado de coisas, tanto para Paulo quanto para qualquer um de nós, é a capacidade de sair na outra margem do rio, afirmando: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Podemos até ter perdido muito e, infelizmente, ter perdido muitos... mas, restou-nos a fé!

sábado, 18 de junho de 2011

ONDE ESTÁ A MINHA CONFIANÇA?

Pr. Raul Marques

Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.” Isaías 26:3

Em tempos difíceis eu nunca me esqueço do texto bíblico sobre a tentação de Jesus, em Mateus 4. De maneira estranha à capacidade humana de enfrentar as lutas, o homem Jesus enfrenta terríveis provações, não porque tenha errado contra si, contra Deus ou contra as outras pessoas, mas para tornar-se aprovado para uma missão suprema. O texto nos informa que “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. Conosco não pode ser diferente; muitas vezes estamos enfrentando lutas e provações que não são necessariamente derivadas de pecados, mas, através da vontade permissiva de Deus, somos conduzidos a lugares áridos ou a situações vexatórias, de maneira que haja em nós a maturidade necessária para a nossa edificação pessoal e para testemunho a outras vidas que estão à nossa volta.

Não são poucos os exemplos encontrados na Bíblia sobre pessoas que mesmo tendo vivido sua dedicação extremada ao Senhor, passaram por momentos delicados e profundamente sofridos. Quero citar dois desses casos registrados no Novo Testamento. O primeiro ocorreu com João Batista; ele mesmo havia apontado Jesus às multidões como sendo o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo (João 1.29); no entanto, vivendo em situação adversa e grandemente perigosa esqueceu completamente quem era Jesus, de tal modo que enviou seus auxiliares a inquirirem de dEle: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? (Lc 7.19). O segundo caso é de Pedro. Ele era extremamente impetuoso; era líder dos pescadores; vivia desafiando a bravura dos mares e as dificuldades de quem luta pela sobrevivência. Um dia, conheceu a Jesus e resolveu segui-lo por acreditar em seu estilo de vida e na sua mensagem. Entretanto, quando foi submetido às adversidades advindas da sua experiência com Deus, foi profundamente reticente e, amedrontado com a possibilidade de morrer junto com Jesus, acovardou-se e chegou ao ponto de negá-lo perante os seus algozes. Foi um fraco! Não obstante, Deus não está querendo nos mostrar nestes dois exemplos, a irresponsabilidade dos homens perante Deus; ao contrário, Ele está evidenciando o fato de que pessoas cheias de fé e de conhecimento espiritual podem vir a sucumbir diante das circunstâncias adversas da vida, porque são falhas, finitas e profundamente carentes da força que vem do alto.

Em meio às provações deste mundo é muito comum ouvirmos pessoas inquirirem de outras: Onde está a sua fé? Jesus tinha absoluta confiança no Pai, no entanto, não pôde evitar que a sua natureza humana falasse: Jesus começou entristecer-se e angustiar-se muito. E disse: minha alma está cheia de tristeza até à morte. Em seguida, completou: Meu Pai, se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade (Mateus 26.37-38).

Uma coisa, porém, nunca podemos esquecer: Todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8.28). Esta verdade é atestada também pelo profeta Isaías: Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti (26.3). Força, irmã(o), você não está sozinha(o) neste barco em meio à tempestade; Jesus está do seu lado, e isto é suficiente!