UMA EXCELENTE LEITURA!
Existem duas classes de pessoas: as que alcançam o sucesso e as que fracassam; os fortes e os fracos. Mas Paul Tournier desvenda um segredo: no íntimo todos são fracos, tem medo e são angustiados. E os fortes se tornaram fortes justamente por medo. Nisto revelam sua fraqueza.
Preciosa graça | Billy Graham
Porque pela graça sois salvos. EFÉSIOS 2:8
Graça, segundo o dicionário, é o favor imerecido que Deus concede ao homem. A palavra graça é usada 134 vezes só no Novo Testamento. E a graça não pode ser comprada; ela é o presente de Deus à raça humana necessitada. Quando olho para a figura de Jesus morrendo na cruz, vejo nele o dom gratuito da graça de Deus reconciliando o mundo em si mesmo. Então eu canto o hino: “Preciosa a graça de Jesus, que um dia me salvou. Perdido andei, sem ver a luz, mas Cristo me salvou”. Sua mente humana, com a filosofia de que todo favor deve ser retribuído, não consegue entender o pleno sentido da graça de Deus. Mas quando compreende, pela revelação de Deus, seu pleno significado, você vai transpor os limites da razão humana e se deleitar com as riquezas espirituais e privilégios contidos na verdade celestial. Sim, a graça de Deus é uma realidade. Milhares de pessoas já provaram, experimentaram e comprovaram que esta graça é mais do que um credo inexpressivo, uma módica doutrina ou uma teoria entediante. A graça de Deus tem sido testada pelo crisol da experiência humana e considerada como mais do que suficiente para os problemas e pecados da humanidade.
Oração do dia
Senhor, ajuda-me neste dia a chegar a uma consciência mais completa e abundante de Tua generosa graça. Encoraja-me a servir-te.
Porque pela graça sois salvos. EFÉSIOS 2:8
Graça, segundo o dicionário, é o favor imerecido que Deus concede ao homem. A palavra graça é usada 134 vezes só no Novo Testamento. E a graça não pode ser comprada; ela é o presente de Deus à raça humana necessitada. Quando olho para a figura de Jesus morrendo na cruz, vejo nele o dom gratuito da graça de Deus reconciliando o mundo em si mesmo. Então eu canto o hino: “Preciosa a graça de Jesus, que um dia me salvou. Perdido andei, sem ver a luz, mas Cristo me salvou”. Sua mente humana, com a filosofia de que todo favor deve ser retribuído, não consegue entender o pleno sentido da graça de Deus. Mas quando compreende, pela revelação de Deus, seu pleno significado, você vai transpor os limites da razão humana e se deleitar com as riquezas espirituais e privilégios contidos na verdade celestial. Sim, a graça de Deus é uma realidade. Milhares de pessoas já provaram, experimentaram e comprovaram que esta graça é mais do que um credo inexpressivo, uma módica doutrina ou uma teoria entediante. A graça de Deus tem sido testada pelo crisol da experiência humana e considerada como mais do que suficiente para os problemas e pecados da humanidade.
Oração do dia
Senhor, ajuda-me neste dia a chegar a uma consciência mais completa e abundante de Tua generosa graça. Encoraja-me a servir-te.
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BUSCANDO A INTEGRIDADE DO CORAÇÃO
Devemos compreender que a busca pela integridade sempre denuncia o pecado em nós. Richard Baxter, teólogo, homem piedoso e autor de mais de 130 livros, afirma, em seu livro O pastor aprovado, que “é mais fácil julgar o pecado que dominá-lo” e desafia-nos: “somos exortados a olhar por nós mesmos para não suceder que convivamos com os mesmos pecados contra os quais pregamos”.
Certamente, isto é algo que deve nos fazer refletir com temor perante o Senhor, a cada palavra proferida no púlpito de nossas igrejas. Em Gn 17:1 lemos que Deus disse a Abraão: “Eu sou o Deus todo poderoso; anda na minha presença e sê perfeito”. Andar na presença de Deus leva-nos ao caminho da perfeição ao mesmo tempo em que andar em Sua presença aponta de forma clara as nossas imperfeições.
Não tem como sermos santos e íntegros se o pecado em nossas vidas não for denunciado. O pecado é, sociologicamente, compreendido de forma simbólica na organização social humana. Ao falarmos de pecado vêm à nossa mente o que rotulamos de pior ou inaceitável, como: o adultério, o roubo e o assassinato. Outras sociedades também possuem suas compreensões simbólicas do pecado. Entre os Konkombas de Gana o maior pecado é mentir. Entre os indígenas da Amazônia talvez seja ser pão duro, ou sovina, como preferem.
De toda forma, precisamos observar que o pecado, mesmo não embutido de um simbolismo socialmente degradante, igualmente nos afasta de Deus. Facilmente censuramos a embriaguês, mas temos dificuldade em confrontar a gula. Apontamos com clareza a falta de domínio próprio nos relacionamentos, mas convivemos pacificamente com a inveja. Iramos-nos contra o roubo, mas, somos tolerantes com o engano.
A Bíblia nos leva a ter verdadeira visão do pecado e entender o que é a verdadeira religião. Tiago nos diz que: “Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte... Se alguém cuida ser religioso e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a sua religião é vã... Religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo”.
É surpreendente a exposição de Tiago a respeito do pecado que nasce na concupiscência e gera a morte. Ao comparar o verdadeiro cristianismo com a falsa religiosidade, a partir daquilo que é santo ou pecaminoso, ele simplifica a mensagem tornando-a aplicável à vida diária. Exemplifica dizendo que é pura religiosidade não refrear a sua língua ao passo que é verdadeiro cristianismo visitar os órfãos e as viúvas.
O claro ensino é que precisamos lidar com o pecado de forma prática e objetiva. C. S. Lewis nos fala sobre o engano que sempre rodeia o pecado quando afirma que “quando um homem se torna melhor, compreende cada vez mais claramente o mal que ainda existe em si. Quando um homem se torna pior, percebe cada vez menos a sua própria maldade”.
Há mensagens claras na Palavra do Senhor quanto ao pecado. Uma delas é que o pecado é combatido pelo poder de Deus. Que a carnalidade, tendência natural humana ao pecado, é controlada pelo Espírito. Que, por termos escolhas naturalmente más, sermos cheios do Espírito é a forma bíblica e certa de fazermos morrer a carne. Que a vida devocional, buscar ao Senhor e escolher a melhor parte, que não nos será tirada, é a principal iniciativa para aqueles que desejam estar com Ele.
Reprodução autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e a fonte como: www.institutojetro.com e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com.
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Título do artigo: Buscando a integridade do coração
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Jesus, o escolhido dos milhares
Ricardo Gondim
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Astrofísica atéia se converte a Cristo; “Eu percebi que existe uma ordem no Universo”
Ricardo Gondim
Que personagem varou os séculos e mesmo agora, milênios depois, continua a impressionar homens e mulheres em todos os lugares? O que há de especial no filho de um carpinteiro, e de uma jovem camponesa, que saiu da obscuridade aos trinta anos, não deixou uma só linha escrita para a posteridade, não arregimentou nenhum soldado, não conquistou nenhuma cidade? Qual o mistério? Por que ele continua nos lábios do crente, na súplica do doente e no grito de esperança do sonhador?
Que verdades esse andarilho judeu falou? O que ele dizia enquanto visitava os cemitérios para tocar em leprosos? Como acolhia as mulheres de vida duvidosa e como se deixava tocar por elas? Quem foi ele? O que o despertou em seus estudos da Torá para incompatibilizar-se com as elites poderosas de seu tempo? Como conseguiu conciliar em um só grupo, pescadores sem educação formal e contestadores do regime imperial de Roma? Como um grupo tão heterogêneo se tornou uma das forças transformadoras do mundo antigo? Que motivações o faziam dócil com os pobres, condoído com as viúvas e corajoso para libertar a adúltera das malhas de uma lei misógina?
Tais questionamentos vararam os séculos. Por que o carpinteiro de Nazaré continuam a intrigar historiadores, a confundir filósofos e a perturbar mentes críticas? Por sua vida singela, ele não deveria ficar relegado aos relatos de rebeldes que morreram devido a pretensões messiânicas? Comparado aos pensadores do Iluminismo, ele não merecia passar de um judeu místico e irrelevante? Diante dos argumentos nietzschianos, ele não podia ser apenas mais uma muleta que a humanidade usou para enfrentar as agruras da existência? Diante do diagnóstico de Freud, ele não podia ser mais um personagem perturbado por um modelo familiar disfuncional? - ele descrevia a si próprio ou a neurose humana?
Talvez jamais consigamos responder a essas indagações. Contudo, Jesus continua amado de bilhões; permanece o tema tanto das canções de ninar como da música espetacular de Handel; é a inspiração dos falidos para caminhar adiante; é o patrono dos perdidos e é o paraninfo dos esquecidos. Para o poeta da melancolia, Jesus é a estrela da manhã; para o poeta da paixão, o lírio dos campos; para o poeta do existencialismo, o artesão de um novo amanhã; para o poeta da esperança, o norte da bússola. Jesus permanece como pedra angular no lodaçal da vida. Sua história é puro lirismo, sua empatia com o pobre, pura compaixão, seu anseio de justiça, pura esperança. As metáforas se somam à simples menção do seu nome e nenhuma consegue articular o encanto que ele suscita.
Através dos séculos, repetidas religiões narraram lendas sobre a visita dos deuses entre os homens. A encarnação da divindade, contada pelos primeiros cristãos, não era totalmente inédita. Tanto na Babilônia, Grécia, e na própria Roma, os deuses já tinham se feito gente. A novidade cristã, sem precedentes históricos, veio da humildade. Jesus não nasceu de um modo espetacular. José, o pai, estava inquieto. Incrédulo. Tomado pelo medo. Ele precisou da intervenção de um anjo. Sem um sinal, talvez jamais aceitasse que a semente que Maria carregava não era fruto de um adultério. Ela estava grávida de virtude – do Espírito Santo.
Numa noite qualquer, que jamais será cravada com precisão no calendário, um punhado de pastores pobres, que guardava o rebanho nas caladas da madrugada, percebeu o aviso das estrelas e das hostes celestiais.
Daí por diante, a sua história se confunde com a história de tantos. A família de Jesus se viu obrigada a refugiar-se no Egito. E lá experimentou a vida dura de todo refugiado: preconceito, pobreza, falta d’água e um mínimo de comida.
Jesus viveu em obscuridade até os trinta anos. Trabalhou com as mãos cortadas, ásperas, calejadas, Seu cotidiano foi penoso – igual aos de seus pares. Não se sabe de qualquer milagre ou ação espetacular que aliviasse a sua sorte. Jesus aprendeu no que sofreu.
Um dia, consciente de sua missão, o Amante dos Pecadores partiu para a periferia, não para o centro do poder. Em sua missão, ele não impôs, jamais exibiu, nada reivindicou. Jesus queria tão somente partilhar as dores, celebrar as alegrias, inspirar sede de justiça e fazer o bem. Nele, os pobres acharam o bálsamo para as feridas da alma, o lenço para as lágrimas do espírito e o ombro para o coração fadigado. Desde o seu nascimento já se via que ele estava disposto a experimentar a kenosis – o esvaziamento, o rebaixamento. O Filho do Homem jamais empunharia um cetro. Sua glória se manifestou ao apanhar uma bacia e lavar os pés de seus amigos. Depois, na cruz, revelou sua grandeza inigualável.
Jesus não pretendeu liderar um movimento político. Judas, o Iscariotes, errou ao imaginar que ele se insurgiria contra o imperialismo de Roma. Jesus não buscou reinventar o judaísmo como temeram os rabinos, líderes do Templo. Ele não foi um luminar da filosofia como suspeitaram os concílios que o sucederam depois de Constantino. Jesus não disputou, e nem contendeu, com fundadores de outras grandes religiões – como o hinduísmo e o budismo. Jesus lutou para libertar as pessoas do medo do Javé vingador. Ele quebrou as paredes que separavam homens e mulheres; através dele, caíram por terra: nacionalidade, gênero e status social. Jesus se esforçou para comunicar que Deus deseja construir o seu tabernáculo no coração das pessoas.
Jesus, o amigo de Maria Madalena, mostrou ser possível amar sem fazer inventários da vida passada. Jesus, o hóspede de Zaqueu, mostrou ser possível rejeitar o sistema corrompido. Jesus, o réu de Herodes – que ele chamou de raposa – , triunfou sem insuflar ódio.
Jesus é a metáfora humanizada, a poesia vertebrada, o verbo adensado, a música balbuciada. Ele permanecerá, apesar de tudo o que se praticou em seu nome. O Conselheiro maravilhoso, o príncipe da paz, continua o escolhido entre milhares para ser o nosso salvador.
Soli Deo Gloria
A estrada menos trilhada
Querido José,
Hoje, acordei pensando no caminho estreito, naquele caminho pouco trilhado, sem grandes atrativos. Antes, confesso que nem sempre escolhi essa estrada apertada. Mariposa, voei desesperado em busca de luzes, querendo o brilho da fama. Tantas vezes busquei as passarelas largas. Hoje, ao contemplar meus antigos passos, percebo que andei em círculo, rodopiei, patinei, ofuscado por labaredas fugazes. As lamparinas que desejei eram falsas. Ultimamente, não sei se devido a idade, as decepções ou mesmo a uma revelação sagrada, passei a interessar-me por trilhas menos atraentes.
Fui marcado na juventude pelo poeta norte americano Robert Frost. Mas, antes de sua poesia, preciso contar um pedacinho de sua história. Frost ganhou notoriedade quando ainda era jovem. Ele foi um talentoso poeta. Ganhou quatro prêmios Pulitzer. Com a fama, vieram os apelos para o estrelato. De todas as partes surgiam convites para que escrevesse sob encomenda, que se projetasse. Frost encarava tais convites como o canto da sereia, sedutor, mas mortal para a alma. Ele preferiu continuar como professor universitário, sem as badalações do sucesso.
Li o seu mais famoso poema, “The Road not Taken – A Estrada não percorrida” e nunca mais fui o mesmo. Quero repartir com você, meu irmão, uma tradução livre do poema – que certamente não reflete a sua grandeza (procure lê-lo em inglês).
Duas estradas divergiam numa árvore amarela
E me ressenti não poder ambas percorrer
Sendo um só viajante, por muito me detive
E observei uma até quão longe pude
Só para observar que na relva desaparecia
E me ressenti não poder ambas percorrer
Sendo um só viajante, por muito me detive
E observei uma até quão longe pude
Só para observar que na relva desaparecia
Então segui pela outra, tão boa quanto,
E talvez por ter melhor reclame
Mais ramos possuía e talvez por ansiar uso
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
as tivesse marcado por igual.
E talvez por ter melhor reclame
Mais ramos possuía e talvez por ansiar uso
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
as tivesse marcado por igual.
E, naquela manhã, em ambas igualmente jaziam
Folhas que passo algum pisara.
Ó deixei a primeira para outro dia!
E sabendo que um caminho leva a outro caminho
Duvidei se algum dia eu voltaria.
Folhas que passo algum pisara.
Ó deixei a primeira para outro dia!
E sabendo que um caminho leva a outro caminho
Duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro
Em algum ponto, eras e eras ainda nesta existência,
Duas estradas bifurcavam numa árvore,
Eu trilhei a menos percorrida,
E isto fez toda a diferença.
Em algum ponto, eras e eras ainda nesta existência,
Duas estradas bifurcavam numa árvore,
Eu trilhei a menos percorrida,
E isto fez toda a diferença.
Quando Robert Frost já havia completado 86 anos, John Kennedy o convidou para que lesse sua poesia na cerimônia de inauguração como presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1961. Robert Frost escolhera a estrada menos percorrida. E naquele dia viu que havia feito toda a diferença.
Jesus contou uma parábola sobre um semeador. Enquanto ele jogava as sementes, parte delas caiu em terreno duro. Mas nenhuma das que cairam na terra batida, frutificou. Em terra pisada, a vida não germina. No caminho por onde segue a maioria, o chão se enrijece pavimentado pela contenda. Rivalidades empurram as pessoas a desejarem os primeiros lugares e quando todos optam pelo caminho da notoriedade, a disputa amesquinha. Torna-se tão importante ganhar que os Narcisos se odeiam e os Neros desconfiam da própria sombra.
Quem escolhe o caminho menos repetido, abre mão dos aplausos, dos tapinhas nas costas e dos confetes. Na verdade, as pessoas não invejam as conquistas dos grandes heróis, sequer o preço que pagaram, mas cobiçam os aplausos, as ovações e a bajulação dos triunfantes. E tudo isso não passa de vaidade, de um nada de nada.
Plutarco escreveu a hagiografia – biografia ufanista – de Júlio César. Júlio César foi, com certeza, um dos maiores imperadores de todos os tempos. Seu reinado marcou a história de tal maneira que os sucessores ao trono romano adotaram seu nome. Augusto, Marco Aurélio e todos os demais também queriam ser César. Até imperadores da Rússia passaram a se chamar de Tsar – César em russo – e os germânicos, de Keiser- César em alemão.
Acontece que o próprio Júlio César era insatisfeito consigo mesmo. Ele invejava Alexandre, o Grande. Plutarco narra que certa vez flagrou Júlio César banhado de lágrimas enquanto lia a vida do imperador da Macedônia. Plutarco perguntou o motivo das lágrimas: “Choro não por Alexandre, que morreu tão cedo, mas por mim. Com a minha idade Alexandre já havia conquistado o mundo e eu nada fiz”.
Eis o nó: todos queriam ser iguais a Júlio César, mas ele queria ser Alexandre. Todavia, o cenário foi pior: O grande Alexandre não era satisfeito consigo mesmo. Ele queria ser Hércules. Mas Hércules não existia, pois era um personagem mitológico.
Amigo, entendamos: o caminho mais usado não leva a lugar nenhum porque termina no inferno da perfeição. Perfeição que cobra dos humanos um padrão que só os deuses mitológicos alcançam. Fuja dessa armadilha que não só fatiga como destrói com o ácido chamado ansiedade.
Portanto, não se sinta diminuído pelo anonimato. Nunca pense que jogou a vida fora por não ter alcançado as luzes da ribalta. Jamais inveje os que gravaram o nome na calçada da fama. Tudo vira pó. A glória humana se dispersa em nada. Dedique-se a construir relacionamentos significativos. Priorize os encontros despretensiosos. Doe-se sem esperar recompensa humana.
Escolha abrir sua própria picada. Evite bitolas, cabrestos, vendas, algemas. Escreva a sua história sem se preocupar se alguém vai considerá-la digna de ser publicada. Só você conhece o valor de seus momentos. Um dia, com um suspiro, você também verá que duas estradas bifurcaram e valeu ter viajado pela menos preferida.
Abraços,
Ricardo GondimSoli Deo Gloria
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Astrofísica atéia se converte a Cristo; “Eu percebi que existe uma ordem no Universo”
Por: Helio Medeiros
Repercutiu
em sites de todo o planeta, recentemente, o testemunho de pesquisadora do
Departamento de Astronomia da Universidade do Texas e professora
de Astrofísica na Universidade Southwestern. A incrível história de Sarah Salviander e
sua conversão a Cristo começa com os seus estudos científicos e culmina com a
morte da filha. Vale a pena investir cinco minutos em ler o depoimento dela.
Eu
nasci nos Estados Unidos e fui criada no Canadá. Meus pais eram ateus, embora
preferissem se definir como ‘agnósticos’. Eles
eram carinhosos e mantinham uma ótima conduta moral, mas a religião não teve
papel nenhum na minha infância”.
“O Canadá já era um país pós-cristão. Olhando em
retrospectiva, é incrível que, nos primeiros 25 anos da minha vida, eu só
conheci três pessoas que se identificaram como cristãs. A minha visão do
cristianismo era intensamente negativa. Hoje, olhando para trás, eu percebo que
foi uma absorção inconsciente dessa hostilidade geral que existe no Canadá e na
Europa em relação ao cristianismo. Eu não sabia nada do cristianismo, mas achava que ele tornava as pessoas
fracas e tolas, filosoficamente banais”.
Aos 25
anos, quando abraçava a filosofia racionalista de Ayn Rand, Sarah entrou em uma
universidade dos EUA: “Entrei no curso de Física da Eastern Oregon University e percebi logo a secura e a esterilidade do
objetivismo racionalista, incapaz de responder às grandes questões: qual é o
propósito da vida? De onde foi que viemos? Por que estamos aqui? O que acontece
quando morremos? Eu notei também que esse racionalismo sofria
de uma incoerência interna: toda a sua
atenção se volta para a verdade objetiva, mas sem apresentar uma fonte para a
verdade. E, embora se dissessem focados em desfrutar a vida,
os objetivistas racionalistas não pareciam sentir alegria alguma. Pelo
contrário: estavam ferozmente preocupados em se manter independentes de
qualquer pressão externa”.
A atenção da jovem se voltou completamente ao
estudo da física e da matemática.
“Entrei
nos clubes universitários, comecei a fazer amigos, e, pela primeira vez na
minha vida, conheci cristãos. Eles não eram como os racionalistas: eram
alegres, felizes e inteligentes, muito inteligentes. Fiquei de boca aberta ao
descobrir que os meus professores de física, a quem eu admirava muito, eram
cristãos. O exemplo pessoal deles começou a me influenciar e eu me via cada vez
menos hostil ao cristianismo. No verão, depois do meu segundo ano, participei
de um estágio de pesquisa na Universidade da Califórnia, num grupo do Centro de
Astrofísica e Ciências Espaciais que estudava as evidências do Big Bang. Era
incrível procurar a resposta para a pergunta sobre o nascimento do Universo.
Aquilo me fez pensar na observação de Einstein de que a coisa mais incompreensível a respeito do
mundo é que o mundo é compreensível. Foi aí
que eu comecei a perceber uma ordem subjacente ao universo. Sem saber, ia
despertando em mim o que Salmo 19 diz com tanta clareza: ‘Os céus proclamam a
glória de Deus; o firmamento anuncia a obra das suas mãos’”.
Depois desse insight, a razão de Sarah foi
gradualmente se abrindo ao Mistério:
“Comecei a perceber que
o conceito de Deus e da religião não eram tão filosoficamente banais como eu
pensava que fossem. Durante o meu último ano, conheci um estudante finlandês de
ciências da computação. Um homem de força, honra e profunda integridade, que,
assim como eu, tinha crescido como ateu num país laico, mas que acabou
abraçando Jesus Cristo como o seu Salvador pessoal, aos 20 anos de idade,
graças a uma experiência particular muito intensa. Nós nos apaixonamos e nos
casamos. De alguma forma, mesmo não sendo religiosa, eu achava reconfortante me
casar com um cristão. Terminei a minha formação em física e matemática
naquele mesmo ano e, pouco tempo depois, comecei a dar aulas de astrofísica na
Universidade do Texas em Austin”.
A penúltima etapa da jornada de Sarah foi a
descoberta, também casual, de um livro de Gerald Schroeder:
“The Science of God” [“A
Ciência de Deus”]. “Fiquei intrigada com o título e alguma coisa me levou a
lê-lo, talvez o anseio por uma conexão mais profunda com Deus. Tudo o que sei é
que aquilo que eu li mudou a minha vida para sempre. O Dr. Schroeder é físico
do MIT e teólogo. Eu notei então que, incrivelmente, por trás da linguagem
metafórica, a Bíblia e a ciência estão em completo acordo. Também li os
Evangelhos e achei a pessoa de Jesus Cristo extremamente convincente; me senti
como quando Einstein disse que ficou ‘fascinado com a figura luminosa do
Nazareno’. Mesmo com tudo isso, apesar de reconhecer a verdade e de estar
intelectualmente segura quanto a ela, eu ainda não estava convencida de
coração”.
O
encontro decisivo com o cristianismo aconteceu há apenas dois anos, depois de
um acontecimento dramático: “Eu fui diagnosticada com câncer. Não muito tempo
depois, meu marido teve meningite e encefalite; ele se curou, felizmente, mas
levou certo tempo. A nossa filhinha Ellinor tinha cerca de seis meses quando
descobrimos que ela sofria de trissomia 18, uma anomalia cromossômica fatal.
Ellinor morreu pouco depois. Foi a perda mais devastadora da nossa vida. Eu caí
nas mãos do desespero até que tive, lucidamente, uma visão da nossa filha nos
braços amorosos do Pai celestial: foi só então que eu encontrei a paz. Depois
de todas essas provações, o meu marido e eu não só ficamos ainda mais unidos,
como também mais próximos de Deus. A minha fé já era real. Eu não sei como
teria passado por essas provações se tivesse continuado ateia. Quando você tem 20 anos, boa saúde e a
família por perto, você se sente imortal. Mas chega um momento em que a
sensação de imortalidade evapora e você se vê forçada a enfrentar a
inevitabilidade da própria morte e da morte das pessoas mais queridas”.
“Eu amo a minha carreira
de astrofísica. Não consigo pensar em nada melhor do que estudar o
funcionamento do universo e me dou conta, agora, de que a atração que eu sempre
senti pelo espaço não era nada mais do que um intenso desejo de me conectar com
Deus. Eu nunca vou me esquecer de um estudante que, pouco tempo depois da minha
conversão, me perguntou se era possível ser cientista e acreditar em Deus. Eu
disse que sim, claro que sim. Vi que ele ficou visivelmente aliviado. Ele me
contou que outro professor tinha respondido que não. Eu me perguntei quantos
outros jovens estavam diante de questões semelhantes e decidi, naquela hora,
que iria ajudar os que estivessem lutando com esses questionamentos. Eu sei que
vai ser uma jornada difícil, mas o significado do sacrifício de Jesus não deixa
dúvidas quanto ao que eu tenho que fazer”.
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O Novo Ateu
Rev. Ricardo Barbosa de Souza
Hoje, o ateu não é mais aquele que não crê, mas aquele que não encontra relevância para Deus na sua rotina. O novo ateísmo não precisa negar a fé; apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador"
Sabemos que existem vários tipos de ateus. Existem aqueles que não crêem em Deus por não encontrarem respostas para os grandes dilemas da humanidade como violência, miséria e sofrimento. Não conseguem relacionar um Deus de amor com o sofrimento humano. Outros não crêem porque não encontram uma razão lógica e racional que explique os mistérios da fé, como a criação do mundo, o dilúvio, o nascimento virginal, a ressurreição, céu, inferno, etc. Diante de temas tão complexos que requerem fé num Deus pessoal, Criador e Redentor, muitos não conseguem crer naquilo que lhes parece racionalmente absurdo.
Os dois tipos de ateus já mencionados são inofensivos. Na verdade, são pessoas que buscam respostas, são honestos e não aceitam qualquer argumento barato como justificativa para suas grandes dúvidas. São sinceros e lutam contra uma incredulidade que os consome, uma falta de fé que nunca encontra resposta para os grandes mistérios da vida e de Deus.
No entanto há um outro tipo de ateu, mais dissimulado, que cresce entre nós, que crê em Deus e não apresenta nenhuma dúvida quanto aos mistérios da fé, nem em relação aos grandes temas existenciais. Ele vai à igreja, canta, ora e chega até a contribuir. É religioso e gosta de conversar sobre os temas da religião. Contudo, a relevância de Cristo, sua morte e ressurreição para a vida e a devoção pessoal é praticamente nula. São ateus crédulos. O ateu moderno não é mais somente aquele que não crê, mas aquele para quem Deus não é relevante.
Este é um novo quadro que começa a ser pintado nas igrejas cristãs. Saem de cena os grandes heróis e mártires da fé do passado e entram os apáticos e acomodados cristãos modernos. Aqueles cristãos que entregaram suas vidas à causa do Evangelho, que deixaram-se consumir de paixão e zelo pela Igreja de Cristo, que viveram com integridade e honraram o chamado e a vocação que receberam do Senhor, que sofreram e morreram por causa de sua fé, convicções e amor a Cristo, fazem parte de uma lembrança remota que às vezes chega a nos inspirar.
Os cristãos modernos crêem como os outros creram, mas não se entregam como se entregaram. Partilham das mesmas convicções, recitam o mesmo credo, freqüentam as mesmas igrejas, cantam os mesmos hinos e lêem a mesma Bíblia, mas o efeito é tragicamente diferente. É raro hoje encontrar alguém em cujo coração arde o desejo de ver um amigo, parente, colega de trabalho ou escola convertendo-se a Cristo e sendo salvo da condenação eterna. Os desejos, quando muito, se limitam a visitar uma igreja, buscar uma "bênção", receber uma oração; mas a conversão a Cristo, o discipulado com todas as suas implicações, são coisa que não nos atraem mais.
Os anseios pela volta de Cristo, o desejo de nos encontrarmos com Ele e ver restaurada a justiça e a ordem da criação ficaram para trás. Somente alguns saudosos dos velhos tempos lembram-se ainda dos hinos que enchiam de esperança o coração dos que aguardavam a manifestação do Reino. A preocupação com a moral e a ética, com o bom testemunho, com a vida santa e reta não nos perturba mais - somos modernos, aprendemos a respeitar o espaço dos outros. O cuidado com os irmãos, o zelo para que andem nos caminhos do Senhor, as exortações, repreensões e correções não fazem parte do elenco de nossas preocupações. Afinal, cada um é grande e sabe o que faz.
Enfim, somos ateus modernos, o pior tipo de ateu que já apareceu. Citamos com convicção o Credo Apostólico, mas o que cremos não tem nenhuma relevância com a forma como vivemos. A pessoa de Cristo para muitos é apenas mais uma grife religiosa, não uma pessoa que nos chama para segui-lo. O ateísmo moderno se caracteriza pela irrelevância da fé, das convicções, do significado da igreja e da comunhão dos santos.
A irrelevância de Deus para a vida moderna é intensificada pela cultura tecnocrática. Temos técnicas para tudo: para ter um matrimônio perfeito, criar filhos felizes e obedientes, obter plena satisfação sexual no casamento, passos para uma oração eficaz, como conseguir a plenitude do Espírito Santo e muitos outros "como fazer" que entopem as prateleiras das livrarias e o cardápio dos congressos. A sociedade moderna vem criando os métodos e as técnicas que reduzem nossa necessidade de Deus, a dependência dEle e a relevância da comunhão com Ele. Chamamos uma boa música de adoração, um convívio agradável de comunhão, uma moral sadia de santificação, assiduidade nos programas da igreja de compromisso com o Reino de Deus.
As técnicas não apenas criam atalhos para os caminhos complexos da vida, como procuram inverter os pólos de atenção e dependência. Tornamo-nos mais dependentes de nós do que de Deus, acreditamos mais na eficiência do que na graça, buscamos mais a competência do que a unção, cremos mais na propaganda do que no poder do Evangelho. Tenho ouvido falar de igrejas que são orientadas por profissionais de planejamento estratégico. Estudam o perfil da comunidade, planejam seu desenvolvimento, arquitetam seu crescimento e, de repente, descobrem que funcionam, crescem, são eficientes, e não dependem de Deus para nada do que foi planejado. Com ou sem oração a igreja vai crescer, vai funcionar. Deus tornou-se irrelevante. Tornamo-nos ateus crentes.
A minha preocupação não é simplesmente criticar o mundo religioso abstrato, superficial e impessoal que criamos ou criticar a tecnologia moderna que, sem dúvida, pode e tem nos ajudado. Minha preocupação é com o coração cada vez mais distante, mais abstrato, mais centralizado naquilo que não é Deus, mais dependente das propagandas e estímulos religiosos, mais interessado no consumo espiritual do que numa relação pessoal com Deus.
Como disse, o ateu hoje não é mais aquele que não crê, mas aquele que não encontra relevância para Deus na sua rotina, não precisa da comunhão dEle para a vida. A sutileza do novo ateísmo é que ele não precisa negar a fé, apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador. Este ateu está muito mais presente entre nós do que imaginamos.
A estrada menos trilhada
Ricardo
Gondim
Hoje, acordei pensando no caminho estreito, naquele caminho
pouco trilhado, sem grandes atrativos. Antes, confesso que nem sempre escolhi
essa estrada apertada. Mariposa, voei desesperado em busca de luzes, querendo o
brilho da fama. Tantas vezes busquei as passarelas largas. Hoje, ao contemplar
meus antigos passos,
percebo que andei em círculo, rodopiei, patinei, ofuscado por labaredas
fugazes. As lamparinas que desejei eram falsas. Ultimamente, não sei se
devido a idade, as decepções ou mesmo a uma revelação sagrada, passei a
interessar-me por trilhas menos atraentes.
Fui
marcado na juventude pelo poeta norte americano Robert Frost. Mas, antes de sua
poesia, preciso contar um pedacinho de sua história. Frost ganhou notoriedade
quando ainda era jovem. Ele foi um talentoso poeta. Ganhou quatro
prêmios Pulitzer. Com a fama, vieram os apelos para o estrelato. De todas as
partes surgiam convites para que escrevesse sob encomenda, que se
projetasse. Frost encarava tais convites como o canto da sereia, sedutor,
mas mortal para a alma. Ele preferiu continuar como professor universitário,
sem as badalações do sucesso.
Li
o seu mais famoso poema, “The Road not Taken – A Estrada não
percorrida” e nunca mais fui o mesmo. Quero repartir com você,
meu irmão, uma tradução livre do poema – que certamente não reflete a sua
grandeza (procure lê-lo em inglês).
Duas estradas
divergiam numa árvore amarela
E me ressenti não poder ambas percorrer
Sendo um só viajante, por muito me detive
E observei uma até quão longe pude
Só para observar que na relva desaparecia
E me ressenti não poder ambas percorrer
Sendo um só viajante, por muito me detive
E observei uma até quão longe pude
Só para observar que na relva desaparecia
Então segui pela
outra, tão boa quanto,
E talvez por ter melhor reclame
Mais ramos possuía e talvez por ansiar uso
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
as tivesse marcado por igual.
E talvez por ter melhor reclame
Mais ramos possuía e talvez por ansiar uso
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
as tivesse marcado por igual.
E, naquela manhã,
em ambas igualmente jaziam
Folhas que passo algum pisara.
Ó deixei a primeira para outro dia!
E sabendo que um caminho leva a outro caminho
Duvidei se algum dia eu voltaria.
Folhas que passo algum pisara.
Ó deixei a primeira para outro dia!
E sabendo que um caminho leva a outro caminho
Duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu hei de
contar mais tarde, num suspiro
Em algum ponto, eras e eras ainda nesta existência,
Duas estradas bifurcavam numa árvore,
Eu trilhei a menos percorrida,
E isto fez toda a diferença.
Em algum ponto, eras e eras ainda nesta existência,
Duas estradas bifurcavam numa árvore,
Eu trilhei a menos percorrida,
E isto fez toda a diferença.
Quando
Robert Frost já havia completado 86 anos, John Kennedy o convidou para que
lesse sua poesia na cerimônia de inauguração como presidente dos Estados
Unidos, em 20 de janeiro de 1961. Robert Frost escolhera a estrada menos percorrida.
E naquele dia viu que havia feito toda a diferença.
Jesus
contou uma parábola sobre um semeador. Enquanto ele jogava as sementes, parte
delas caiu em terreno duro. Mas nenhuma das que cairam na terra batida,
frutificou. Em terra pisada, a vida não germina. No caminho por onde segue a
maioria, o chão se enrijece pavimentado pela contenda. Rivalidades empurram as
pessoas a desejarem os primeiros lugares e quando todos optam pelo caminho
da notoriedade, a disputa amesquinha. Torna-se tão importante ganhar que
os Narcisos se odeiam e os Neros desconfiam da própria sombra.
Quem
escolhe o caminho menos repetido, abre mão dos aplausos, dos tapinhas nas
costas e dos confetes. Na verdade, as pessoas não invejam as conquistas dos
grandes heróis, sequer o preço que pagaram, mas cobiçam os aplausos,
as ovações e a bajulação dos triunfantes. E tudo isso não passa
de vaidade, de um nada de nada.
Plutarco
escreveu a hagiografia – biografia ufanista – de Júlio César. Júlio César foi,
com certeza, um dos maiores imperadores de todos os tempos. Seu reinado marcou
a história de tal maneira que os sucessores ao trono romano adotaram seu nome.
Augusto, Marco Aurélio e todos os demais também queriam ser César. Até
imperadores da Rússia passaram a se chamar de Tsar – César
em russo – e os germânicos, de Keiser- César em alemão.
Acontece
que o próprio Júlio César era insatisfeito consigo mesmo. Ele invejava
Alexandre, o Grande. Plutarco narra que certa vez flagrou Júlio César banhado
de lágrimas enquanto lia a vida do imperador da Macedônia. Plutarco perguntou o
motivo das lágrimas: “Choro não por Alexandre, que morreu tão cedo, mas por
mim. Com a minha idade Alexandre já havia conquistado o mundo e eu nada fiz”.
Eis
o nó: todos queriam ser iguais a Júlio César, mas ele queria ser Alexandre.
Todavia, o cenário foi pior: O grande Alexandre não era satisfeito consigo
mesmo. Ele queria ser Hércules. Mas Hércules não existia, pois era um
personagem mitológico.
Amigo,
entendamos: o caminho mais usado não leva a lugar nenhum porque termina no
inferno da perfeição. Perfeição que cobra dos humanos um padrão que só os
deuses mitológicos alcançam. Fuja dessa armadilha que não só fatiga como
destrói com o ácido chamado ansiedade.
Portanto,
não se sinta diminuído pelo anonimato. Nunca pense que jogou a vida fora
por não ter alcançado as luzes da ribalta. Jamais inveje os que
gravaram o nome na calçada da fama. Tudo vira pó. A glória humana se dispersa
em nada. Dedique-se a construir relacionamentos significativos. Priorize os
encontros despretensiosos. Doe-se sem esperar recompensa humana.
Escolha
abrir sua própria picada. Evite bitolas, cabrestos, vendas,
algemas. Escreva a sua história sem se preocupar se alguém vai considerá-la
digna de ser publicada. Só você conhece o valor de seus momentos. Um dia,
com um suspiro, você também verá que duas estradas bifurcaram e valeu ter
viajado pela menos preferida.
Soli Deo Gloria
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Força, amigo, força
Ricardo Gondim
Não se venda. Não se dobre.
Não recue. Não se acovarde.
Não se renda.Não se encolha.
Não recue. Não se acovarde.
Não se renda.Não se encolha.
O trauma de ficar diante de um pelotão de fuzilamento, segundos antes da execução ser suspensa, não bastou para que Fiodor Dostoievsky deixasse de ser o aclamado escritor Fiodor Dostoievsky.
A força do império britânico não foi suficiente para que Mahatma Gandhi deixasse de se tornar o Mahatma Gandhi que trouxe tanto a independência da Índia quanto a filosofia do pacifismo como resistência política.
O ódio e a perseguição de John Edgar Hoover não foram suficientes para que Martin Luther King Junior deixasse de conquistar o seu lugar no panteão dos grandes vultos da humanidade como Martin Luther King Junior.
A difamação e a censura da União Soviética – e mais o exílio na Sibéria – não evitaram que Aleksandr Solzhenitsyn ganhasse o Prêmio Nobel de literatura como o Aleksandr Solzhenitsyn em Arquipélago Gulag.
O bloqueio da rede Globo de televisão não ofuscou o brilho poético do Chico Buarque de Holanda e ele continuou a compor para se imortalizar como um dos maiores letristas da música popular brasileira como o Chico Buarque de Holanda.
Os vinte sete anos de cadeia, além de ser chamado de terrorista por Ronald Reagan e Margareth Thatcher, não anularam Nelson Mandela; sequer impediram que ele se tornasse o presidente da África do Sul, e uma das maiores figuras da humanidade como Nelson Mandela.
A sanha odiosa de Sérgio Fernando Paranhos Fleury, que executou friamente vários homens e mulheres honrados, não bastou e a biografia de Carlos Marighella sobreviveu e ele hoje é o Carlos Marighella, poeta e idealista, que sonhou com um mundo mais justo.
Delatores congelam nas esferas mais baixas do inferno.
Covardes saem na urina da história.
Venais escorrem no esgoto da vida.
Lambe-botas se arrastam anos a fio como capachos.
Covardes saem na urina da história.
Venais escorrem no esgoto da vida.
Lambe-botas se arrastam anos a fio como capachos.
Quando pensar que tiranos, oportunistas, poderosos e famosos levam vantagem, lembre-se do texto sagrado [Hebreus 11:35-39]:
[Devido a fé] mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos;
uns foram torturados, não aceitando o seu livramento,
para alcançarem uma melhor ressurreição;
E outros experimentaram escárnios e açoites,
e até cadeias e prisões.
Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada;
andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
desamparados, aflitos e maltratados
(Dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.
E todos estes, tendo tido testemunho pela fé,não alcançaram a promessa.
uns foram torturados, não aceitando o seu livramento,
para alcançarem uma melhor ressurreição;
E outros experimentaram escárnios e açoites,
e até cadeias e prisões.
Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada;
andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
desamparados, aflitos e maltratados
(Dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.
E todos estes, tendo tido testemunho pela fé,não alcançaram a promessa.
Soli Deo Gloria
----------------------------------------------------------------------------A ARTE DE NÃO ADOECER
Por Dr.
Draúzio Varella
Se não
quiser adoecer – “Fale de seus sentimentos”. Emoções e sentimentos que são
escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores
lombares, dor na coluna… Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em
câncer. Então vamos desabafar,confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos
segredos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e
excelente terapia..
Se não quiser
adoecer – “Tome decisão”. A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade,
na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história
humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber
perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas
de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.
Se não
quiser adoecer – “Busque soluções”. Pessoas negativas não enxergam soluções e
aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo.
Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas
produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo
gera energia negativa que se transforma em doença.
Se não
quiser adoecer – “Não viva de aparências”. Quem esconde a realidade finge, faz
pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito,
bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso… uma estátua de bronze, mas
com pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas.
São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o
hospital, a dor.
Se não
quiser adoecer – “Aceite-se”. A rejeição de si próprio, a ausência de
auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo
de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos,
imitadores, competitivos,destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar
as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.
Se não
quiser adoecer – “Confie”. Quem não confia, não se comunica, não se abre, não
se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras.
Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos
outros e em Deus.
Se não
quiser adoecer – “Não viva sempre triste”. O bom humor, a risada, o lazer, a
alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de
alegrar o ambiente em que vive. “O bom humor nos salva das mãos do doutor”.
Alegria é saúde e terapia. “
_________________________________________________________________________
Ricardo Gondim
Oportuno ressuscitar o Chacrinha: Quem não se comunica se trumbica. Em plena ebulição de manifestantes lotando centenas de cidades pelo Brasil a fora, uma breve visita aos programas evangélicos revela não apenas a desconexão das principais igrejas-empresas, como a alienação que elas submetem seus fieis. Todas mantêm o velho e sovado discurso do milagre, da bênção da prosperidade e da salvação para depois da morte. Resta uma pergunta: os comunicadores evangélicos são bem-sucedidos em suas empreitadas? A resposta cabe tanto um sim como um não. Sim, caso se considere o espetacular crescimento numérico dos crentes e fortuna que amealham. Não, se levarmos em conta o recrudescimento de preconceitos e a ostensiva rejeição que evangélicos sofrem entre os formadores de opinião.
Dificilmente qualquer um dos famosos televangelistas se aventurariam nas ruas durante os protestos. Nenhum deles marcharia ao lado daqueles primeiros manifestantes. Chego a pensar no pior. Se rasgaram bandeiras de partidos, imagine o que fariam aos mais audazes televangelistas – os que vivem de dedo em riste. Se já aconteceram relatos de discriminação contra pastores ao preencherem cadastro de crediário ou quando alugam casas e fazem o check in em hotel, numa passeata em que xingam tudo e todos, os pastores seriam linchados. Se políticos são considerados – numa generalização irresponsável – corruptos, o senso comum trata pastores como falastrões, sempre ávidos por dinheiro.
Eugene Peterson narra sua aflição numa conversa com um passageiro que viajava ao seu lado pela Ásia. Em determinado momento, o homem indagou a profissão de Peterson. Sou pastor, respondeu. A reação do homem foi constrangedora: Pastor, responda-me, por favor: por que, quando me vejo perto de um monge budista, tenho a sensação de estar ao lado de um santo homem de Deus, mas junto de um pastor fico com a impressão de que converso com um homem de negócios?
Líderes evangélicos precisam acordar: o tempo reclama por mais do que mera retórica. Na inquietação popular, evidenciou-se a penúria dos sermões – o conteúdo dos púlpitos não vai além de chavões surrados, reciclados e esvaziados por excessivo uso. A grande maioria dos pastores só tem um punhado de versículos – não passam de uma centena – pinçados dos contextos de guerra ou da percepção do Deus ainda tribal em Israel. Pastores repetem ad nauseum vitória nas batalhas e milagres excepcionais, mas não conseguem articular agenda de mudança social. O meio gospel trata como excepcionais evangelistas que decoram esses poucos versículos e conseguem citá-los, como rajada de metralhadora, no meio de um sermão. A retórica funciona bem entre os que se acostumaram à subcultura gospel, mas soa estranha fora de seus muros.
O tempo exige credibilidade. Cansado de corrupção, de conto-do-vigário, o povo precisa de um aceno mínimo dos pastores de que eles não participam da mesma cultura dos caudilhos, dos coronéis, das oligarquias e das elites que se favoreceram da miséria. Caso contrário, permanecerá no país a ideia de que eles não passam de espertalhões, prontos a surfar na onda que prevelacer. O povo os procurará apenas para conseguir bênção, mas jamais acreditará que têm proposta de como organizar a vida. Assim pastores se condenam à categoria de feiticeiros, hábeis na técnica de acessar o sobrenatural, fazendo com que a magia substitua o engajamento político e a religião continue vassala dos interesses de quem precisa de alienados.
Agora, mais do que nunca, tornou-se imperativo sintonizar sermão e vida. De nada serve lidar com conceitos que fazem todo sentido em torres de marfim. Como o evangelho não doura a pílula existencial, os pastores não podem ter a pretensão de que, em tese, os fieis, literalmente, andam sobre as águas, seguram serpentes sem serem picados e bebem veneno. Os cristãos também sofrem em ônibus lotados, também esperam semanas por vaga em hospital público e também sobrevivem com subsalários.
Tornou-se inadiável o diálogo entre a igreja e os diferentes setores que reivindicam mudança radical. Ficou claro: o problema da corrupção, pobreza crônica e injustiça social extrapola pessoas e partidos políticos. Qualquer partido, uma vez no poder, ficará exposto a uma estrutura que exige que ministros ou presidentes de estatais – da Petrobrás aos Correios – sejam ocupados, não por técnicos, mas por indivíduos que defendem os interesses particulares de caciques partidários.
O dilema shakespeareano em que o Brasil se meteu é: mudança ou revolução, eis a questão. Os neopentecostais brasileiros podem até pedir mudança, mas parecem indispostos a “vender tudo e dar aos pobres”. Envolver-se numa revolução radical de inclusão, ascensão social e justiça econômica custa caro – uma cruz. Em Para além do bem e do mal, Nietzsche disse que quando adestramos a nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde. Fica a sensação de não haver grupo mais preocupado nesse adestramento do que os neopentecostais; e mesmo que não cogitem, eles estarão entre os que serão mordidos.
O Brasil ferveu e os pastores pediram aos crentes que orassem. Pobres líderes. Esqueceram da resposta de JHVH a Moisés diante do Mar Vermelho: Por que orar nesta hora? Manda o povo que marche. Infelizmente, poucos pastores têm coragem de serem os primeiros a colocar o pé nas águas tumultuadas de um oceano de incertezas. Mais uma vez grandes segmentos da comunidade evangélica perderam o kairós da história e de Deus. Repito: infelizmente.
Soli Deo Gloria
Opostos que se atraem: Marco Wyllys e Jean Feliciano
Por Clemir Fernandes
Um se arvora defensor da “família brasileira”; o outro, paladino da “liberdade individual”.
Um diz enfrentar o perigo da “ditadura gay”; o outro afirma lutar contra o “fundamentalismo religioso”.
Um cria pânico moral: Eles vão destruir os valores familiares que sustentam a sociedade brasileira; o outro, pânico cultural: Eles vão num crescente de intolerância e chegarão a proibir até mesmo o futebol!
O que ambos não dizem claramente é que precisam desesperadamente do radicalismo um do outro. Que estão fazendo coreografia, jogando para os interesses de suas respectivas plateias.
O que ambos não dizem verdadeiramente é que esse conflito produz capital político e econômico. Um único exemplo: o Estado e também setores privados financiam tanto a “Marcha para Jesus” como a “Marcha do orgulho gay”. Um nicho de poder alimentado por seu contraponto e vice-versa.
Essa atração fatal de Marco Wyllys e Jean Feliciano não contribui, efetivamente, para a democracia, para a defesa de um amplo estado de direito, para a produção de leis justas nem ainda para a construção de políticas públicas em prol dos direitos de todos os diferentes segmentos, especialmente dos mais explorados, da sociedade brasileira.
Resumo dessa ópera-bufa: Tal conflito público serve mais — muito mais — aos interesses eleitoreiros dos deputados protagonistas do que efetivamente às causas que dizem defender.
Parafraseando D. Hélder Câmara digo que o “escravo” de ontem (evangélico: minoria) quer ser senhor de escravos hoje (impor suas verdades para todos); e o “escravo” de hoje (LGBTs e outras minorias) quer ser senhor de escravos amanhã (impor também suas verdades). Como diz esse “santo humano”: Basta dessa lógica de dominação!
Na guerra insana de todos contra todos não existe espaço para a sociedade politica da inclusão e respeitadora dos direitos de todos, que devemos e precisamos aprofundar e avançar.
Construamos um caminho do meio: de tolerância PARA TODOS, de respeito de direitos PARA TODOS, de justiça PARA TODOS.
Embora possa parcer ingênua ou ignorante quanto às disputas do mundo real, tal posição é uma possibilidade exequível e não é novidade, afinal temos lastro histórico para isso. A luta de Gandhi, de Luther King e, sobretudo, de Mandela, nosso contemporâneo, dão provas cabais da plausibilidade desse caminho. Não preciso eliminar o outro para ter meus direitos reconhecidos. Antes o contrário, como mostra teoricamente Rousseau no célebre texto sobre a origem da desigualdade entre os seres humanos. Somente manterei meus direitos se respeitar o direito dos outros. Simples assim!
Em suma, sigo com Jesus, que não discrimina nem exclui ninguém, antes nos desafia a amar — existencialmente, não platonicamente — todas as pessoas. E ele ensina: Tudo quanto quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também a eles. Sabedoria divina para nós humanos aprendizes. Pratiquemos!
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Afinal, o que está errado com a teologia da prosperidade?
Apesar de até o presente só ter melhorado a vida dos seus pregadores e fracassado em fazer o mesmo com a vida dos seus seguidores, a teologia da prosperidade continua a influenciar as igrejas evangélicas no Brasil.
Uma das razões pela qual os evangélicos têm dificuldade em perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e "testemunhas de Jeová" sobre a pessoa de Cristo, por exemplo. A teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do Cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz.
Uma das razões pela qual os evangélicos têm dificuldade em perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e "testemunhas de Jeová" sobre a pessoa de Cristo, por exemplo. A teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do Cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz.
- Ela está certa quando diz que Deus tem prazer em abençoar seus filhos com bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que qualquer bênção vinda de Deus é graça e não um direito que nós temos e que podemos revindicar ou exigir dele.
- Ela acerta quando diz que podemos pedir a Deus bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que Deus tem o direito de negá-las quando achar por bem, sem que isto seja por falta de fé ou fidelidade de nossa parte.
- Ela acerta quando diz que devemos sempre declarar e confessar de maneira positiva que Deus é bom, justo e poderoso para nos dar tudo o que precisamos, mas erra quando deixa de dizer que estas declarações positivas não têm poder algum em si mesmas para fazer com que Deus nos abençoe materialmente.
- Ela acerta quando diz que devemos dar o dízimo e ofertas, mas erra quando deixa de dizer que isto não obriga Deus a pagá-los de volta.
- Ela acerta quando diz que Deus faz milagres e multiplica o azeite da viúva, mas erra quando deixa de dizer que nem sempre Deus está disposto, em sua sabedoria insondável, a fazer milagres para atender nossas necessidades, e que na maioria das vezes ele quer nos abençoar materialmente através do nosso trabalho duro, honesto e constante.
- Ela acerta quando identifica os poderes malignos e demônicos por detrás da opressão humana, mas erra quando deixa de identificar outros fatores como a corrupção, a desonestidade, a ganância, a mentira e a injustiça, os quais se combatem, não com expulsão de demônios, mas com ações concretas no âmbito social, político e econômico.
- Ela acerta quando diz que Deus costuma recompensar a fidelidade mas erra quando deixa de dizer que por vezes Deus permite que os fiéis sofram muito aqui neste mundo.
- Ela está certa quando diz que podemos pedir e orar e buscar prosperidade, mas erra quando deixa de dizer que um não de Deus a estas orações não significa que Ele está irado conosco.
- Ela acerta quando cita textos da Bíblia que ensinam que Deus recompensa com bênçãos materiais aqueles que o amam, mas erra quando deixa de mostrar aquelas outras passagens que registram o sofrimento, pobreza, dor, prisão e angústia dos servos fiéis de Deus.
- Ela acerta quando destaca a importância e o poder da fé, mas erra quando deixa de dizer que o critério final para as respostas positivas de oração não é a fé do homem mas a vontade soberana de Deus.
- Ela acerta quando nos encoraja a buscar uma vida melhor, mas erra quando deixa de dizer que a pobreza não é sinal de infidelidade e nem a riqueza é sinal de aprovação da parte de Deus.
- Ela acerta quando nos encoraja a buscar a Deus, mas erra quando induz os crentes a buscá-lo em primeiro lugar por aquelas coisas que a Bíblia constantemente considera como secundárias, passageiras e provisórias, como bens materiais e saúde.
A teologia da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do movimento de batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto, abstrai-o do contexto maior das Escrituras e o utiliza como lente para reler toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao final, o que temos é uma religião tão diferente do Cristianismo bíblico que dificilmente poderia ser considerada como tal. Estou com saudades da época em que falso mestre era aquele que batia no portão da nossa casa para oferecer um exemplar do livro de Mórmon ou da Torre de Vigia...
Augustus Nicodemus Lopes
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Religião e alucinação
Ricardo Gondim
Ricardo Gondim
Tenho muita pena dos crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do “me engana que eu gosto”.
Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.
Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns sucumbiram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram maridos agonizar sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca verem a promessa se cumprir.
Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina - quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes.
Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, motoristas, cozinheiros, enfermeiras, pedreiros, professoras, terão dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.
Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.
Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos fantasiosos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade, fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.
Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando… Pode ser que uns poucos prestem atenção.
Soli Deo Gloria
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DESABAFO E LUCIDEZ
O cantor João Alexandre publicou
em seu perfil no Facebook uma declaração de rompimento com o meio gospel,
demonstrando sua insatisfação com os rumos que esse setor tomou. Em seu texto,
o cantor solicita que ao se referir a ele, não o relacione ao meio gospel, a
quem chama de “’idiotizado’ mercado”. A declaração de João Alexandre, um dos
artistas de maior relevância na música cristã e um dos precursores do
movimento, discorda frontalmente do que vem sendo praticado pelo mercado: “O
termo “Gospel” tem uma conotação mercadológica baseada na fama, na grana e na
idolatria de artistas, bandas, gravadoras, formatos musicais, mensagens
positivistas, entre outras distorções que variam conforme a conveniência dos
tempos e dos “bolsos” dos brasileiros, cristãos ou não”. Confira abaixo a
íntegra do texto de João Alexandre, publicado em seu perfil no Facebook:
Peço licença para uma
declaração:
Não faço mais parte,
definitivamente, nem em número, nem em gênero e nem em grau, do importado
movimento “GOSPEL”!
Por favor, quando alguém se
referir a mim ou ao meu trabalho, não utilize esta forma de me definir e nem me
inclua dentro desse “idiotizado” mercado, pelo bem da verdadeira Música Cristã
Brasileira e de seus honrados e dedicados compositores, artistas e poetas que,
assim como eu, sobrevivem, a duras penas, de seus talentos e trabalhos, nadando
na contramão da escravidão imposta pela grande mídia!
Simplesmente me chamem de
João Alexandre, músico (e olha lá!)!O termo “Gospel” tem uma conotação
mercadológica baseada na fama, na grana e na idolatria de artistas, bandas,
gravadoras, formatos musicais, mensagens positivistas, entre outras distorções
que variam conforme a conveniência dos tempos e dos “bolsos” dos brasileiros,
cristãos ou não!
Só quero, assim como
qualquer músico que busca a excelência, fazer o melhor que posso com aquilo que
tenho, de forma honesta e verdadeira, dormir com a consciência tranqüila de que
cumpro a missão que Deus me deu (de cantar sempre a Verdade!) e agradecer todos
os dias a Ele por aqueles que me deixam fazer parte de seus ouvidos e de suas
existências!
Se você está no meu time,
compartilhe! Se não, me perdoe!
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De muitas maneiras diferentes…
Tim Carriker
Lucas 3.18
“João anunciava de muitas maneiras diferentes a boa notícia ao povo e apelava a eles para que mudassem de vida" (NTLH).
Quando eu penso em João Batista, confesso que tendo a pensar em uma pessoa um tanto quadrado, inflexível e tradicional. Mas o versículo acima nos dá outra visão… a visão de uma pessoa um tanto criativa e disposta a comunicar a boa mensagem a respeito de Jesus Cristo de diversas maneiras. Certo que não sabemos como foi esta variedade. João usava dramatização? Falava em parábolas? Fazia uso da dança litúrgica? Não sabemos a resposta para estas perguntas específicas, mas acredito que poderíamos supor que João estaria hoje disposto a usar estes e outros meios para comunicar a sua fé.
E agora, eu, ou você, ou a sua igreja? Somos dispostos a usar diversos meios para comunicar a nossa fé? Pelo menos tentar? Ou as nossas tradições nos prendem como sapatos feitos de chumbo? Sim, eu sei, experimentar dar medo. E corremos sempre o risco, ao experimentarmos, de não sermos “bem-sucedidos”. Mas vale a pena tentar.
Durante anos eu dava um curso no seminário (em Minas Gerais, São Paulo, Ceará e Florianópolis) sobre o evangelismo. Eu sempre começava as aulas pedindo que os alunos contassem as suas experiências de evangelismo. E sempre ficava surpreendido pela diversidade de maneiras que estes alunos conseguiam comunicar a sua fé. Mas não deveria ser diferente. Afinal, se temos a mensagem mais importante do mundo para contar, e se temos a incumbência de contá-la em cada canto do mundo, com certeza haverá diversas maneiras de fazer isto. Quero desafiá-lo. Procure uma só maneira diferente para comunicar a sua fé. Escreva uma carta para alguém. Faça uma poesia. Cante no coral. Participe de uma dramatização. Conduza um estudo bíblico… o que for. Pode se surpreender.
Oração
Graças te damos ó Pai, pelos dons cedidos a cada um. Capacite-nos para compartilharmos as boas notícias a respeito de Jesus de uma nova forma. Em nome de Jesus. Amém.
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O Genuíno Vencedor
Por Rick Warren
Em todas as áreas da vida, seja no mundo dos esportes, no ambiente de trabalho ou em atividades recreativas, desfrutamos a experiência de um vencedor. Ganhar um contrato importante ou uma promoção merecida, receber um aumento de salário – tudo isso nos proporciona contentamento e realização como profissionais e empresários. Na condição de espectadores, também nos sentimos vencedores quando a equipe do nosso esporte favorito triunfa. Mesmo quando disputamos jogos em família, muitos se esforçam por serem ganhadores.
Mas o que realmente significa ser um vencedor ? Será que existe, para vencer, algo além de prevalecer sobre um competidor ou marcar mais pontos que o oponente? Eis alguns pensamentos sobre um verdadeiro vencedor:
O vencedor respeita aqueles que são superiores a ele e tenta aprender com eles; o perdedor ressente-se dos que lhe são superiores e racionaliza suas conquistas.
O vencedor explica; o perdedor se justifica, apresenta desculpas.
O vencedor diz: “Nós devemos achar um jeito”; o perdedor diz: “Não tem jeito”.
O vencedor analisa o problema, buscando solução; o perdedor tenta rodear o problema, buscando evitá-lo por completo.
O vencedor diz: “Deveria ter um modo melhor de fazer isto”; o perdedor diz: “Este é o modo como sempre foi feito”.
O vencedor demonstra seu arrependimento e busca reparar o que foi feito; o perdedor diz: “Sinto muito”, mas repete a mesma ofensa na próxima oportunidade.
O vencedor sabe pelo que deve lutar e com o que pode transigir; o perdedor transige com o que não deveria e luta por coisas que não valem a pena.
O vencedor trabalha mais duro do que o perdedor e tem mais tempo; o perdedor está sempre “ocupado demais” para fazer o que é necessário.
O vencedor não tem medo de perder; o perdedor secretamente tem medo de vencer.
O vencedor assume e honra seus compromissos; o perdedor faz promessas para depois ignorá-las.
A Bíblia também apresenta pensamentos desafiadores sobre vencer e perder. Por exemplo, o apóstolo Paulo escreveu acerca da importância de se estar preparado para alcançar a vitória: “Vocês não sabem que de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio” (I Coríntios 9.24). Em outra passagem, Jesus alertou sobre o risco de perder – mesmo quando se ganha: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8.36).
Mais Cristo, menos Cristianismo
Ed René Kivitz
Toda religião está estruturada em dogmas, rituais e códigos morais. O Cristianismo também. Mas não são os dogmas, os rituais e os códigos morais que definem a experiência pessoal com Cristo. O apóstolo Paulo esclareceu que os seguidores de Jesus não podem ser reduzidos a observadores de rituais e padrões morais: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa, ou à celebração das luas novas, ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras: Não manuseie!, Não prove!, Não toque!? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne [Colossenses 2.16,17,20-23].
A experiência mística do Cristo crucificado e ressurreto, comunhão com Ele, viver nEle, estar nEle, andar nEle [1Coríntios 1.9; Colossenses 1.2, 26,27; 2.6,7; 3.2], enfim, a devoção e a adoração a Cristo importam mais que a defesa do Cristianismo, isto é, dos dogmas, rituais e códigos morais considerados cristãos.
A imitação de Cristo é a essência do seguimento de Jesus, e importa mais que a adesão ao Cristianismo. Consta que Mahatma Gandhi teria afirmado a respeito dos protestantes ingleses: Aceito seu Cristo, mas não aceito seu Cristianismo. Eis aí uma constatação interessante: não poucas vezes a maneira como pretendemos servir a Cristo implica trair o espírito de Cristo. Talvez tenha sido isso o que Friedrich Nietzsche quis dizer ao afirmar que se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no Redentor. O apóstolo Paulo estava ciente desse perigo e, por isso, recomendou aos cristãos: Vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos. Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai [Colossenses 3.5-17]. Há muitas pessoas que se declaram adeptas da religião Cristianismo, mas não se comprometem a viver como Jesus Cristo viveu e ensinou. Não estão ocupadas em guardar (obedecer) todas as coisas que ele ordenou [Mateus 20.18-20], nem tampouco em andar como Ele andou [1João 2.6]. A respeito dessas pessoas, o próprio Jesus declarou: Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! [Mateus 7.21-23]. Cristo é maior que o Cristianismo. Por essa razão, a adoração a Cristo é mais importante que a defesa do Cristianismo, e a imitação de Cristo é mais importante que a adesão ao Cristianismo. Ser como Cristo e fazer mais por Cristo, eis as legítimas aspirações de todo aquele que se comprometeu com o caminho de Cristo.
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Traduções contemporâneas dos dez mandamentos
Ed René Kivitz
I Não terás outros deuses Não crerás na existência de outros deuses, senão de Deus. Não explicarás o universo senão em relação a Deus. Não terás outro critério de verdade senão Deus. Não te relacionarás com pseudodivindades, senão com Deus. Não dependerás de falsos deuses, senão de Deus. Não terás satisfação em nada que exclua Deus. II Não farás imagens Não tratarás como Deus o que não é Deus. Não compararás Deus com qualquer de suas criaturas. Não atribuirás poder divino a qualquer das criaturas de Deus. Não colocarás nenhuma criatura entre ti e o teu Deus. Não diminuirás Deus para que possas compreendê-lo ou dominá-lo. Não adorarás qualquer criatura que pretenda representar Deus. III Não tomarás o nome do teu Deus em vão Não dissociarás o nome da pessoa de Deus. Não colocarás palavras na boca de Deus. Não te esconderás atrás do nome de Deus. Não usarás o nome de Deus para te justificares. Não te relacionarás com uma idéia a respeito de Deus, senão com o próprio Deus. Não semearás dúvidas respeito do caráter e da identidade de Deus. IV Lembra-te do sábado Não deixarás de dedicar tempo exclusivamente para Deus. Não deixarás de prestar atenção em Deus. Não deixarás de descansar em Deus. Não derivarás teu valor da tua produtividade. Não tratarás a vida como tua conquista. Não deixarás de reconhecer que em tudo dependes de Deus. V Honra teu pai e tua mãe Não negarás tua origem. Não terás vergonha do teu passado. Não deixarás de fazer as pazes com tua história. Não destruirás a família. Não banalizarás a autoridade dos pais em relação aos filhos. Não deixarás teu pai e tua mãe sem o melhor dos teus cuidados. VI Não matarás Não tirarás a vida de alguém. Não tirarás ninguém da vida. Não negarás o perdão Não farás justiça com tuas mãos movidas pelo ódio. Não negarás ao outro a oportunidade de existir na tua vida. Não construirás uma sociedade que mata. VII Não adulterarás Não farás sexo; Não farás sexo na imaginação; Não farás sexo virtual; Exceto com teu cônjuge. Não te deixarás dominar pelos teus instintos físicos. Não terás um coração leviano e infiel. Não te satisfarás apenas no sexo, mas te realizarás acima de tudo no amor. VIII Não furtarás Não vincularás tua satisfação às tuas posses. Não te deixarás dominar pelo desejo do que não possuis. Não usurparás a propriedade e o direito alheios. Não deixarás de praticar a gratidão. Não construirás uma imagem às custas do que não podes ter. Não pensarás só em ti mesmo. IX Não dirás falso testemunho Não dirás mentiras. Não dirás meias verdades. Não acrescentarás nada à verdade. Não retirarás nada da verdade. Não destruirás teu próximo com tuas palavras. Não dirás ter visto o que não vistes. X Não cobiçarás Não viverás em função do que não tens. Não desprezarás o que tens. Não te colocarás na condição de injustiçado. Não desdenharás os méritos alheios. Não duvidarás da equanimidade das dádivas de Deus. Não viverás para fazer teu o que é do teu próximo, mas do teu próximo o que é teu.
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A Instituição
Ed René Kivitz
A igreja de Jesus Cristo sempre viveu a tensão entre suas faces orgânica e organizacional. Parece que nos últimos anos essa tensão se agravou. Especialmente no segmento evangélico de tradição reformada, a crítica à “igreja instituição” está na moda, e não são poucos os que se vangloriam de ter “rompido com a instituição”. Outro dia alguém me classificou de “institucionalizado”, e me senti praticamente xingado. Decidi dar mais atenção à dimensão institucional da igreja, corpo vivo de Cristo. Jamais imaginei que fosse levantar minha voz para defender a bandeira institucional, e é bem provável que no início eu estivesse movido pelo instinto de sobrevivência ou auto-justificação, mas ao final achei que meus argumentos faziam sentido. Hoje já não me incomodo quando alguém diz que sou “institucionalizado”.
Essa conversa de “ser desinstitucionalizado” na melhor das hipóteses reflete ignorância. Na pior, má fé. Considere a chamada “igreja primitiva”, geralmente idealizada como modelo “desinstitucionalizado” a ser reproduzido, e perceba que o desenvolvimento natural da igreja exigiu organização (Atos 6.1-7), nomeação de liderança e acomodação hierárquica (Atos 14.21-23), estabelecimento de normas, costumes e critérios éticos entre as igrejas (Atos 5.1-11), definição de um credo mínimo (Romanos 11.33-36; Filipenses 2.5-11; 1Timóteo 1.17; 3.16), assembléias presbiteriais (Atos 15); ação estratégica para a expansão (Atos 13.1-3; 11.19-21), sistema de arrecadação, gestão e distribuição de recursos financeiros (2Corintios 8,9); ordem e direção litúrgica para os encontros coletivos (1Coríntios 14.26-40), dentre outras características que hoje são consideradas um gesso que impede a boa manifestação do corpo orgânico da igreja.
A tão celebrada “igreja primitiva” era institucionalizada. Caso você participe de um “movimento” que tenha: (1) liderança identificada; (2) hierarquia definida; (3) rotina de atividades; (4) agenda de serviços; (5) voluntários coordenados; (6) demandas coletivas; e (7) necessidade de arrecadação financeira, então você não participa de um movimento, você é institucionalizado.
Os que se consideram “desinstitucionalizados” geralmente são aqueles que romperam com uma instituição e se comprometeram com outra. A diferença é que algumas instituições têm centenas de anos de história enquanto outras nasceram ontem, e quase sempre baseadas em uma personalidade tipo “guru” ou “messias reformador” que levará a igreja de volta às origens. Reconheço que por serem mais novas, as instituições emergentes podem ser mais leves, ágeis e eficazes. Mas não significa que não sejam instituições. E também não significa que sejam menos perniciosas e enfermas que as instituições centenárias.
Jesus advertiu que o vinho carece de odre, e que há odres mais adequados que outros. A questão, portanto, não é ser ou não ser institucionalizado, mas o tipo de instituição que pretende acomodar o vinho novo do Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Imaginar a possibilidade de uma igreja que seja apenas organismo espiritual sem qualquer dimensão de instituição social é o mesmo que considerar a possibilidade de chegar no balcão da padaria e pedir um refrigerante dizendo: “Sem garrafa, por favor”.
O conflito entre as dimensões orgânica e organizacional da igreja começou cedo. Tão logo Jesus foi levado aos céus. No contexto da comunhão e da oração (organismo) Pedro se levanta para promover a eleição do substituto de Judas (organização). Mas Deus não se fez de rogado, mandou do céu algo como um vento impetuoso e deixou claro que a necessidade humana de controle que tende a se perpetuar através de sistemas institucionais jamais conteria a dinâmica vital do povo batizado com o Espírito Santo, pois “o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Coríntios 3.18).
Essas reflexões me levaram a considerar os dez pecados que um líder institucional não pode cometer. São eles:
1° Enclausurar Deus nas paredes de sua instituição
2° Limitar a manifestação do Reino de Deus aos horizontes de sua instituição
3° Condicionar a relação com Deus à relação com sua instituição
4° Exigir da igreja, povo de Deus, sacrifícios em nome de sua instituição
5° Restringir a atuação ministerial dos cristãos ao engajamento em sua instituição
6° Confundir a instituição com o corpo vivo de Cristo
7° Pretender gerir o corpo vivo de Cristo com a lógica da gestão institucional – se preferir, basta “pretender gerir o corpo vivo de Cristo”
8° Priorizar as relações funcionais em detrimento das relações pessoais
9° Colocar o corpo vivo de Cristo a serviço da instituição
10° Tentar perenizar a instituição.
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Sua Igreja está morrendo?
Pecados mortais estão em ação. Se você teme que sua igreja esteja morrendo, pare de procurar culpados e comece a assumir a responsabilidade.
Primeiro, as boas notícias. A Igreja é o Corpo de Cristo. Ela não pode morrer. Sua cabeça é o Cristo ressurreto, o Rei de tudo que há e que há de vir. Ele leva seu povo, de um a um, para a glória eterna ao morrerem, para de lá esperar [aqui as palavras falham: como você espera por algo quando o tempo já não existe?] pelo dia do Senhor, “quando o céu e a terra serão um”.
Segundo, não são nem boas nem más notícias que sua igreja local possa morrer, porque isto não é nenhuma novidade. Sua igreja é uma comunidade de mortais; se eles morrerem e não forem substituídos, a igreja estará morta naquele local. O meio oeste rural norte-americano está marcado de cemitérios com nomes de igrejas locais que já não mais existem.
Algumas destas igrejas não morreram, na verdade. As pessoas vivas mudaram, mas sensivelmente deixaram o cemitério para trás. Isso pode ser triste, mas é uma parte da ordem natural da terra e geralmente fica tudo bem – se as pessoas foram cristãs em suas atitudes e comportamento durante a crise.
Agora vem as más notícias e elas são muito más. Uma igreja local pode morrer pela ação do inimigo – algumas vezes de fora, mas eu percebo por longa experiência que geralmente é de dentro. Durante o processo de morte, muitos dos membros da igreja se tornam experts em nomear e culpar os inimigos de dentro e de fora da igreja. Eles geralmente ficam chocados e feridos ao descobrirem que fazem parte da lista de inimigos que outras pessoas estão fazendo, quando estão apenas pensando no bem da igreja!
Naturalmente, é inerente à expertise que os experts não concordem uns com os outros. Tem sempre um outro modo de ver as coisas. Neste aspecto, uma igreja que está morrendo se assemelha a um tribunal criminal no qual tanto a promotoria quanto a defesa apresentam depoimentos arranjados de “especialistas” para sustentarem o argumento. Em vez de lutar contra a enfermidade terminal que é o inimigo comum da igreja, terminamos lutando uns contra os outros.
Mesmo pessoas boas preferem apontar culpados do que assumir responsabilidades; eu conheço minhas próprias tentações a este respeito. Somos piedosos, auto-confiantes e seguros o bastante para lançar nosso peso ao redor em defesa da tradição da verdade. Temos boas intenções. Em meu próprio caso, levei a sério as palavras de minha filha quando ela observou, no meio de uma disputa de igreja: “Estou cansada de pessoas com boas intenções!” Fazer o certo sempre triunfa sobre as boas intenções.
Alguns descrentes com discernimento conseguem enxergar nossas reais motivações. Os chefes dos sacerdotes dos judeus eram alguns dos melhores homens no mundo de seus dias e Pôncio Pilatos era um dos piores; mas quando os chefes dos sacerdotes trouxeram Jesus a Pilatos, esperando uma sentença de morte, Pilatos viu que estes bons homens não tinham razão.“Vocês querem que eu lhes solte o rei dos judeus? “, perguntou Pilatos,sabendo que fora por inveja que os chefes dos sacerdotes lhe haviam entregado Jesus.” (Marcos 15.9-10 ênfase minha)
Inveja matou Jesus? Soa trivial, mas por que não? É um dos sete pecados mortais. Todos eles são assassinos se persistirem sem que haja arrependimento; este é o significado de mortal. Os pecados mortais matam. Cristãos e igrejas são espectadores ameaçados. Você não precisa procurar por razões sociológicas ou psicológicas quando um ou mais dos pecados mortais estiverem ativos em seu meio. Você não pode confessar os pecados de outras pessoas (que é o que acontece quando se tenta apontar e culpar), mas você deve confessar seus próprios se a igreja irá recuperar de seu estado terminal.
Aqui estão os sete, caso você necessite ser lembrado.
• Orgulho, quando se age em auto-justificação e determinação de fazer prevalecer seu próprio modo porque é o seu modo.
• Inveja, quando você está insatisfeito com seu lugar na igreja e age a partir de sua insatisfação para subverter aqueles que estão no lugar que você deseja estar.
• Glutonaria, quando você é consumido pelo seu consumo e fica sem tempo, energia ou vontade para mais nada.
• Cobiça, quando seu desejo físico por outro é sem amor e egoísta.
• Ira, quando direcionada para ferir e destruir a você mesmo ou outros.
• Avareza, quando seu único alvo é mais para você mesmo.
• Preguiça, quando não se está nem aí.
Pogo já foi citado inúmeras vezes: “Nós encontramos o inimigo, e ele somos nós.” Se sua igreja estiver morrendo, talvez seja sua vez de citá-lo.
Por Everett Wilson, 26 de Janeiro de 2011.
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A BÍBLIA MAL COMPREENDIDA,
UM PROBLEMA SÉRIO NA VIDA.
LUIZ SAYÃO
A maioria dos mais informados vai concordar que atravessamos um cenário complicado no evangelicalismo brasileiro. Todos sabem que a igreja cresceu demais nas últimas décadas, mas ela ainda busca um amadurecimento. Movimentos mais contextualizados e grupos voltados para a evangelização do país coloriram o cenário evangélico brasileiro nos últimos anos. Todavia, tanta euforia e efervescência também é sinal de atenção. O fato é que a igreja precisa achar um ponto de equilíbrio entre quantidade e qualidade. Sem o estudo sério e fundamentado das Escrituras Sagradas teremos problemas insolúveis a curto prazo em nossa realidade protestante tupiniquim. Infelizmente, ainda há grupos em nosso contexto de fé que desprezam o preparo teológico, há outros que são tão estranhos que vivem na fronteira entre a categoria de seita e denominação. Há muito trabalho a ser feito para a consolidação de uma tradição evangélica autêntica no Brasil.
Ninguém pode negar que essa tarefa de consolidação passa necessariamente pela referência máxima da cristandade e dos evangélicos: as Escrituras Sagradas. A compreensão da Bíblia é absolutamente fundamental para que se tenha uma igreja séria e cristãos espiritualmente saudáveis. Por incrível que pareça, o sinal de que nem tudo vai bem no cristianismo “tropical abençoado por Deus e bonito por natureza” é que há muitos textos lidos e enfatizados em nossa tradição evangélica que são mal compreendidos, gerando inclusive crises e problemas pessoais em muitos cristãos sérios e sinceros. Vejamos alguns exemplos.
Muita gente tem sofrido com seus familiares ao ler o conhecidíssimo texto de Atos 16.31: “Crê no Senhor Jesus, e tu e tua casa sereis salvos” (A21 – Versão Almeida 21). O problema desse texto é que muitas pessoas pensam que estamos diante de uma promessa divina de que todos os nossos parentes próximos serão salvos. A verdade é que o texto não ensina isso! Em primeiro lugar, é importante destacar que como texto narrativo histórico, o versículo não pretende ser normativo. Ou seja, o relato de alguma coisa que acontece não necessariamente é norma para toda a igreja. Aqui vemos uma promessa que foi dada ao carcereiro de Filipos e não para todos! A ele foi dito que ele e “os de sua casa” (NVI) seriam salvos. No caso dele, isso talvez tivesse incluído servos ou empregados, já que a “casa” de alguém nos tempos bíblicos incluía gente que não era da família de sangue. Portanto, a verdade é que ninguém pode assegurar a conversão de seus parentes com base nesse texto. Se esse fosse o caso, ninguém veria um parente próximo morrer sem converter-se a Cristo na história, mas sabemos que isso não se verifica. Além disso, o próprio Jesus deixou claro que muitos cristãos até perderiam suas famílias por causa do evangelho: “E todo o que tiver deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por minha causa, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna.” (Mt 19.29 – A21). Leia também Mateus 10.35,36. Como se vê, se nos fosse prometida a conversão de todos os parentes próximos estes textos de Mateus não fariam sentido.
Quase que na mesma linha de pensamento, muitos evangélicos, principalmente pais e mães, ficam literalmente desesperados diante de Provérbios 22.6 (ARC): “Instrui ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”. O que geralmente se entende desse versículo é que Deus está prometendo que uma criança levada ao conhecimento do evangelho desde pequena nunca se desviará da fé. Como uma mãe entende esse versículo diante do fato de que seu filho afastou-se da fé e da igreja? O problema não está em Deus e na Bíblia, pois o texto não está ensinando isso. Não há aqui uma garantia contra a apostasia! Em primeiro lugar, é importante afirmar que Provérbios não é um livro de promessas. De fato, suas afirmações são “máximas”, ou seja, fatos constatáveis de modo geral na vida. O texto está dizendo que aquilo que uma criança aprende desde pequena não é esquecido. A verdade é que a tônica do texto não é exclusivamente religiosa. É de criança que se aprende a andar de bicicleta, falar outra língua, tocar um instrumento, decorar versículos, etc. Além disso, devemos também ressaltar que o texto hebraico diz: “Instrui a criança no seu caminho...”. A tradução tradicional “deve andar” interpreta o sufixo pronominal genitivo do hebraico, indo muito além do literal. Todavia, há outras alternativas de interpretação! “Instruir a criança no caminho dela” pode significar “instruí-la segundo os objetivos que os pais têm para ela” (NVI), “instruí-la no caminho devido” (ARA, ARC, A21) ou “instruí-la conforme os dons que ela tem”. As interpretações são legítimas e o texto está aberto a mais de um enfoque distinto. No entanto, é bastante seguro afirmar que o texto não está prometendo segurança de salvação para a criança que vai à escola dominical, tem pais cristãos e ouve a Bíblia desde pequeno. O assunto ali discutido não é salvação!
Outro texto geralmente mal compreendido é Filipenses 4.13. Não faz tanto tempo, trafegando pelas áreas nobres da rica cidade de São Paulo, contemplei um belo carro importado com um adesivo que ostentava orgulhosamente o verso de Filipenses. Geralmente, quando se lê este texto isoladamente, a maioria das pessoas imagina que se trata de uma promessa de fé. Por meio do poder de Cristo, eu posso alcançar tudo o que eu quiser! Assim, posso adquirir bens caros, derrotar inimigos pessoais, subir de posição, etc, por meio de Cristo. Novamente, como nos outros casos, o texto bíblico não está dizendo isso. Aqui, para que se entenda corretamente o texto é preciso entender o contexto. O apóstolo Paulo está escrevendo Filipenses na ocasião de sua prisão, muito provavelmente em Roma (Fp 1.13-14). Portanto, ele está enfatizando que por meio de Cristo podemos suportar toda e qualquer situação adversa. Basta ler o que Paulo diz um pouco antes nos versículos 11 e 12 (NVI): “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” Por incrível que possa parecer, o texto bíblico significa exatamente o oposto do que muita gente tem sugerido sem analisá-lo adequadamente.
Numa outra ocasião, em minhas jornadas, encontrei dois cristãos evangélicos num debate acalorado, discutindo se devemos ou não mentir em certas situações. Independentemente da discussão sobre a possível legitimidade de uma inverdade ou omissão da verdade em certas situações (como o caso de mentir ou omitir para salvar uma vida), o que estamos discutindo é o uso de textos bíblicos de maneira indevida. O argumento dos debatentes era o de que Abraão, servo do SENHOR, e amigo de Deus, em uma situação de necessidade, mentiu (Gn 12.18-20), o que legitimaria o procedimento. A questão aqui não é tão difícil: o simples relato de um texto histórico não o define como norma. Muitas vezes o texto bíblico conta-nos os erros e falhas de seus personagens exatamente para enaltecer o poder de Deus na vida de um ser humano frágil. Muita gente, porém, tenta ver méritos e qualidades especiais em cada detalhe de vida do personagem bíblico, sem contrastar o comportamento dos mesmos com as normas divinas. Assim, com base nos fatos de que Moisés ficou irado, Abraão mentiu, Jacó enganou Labão, Raabe mentiu em Jericó, Davi foi polígamo, etc, alguns tentam justificar seus pecados, afirmando que homens e mulheres de Deus do passado fizeram tais coisas e não foram punidos por isso. O equívoco é muito claro. Não podemos fazer isso: um texto narrativo não é necessariamente normativo.
Esses exemplos mencionados neste breve artigo apenas nos mostram a necessidade urgente e gritante de um conhecimento mais aprofundado da arte de interpretação da Bíblia (hermenêutica). Muitas comunidades cristãs são hoje reféns de doenças hermenêuticas prejudiciais e destruidoras para a fé. Há grupos perdendo o equilíbrio teológico e caindo no liberalismo teológico (negação do sobrenatural), numa filosofia específica, no legalismo, no misticismo desenfreado, no tradicionalismo irrefletido, entre outros problemas! É preciso estudar a Bíblia no seu próprio contexto, entendendo elementos históricos, literários e teológicos para que conheçamos ao máximo a intenção original do autor. Depois disso, temos a tarefa de destacar os princípios que estão presentes no texto, para então comparar o que descobrimos com uma análise teológica mais profunda, a partir de outros textos importantes que falam do princípio descoberto no texto inicialmente analisado. Finalmente, devemos fazer a aplicação do princípio descoberto e teologicamente analisado na realidade do cotidiano.
A verdade é que a seriedade e o valor do texto sagrado para sempre ecoará através da história, especialmente quando ouvimos como o próprio Jesus considerava as Escrituras: “Pois em verdade vos digo: antes que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará uma só letra ou um só traço da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18- 21).
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O TRIUNFO DA IDEOLOGIA DO MÉRITO CONTRA A TEOLOGIA DA GRAÇA
O ex-árbitro de futebol Oscar Roberto de Godói foi baleado num assalto em São Paulo. Depois de sair do hospital, fez a seguinte declaração:
--- “Eu tinha certeza que não morreria, mas não digo milagre, e sim por tudo que eu sou e faço eu não merecia. Se é Ele (Deus) que leva, não ia me levar”.
Reorganizando a frase, fica mais clara a teologia por trás dela: "Eu tinha certeza que não morreria. Se é Ele (Deus) que leva, não ia me levar, não por milagre, mas porque eu não merecia, por tudo que eu sou e faço".
Talvez pudéssemos, então, concluir: quem morre num assalto morre porque não merece ficar vivo. Estamos, portanto, cercados pela ideologia do mérito, contra a teologia da graça.
A ideologia do mérito é sedutora. A teologia da graça não tem charme nenhum. A ideologia do mérito é onipresente. A teologia da graça habita um ponto minúsculo no horizonte. A ideologia do mérito pressupõe que Deus é justo. A teologia da graça pressupõe que Deus é bom. A ideologia do mérito produz culpa. A teologia da graça espoca em liberdade. A ideologia do mérito é natural. A teologia da graça é espiritual. A ideologia do mérito exalta o ser humano. A teologia da graça exala o perfume da cruz de Cristo. Nascemos com a ideologia do mérito. Só vivemos bem com a teologia da graça.
Desejo-lhe um
BOM DIA.
Pr. Israel Belo de Azevedo
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COMO VIVER SEM MÁSCARAS
Rev. Hernandes Dias Lopes
O carnaval é a maior festa popular do Brasil, e talvez, do mundo. Nessa festa da extravagância e dos excessos, muitas pessoas saem às ruas usando máscaras. Algumas dessas pessoas escondem-se atrás das máscaras; outras se revelam por meio delas. Uma máscara é tudo aquilo que esconde ou encobre a nossa verdadeira identidade. É importante ressaltar que existem máscaras tangíveis e intangíveis; algumas cobrem o rosto; outras tentam disfarçar as atitudes da alma.
De certo modo todos nós usamos máscaras. Aquele que diz que nunca usou uma máscara, possivelmente esteja acabando de afivelar uma no rosto, a máscara da mentira. O problema das máscaras é que elas proclamam uma mentira ou escondem uma verdade. Quando usamos máscaras, as pessoas passam a amar não quem nós somos, mas quem nós aparentamos ser. As máscaras também não são seguras. Por melhor que nós as afivelemos, elas podem cair nas horas mais impróprias e nos deixar em situação de total constrangimento.
Queremos mencionar aqui algumas máscaras usadas ainda hoje.
1. A máscara da piedade - O apóstolo Paulo, ensinando sobre a doutrina da Nova Aliança, diz que podemos ser ousados em vez de agir como Moisés que pôs um véu sobre a face para que as pessoas não atentassem para a glória desvanecente em seu rosto. Quando Moisés subiu o Monte Sinai para receber as Tábuas da Lei, ao regressar, seu rosto brilhava. As pessoas não podiam olhar para ele. Então, ele colocou um véu em sua face para que as pessoas pudessem se aproximar e falar com ele. Mas houve um momento em que Moisés percebeu que a glória estava acabando. Ele não precisava mais do véu, porém, ele continuou com o véu, porque não queria que as pessoas soubessem que sua glória era desvanecente. Muitas vezes, somos parecidos com Moisés. Tentamos impressionar as pessoas com uma espiritualidade que não temos. Aparentamos ser mais crentes, mais piedosos do que na verdade somos.
2. A máscara da autoconfiança - O apóstolo Pedro era um homem impulsivo. Falava para depois pensar. Quando Jesus declarou que seus discípulos iriam se escandalizar com ele e iriam se dispersar, Pedro não titubeou e foi logo dizendo que ainda que todos o abandonassem, ele jamais o faria. Disse ainda que estava pronto para ir com Jesus para a prisão ou até mesmo para a morte. Pedro julgou-se forte e até melhor do que seus pares. Porém, naquela mesma noite, Pedro fraquejou e dormiu quando Jesus pediu para ele vigiar. Pedro abandonou a Jesus e seus condiscípulos e infiltrou-se na roda dos escarnecedores. Pedro negou, jurou e praguejou, dizendo que não conhecia a Jesus. A máscara de sua autoconfiança caiu quando Jesus olhou para ele. Então, ele caiu em si e desatou a chorar.
3. A máscara do legalismo - Um legalista é inflexível com as outras pessoas, mas condescendente consigo. Ele enxerga um cisco no olho de seu irmão, mas não vê uma trave no seu. O legalista preocupa-se mais com a forma do que com a essência. Cuida mais da aparência do que do interior. Os fariseus eram legalistas. Eles eram fiscais da vida alheia, mas descuidados com sua intimidade com Deus. Eram bonitos por fora, mas feios por dentro. Jesus os comparou a sepulcros caiados, limpos por fora, mas cheios de rapina por dentro. Os fariseus eram hipócritas. Eles eram atores que representavam no palco um papel diferente daquele desempenhado na vida real.
A vida cristã é uma contínua remoção das máscaras. A Bíblia diz que onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade; não liberdade para fazer o que queremos, mas liberdade para vivermos na luz. Pela obra de Cristo e pela ação do Espírito, podemos viver sem máscaras, sendo transformados de glória em glória, até atingirmos a estatura de Cristo, o Varão Perfeito.
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VELHO É QUEM ACHA IMPOSSÍVEL A MUDANÇA
O cineasta egípcio Ahmed Maher participou ativamente do movimento que culminou com a inimaginável queda de Hosni Mubarak. Perguntado sobre que conselhos daria aos jovens insatisfeitos de outros países, ele sugeriu:
-- Meu principal conselho: não dêem ouvidos aos mais velhos. Eles dirão que é impossível.
"Velho" não se define pela idade, mas pela visão da vida, não importa se o corpo pesa.
"Velho" também se define pela atitude diante dos jovens. Se tudo o que eles fazem está errado, você é "velho". Se você estimula os jovens, mesmo que fique em casa, não será chamado de "velho" por eles. Se você sonha junto, mesmo que a maturidade o torne menos confiante, você é irmão dos irmãos, não importa a data em que lhe foi emitida a certidão de nascimento. Se você protesta junto, escreve junto a história da mudança. Tudo o que o é realizado hoje era impossível ontem. Que lado escolhemos?
Desejo-lhe um
BOM DIA.
Pr. Israel Belo de Azevedo
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Ed René Kivitz
Toda religião está estruturada em dogmas, rituais e códigos morais. O Cristianismo também. Mas não são os dogmas, os rituais e os códigos morais que definem a experiência pessoal com Cristo.
O apóstolo Paulo esclareceu que os seguidores de Jesus não podem ser reduzidos a observadores de rituais e padrões morais: “Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras: ‘Não manuseie!’, ‘Não prove!’, ‘Não toque!’? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” [Colossenses 2.16,17,20-23].
A experiência mística do Cristo crucificado e ressurreto, comunhão com Ele, viver nEle, estar nEle, andar nEle [1Coríntios 1.9; Colossenses 1.2, 26,27; 2.6,7; 3.2], enfim, a devoção e a adoração a Cristo importam mais que a defesa do Cristianismo, isto é, dos dogmas, rituais e códigos morais considerados cristãos.
A imitação de Cristo é a essência do seguimento de Jesus, e importa mais que a adesão ao Cristianismo. Consta que Mahatma Gandhi teria afirmado a respeito dos protestantes ingleses: “Aceito seu Cristo, mas não aceito seu Cristianismo”. Eis aí uma constatação interessante: não poucas vezes a maneira como pretendemos servir a Cristo implica trair o espírito de Cristo.
Talvez tenha sido isso o que Friedrich Nietzsche quis dizer ao afirmar que “se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no Redentor”.
O apóstolo Paulo estava ciente desse perigo e, por isso, recomendou aos cristãos: “Vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos. Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” [Colossenses 3.5-17].
Há muitas pessoas que se declaram adeptas da religião Cristianismo, mas não se comprometem a viver como Jesus Cristo viveu e ensinou. Não estão ocupadas em guardar (obedecer) todas as coisas que ele ordenou [Mateus 20.18-20], nem tampouco em andar como Ele andou [1João 2.6]. A respeito dessas pessoas, o próprio Jesus declarou: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” [Mateus 7.21-23].
Cristo é maior que o Cristianismo. Por essa razão, a adoração a Cristo é mais importante que a defesa do Cristianismo, e a imitação de Cristo é mais importante que a adesão ao Cristianismo. Ser como Cristo e fazer mais por Cristo, eis as legítimas aspirações de todo aquele que se comprometeu com o caminho de Cristo.
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Ricardo Gondim
Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa idéia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadú? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembléias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
A Importância da Humildade
"Humilhai-vos... e Ele vos exaltará" (1 Pedro 5:6)
A pós-modernidade cultua o egocentrismo, o eu. Cuidado, o seu ego pode ficar no caminho da bênção de Deus. Tanto a superioridade quanto a inferioridade podem contaminá-lo com um senso de importância superestimado ou subestimado. Fique concentrado apenas em quem você é em Cristo. Isto permite que você permaneça humilde, porém confiante. É tentador tornar-se orgulhoso quando outros lhe dizem que grande trabalho você está fazendo e as suas realizações parecem provar isso. É aí que você deve permanecer humildade; de outro modo, você estará se preparando p ara uma queda. O seu real valor é determinado por quem você é em Cristo, não por sua conta bancária ou pelo título em seu cartão de visitas! Não se torne pretensioso à medida que avança; mantenha a cabeça baixa. Dê a glória a Deus e os créditos aos outros em cada oportunidade. É ele quem abre e fecha portas!
Davi sabia que havia sido escolhido para ser rei muito antes de entrar no negócio. Mas teve de esperar o tempo de Deus, em vez de forçar as coisas. E quando finalmente ele se tornou rei, nunca esqueceu que a sua ascensão ao trono tinha sido o resultado da bênção do Senhor, e não de seus próprios feitos.
Por outro lado, se você sente que não é reconhecido pelo que tem feito, nem recompensado, pare e lembre-se para quem você está trabalhando. Confie na bênção de Deus para você de acordo com o Seu programa e com a Sua abundância. Quando outros o ignoram, criticam-no injustamente ou o traem, não caia no erro de acreditar em nenhuma dessas mentiras do inimigo. Tais palavras são simplesmente os dardos inflamados do diabo tentando atacá-lo através das suas defesas. Ore pela proteção do seu Pai Celestial, permaneça humilde, e lembre-se da identidade que lhe foi dada por Deus: Filho do Altíssimo, o irmão e co-herdeiro de Jesus... Mas “servo”.
CRISTIANISMO DOS NOSSOS DIAS
Tais Machado
O cristianismo tem sido bastante criticado hoje em dia. Os cristãos parecem andar um pouco confusos em sua identidade, ou, em dar razão de sua fé. A incoerência entre discurso e prática pode ser ofensiva, além de desabilitar os empolgados e fazer cair em descrédito alguns perseverantes. Nossa preocupação em "defender" Deus, como se ele precisasse e nós pudéssemos, pode nos fazer pouco interessados no próximo, além de relapsos ouvintes, nos descredenciando para um diálogo saudável e dificultando a criação de novos espaços na proclamação.
Chamou-me a atenção o que disse em recente entrevista um dos mais influentes historiadores vivos, Eric Hobsbawm, 92 anos, quando fez algumas ponderações a respeito das religiões. Fiz um recorte para nossa reflexão: "Está claro que a religião está tão amplamente presente ao longo da história que seria um equívoco enxergá-la como fenômeno superficial ou que esteja destinado a desaparecer, pelo menos entre os pobres e fracos, que provavelmente sentem mais necessidade de seu consolo e também de suas potenciais explicações do porquê de as coisas serem como são. [...] Muitas religiões estão claramente em declínio. [...] A única exceção é o islã, que vem continuando a se expandir sem nenhuma atividade missionária efetiva nos últimos dois séculos. [...] Me parece que o islã possui grandes trunfos que favorecem sua expansão contínua - em grande medida, porque confere às pessoas pobres o sentimento de que valem tanto quanto todas as outras e que todos os muçulmanos são iguais. Mas um cristão não crê que vale tanto quanto qualquer outro cristão. Duvido que os cristãos negros acreditem que valham tanto quanto os colonizadores cristãos, enquanto alguns muçulmanos negros acreditam nisso, sim. A estrutura do islã é mais igualitária, e o elemento militante é mais forte no islã".
Por meio dos comentários desse tão respeitado historiador, somos provocados a refletir a respeito de nossa postura e prática. Podemos considerar, a partir da fala dele, que há ainda espaço para a religião e ela não pode ser descartada, ou mesmo, menosprezada. As religiões estão enraizadas na história da humanidade. E, se assim é, podemos nos perguntar como temos tirado proveito disso e procurado aprofundar os estudos e oferecer leituras do nosso tempo partindo da ótica cristã. Inclui-se aí, sobretudo, o tema da pobreza e do sofrimento e de como lidamos com tudo isso, sendo Deus soberano e amoroso.
Outro dado interessante ressaltado por ele é o crescimento do islã. Como pode uma religião ter a maior expansão "sem nenhuma atividade missionária efetiva nos últimos dois séculos"? Em seu argumento, Hobsbawm coloca que isso se deve à estrutura igualitária e à militância forte. Isso nos faz refletir sobre a razão de não termos mais gente engajada na missão, pessoas rendidas sem restrições ao senhorio de Cristo. Homens e mulheres que participem intensamente do Reino de Deus, percebendo-se como agentes de transformação, parceiros de Deus na história de salvação.
Será que um evangelho raso está sendo engolido, manco devido à sua parcialidade, e que é compreendido e aceito à medida que "funciona" para meu benefício próprio? Um evangelho exclusivamente para a vida privada, no qual faço escolhas a partir do meu gosto pessoal e meu bem-estar e se algo der errado recorro a Deus como uma espécie de magia a meu dispor?
Há uma infantilização da fé promovendo uma espécie de Peter Pan do reino (encantado). Esta doença nos faz continuar pensando eternamente como crianças, diferentemente do apóstolo Paulo, que testemunha ter vivenciado outros estágios em seu desenvolvimento (1Co 13.11). Nosso jeito de viver não atrai ninguém para Cristo? Desconfio que, ao invés de atrair, permanecemos traindo ao nosso Senhor Jesus. Se Cristo não mudou nosso jeito de vivermos "cada um na sua e tão somente para si", é preciso rever quem é esse Cristo e ter clareza de sua falsidade. Parafraseando Paulo, "se alguém vier com outro 'evangelho', querendo perverter o evangelho de Cristo, perturbadores desejosos de mudar a mensagem de Jesus, saibam recusar, conscientizem-se de que esses tais não passam de malditos enganadores. Não se pode aceitar um evangelho diferente do que aquele pregado e ensinado pelo próprio Jesus. Afinal, isso seria uma perversão" (Gl 1.6-9). Paulo, naquele contexto, salienta o caminho da graça e explica que não há outro. Entretanto, hoje há oferta de outros evangelhos na praça, e um mais ensimesmado do que outro.
Há até castas, numa possível versão cristã, em nosso meio. Olha a que ponto chegamos. Um historiador, ao observar a postura dos cristãos e observar a postura de muçulmanos, conclui que estes últimos conferem às "pessoas pobres o sentimento de que valem tanto quanto todas as outras" enquanto os cristãos, não. Antes de querer atacá-lo, podemos aproveitar a oportunidade para avaliar nossa postura, verificar como de fato temos vivido o evangelho de Jesus. O Messias tanto ensinou e insistiu no amor e, conforme o apóstolo Paulo salienta, é preciso vivermos de forma cristalina que em nosso meio já não há hierarquias. Não pode haver diferenças no trato, criando privilegiados e desprezados. Não, "não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3.28).
Como já clamava, em 1989, o respeitado pastor John Stott, "na sociedade contemporânea existe uma grande necessidade de mais pensadores cristãos se lançarem ao debate público, assim como de mais ativistas cristãos organizando grupos de pressão a fim de promover uma obra de persuasão. Sua motivação deveria ser inteiramente cristã - uma visão do Deus que ama a justiça, a compaixão, a honestidade e a liberdade em sociedade, e uma visão do ser humano que, embora caído, foi criado à imagem de Deus e é, portanto, moral, responsável e tem uma consciência que deve ser respeitada".
A fraca atuação da igreja, ou mesmo a omissão em questões tão importantes em nossa sociedade, bem como nossa passividade freqüente diante das injustiças sociais, têm feito pessoas ao nosso redor tamparem os ouvidos quando desejamos falar do amor de Deus. Têm também promovido a descrença quanto ao evangelho como poder de Deus para a salvação (Rm 1.16). Podemos clamar juntos por misericórdia divina. Podemos orar para que o Espírito de Deus nos ensine a amar como Deus, encarnando em nossos dias o que Jesus - encarnação de Deus - nos ensinou.
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DESABAFO E LUCIDEZ
O cantor João Alexandre publicou
em seu perfil no Facebook uma declaração de rompimento com o meio gospel,
demonstrando sua insatisfação com os rumos que esse setor tomou. Em seu texto,
o cantor solicita que ao se referir a ele, não o relacione ao meio gospel, a
quem chama de “’idiotizado’ mercado”. A declaração de João Alexandre, um dos
artistas de maior relevância na música cristã e um dos precursores do
movimento, discorda frontalmente do que vem sendo praticado pelo mercado: “O
termo “Gospel” tem uma conotação mercadológica baseada na fama, na grana e na
idolatria de artistas, bandas, gravadoras, formatos musicais, mensagens
positivistas, entre outras distorções que variam conforme a conveniência dos
tempos e dos “bolsos” dos brasileiros, cristãos ou não”. Confira abaixo a
íntegra do texto de João Alexandre, publicado em seu perfil no Facebook:
Peço licença para uma
declaração:
Não faço mais parte,
definitivamente, nem em número, nem em gênero e nem em grau, do importado
movimento “GOSPEL”!
Por favor, quando alguém se
referir a mim ou ao meu trabalho, não utilize esta forma de me definir e nem me
inclua dentro desse “idiotizado” mercado, pelo bem da verdadeira Música Cristã
Brasileira e de seus honrados e dedicados compositores, artistas e poetas que,
assim como eu, sobrevivem, a duras penas, de seus talentos e trabalhos, nadando
na contramão da escravidão imposta pela grande mídia!
Simplesmente me chamem de
João Alexandre, músico (e olha lá!)!O termo “Gospel” tem uma conotação
mercadológica baseada na fama, na grana e na idolatria de artistas, bandas,
gravadoras, formatos musicais, mensagens positivistas, entre outras distorções
que variam conforme a conveniência dos tempos e dos “bolsos” dos brasileiros,
cristãos ou não!
Só quero, assim como
qualquer músico que busca a excelência, fazer o melhor que posso com aquilo que
tenho, de forma honesta e verdadeira, dormir com a consciência tranqüila de que
cumpro a missão que Deus me deu (de cantar sempre a Verdade!) e agradecer todos
os dias a Ele por aqueles que me deixam fazer parte de seus ouvidos e de suas
existências!
Se você está no meu time,
compartilhe! Se não, me perdoe!
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Mais Cristo, menos Cristianismo
Toda religião está estruturada em dogmas, rituais e códigos morais. O Cristianismo também. Mas não são os dogmas, os rituais e os códigos morais que definem a experiência pessoal com Cristo. O apóstolo Paulo esclareceu que os seguidores de Jesus não podem ser reduzidos a observadores de rituais e padrões morais: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa, ou à celebração das luas novas, ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras: Não manuseie!, Não prove!, Não toque!? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne [Colossenses 2.16,17,20-23].
A experiência mística do Cristo crucificado e ressurreto, comunhão com Ele, viver nEle, estar nEle, andar nEle [1Coríntios 1.9; Colossenses 1.2, 26,27; 2.6,7; 3.2], enfim, a devoção e a adoração a Cristo importam mais que a defesa do Cristianismo, isto é, dos dogmas, rituais e códigos morais considerados cristãos.
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Traduções contemporâneas dos dez mandamentos
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A Instituição
De muitas maneiras diferentes…
Tim Carriker
Lucas 3.18
“João anunciava de muitas maneiras diferentes a boa notícia ao povo e apelava a eles para que mudassem de vida" (NTLH).
Quando eu penso em João Batista, confesso que tendo a pensar em uma pessoa um tanto quadrado, inflexível e tradicional. Mas o versículo acima nos dá outra visão… a visão de uma pessoa um tanto criativa e disposta a comunicar a boa mensagem a respeito de Jesus Cristo de diversas maneiras. Certo que não sabemos como foi esta variedade. João usava dramatização? Falava em parábolas? Fazia uso da dança litúrgica? Não sabemos a resposta para estas perguntas específicas, mas acredito que poderíamos supor que João estaria hoje disposto a usar estes e outros meios para comunicar a sua fé.
E agora, eu, ou você, ou a sua igreja? Somos dispostos a usar diversos meios para comunicar a nossa fé? Pelo menos tentar? Ou as nossas tradições nos prendem como sapatos feitos de chumbo? Sim, eu sei, experimentar dar medo. E corremos sempre o risco, ao experimentarmos, de não sermos “bem-sucedidos”. Mas vale a pena tentar.
Durante anos eu dava um curso no seminário (em Minas Gerais, São Paulo, Ceará e Florianópolis) sobre o evangelismo. Eu sempre começava as aulas pedindo que os alunos contassem as suas experiências de evangelismo. E sempre ficava surpreendido pela diversidade de maneiras que estes alunos conseguiam comunicar a sua fé. Mas não deveria ser diferente. Afinal, se temos a mensagem mais importante do mundo para contar, e se temos a incumbência de contá-la em cada canto do mundo, com certeza haverá diversas maneiras de fazer isto. Quero desafiá-lo. Procure uma só maneira diferente para comunicar a sua fé. Escreva uma carta para alguém. Faça uma poesia. Cante no coral. Participe de uma dramatização. Conduza um estudo bíblico… o que for. Pode se surpreender.
Oração
Graças te damos ó Pai, pelos dons cedidos a cada um. Capacite-nos para compartilharmos as boas notícias a respeito de Jesus de uma nova forma. Em nome de Jesus. Amém.
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O Genuíno Vencedor
Por Rick Warren
Em todas as áreas da vida, seja no mundo dos esportes, no ambiente de trabalho ou em atividades recreativas, desfrutamos a experiência de um vencedor. Ganhar um contrato importante ou uma promoção merecida, receber um aumento de salário – tudo isso nos proporciona contentamento e realização como profissionais e empresários. Na condição de espectadores, também nos sentimos vencedores quando a equipe do nosso esporte favorito triunfa. Mesmo quando disputamos jogos em família, muitos se esforçam por serem ganhadores.
Mas o que realmente significa ser um vencedor ? Será que existe, para vencer, algo além de prevalecer sobre um competidor ou marcar mais pontos que o oponente? Eis alguns pensamentos sobre um verdadeiro vencedor:
O vencedor respeita aqueles que são superiores a ele e tenta aprender com eles; o perdedor ressente-se dos que lhe são superiores e racionaliza suas conquistas.
O vencedor explica; o perdedor se justifica, apresenta desculpas.
O vencedor diz: “Nós devemos achar um jeito”; o perdedor diz: “Não tem jeito”.
O vencedor analisa o problema, buscando solução; o perdedor tenta rodear o problema, buscando evitá-lo por completo.
O vencedor diz: “Deveria ter um modo melhor de fazer isto”; o perdedor diz: “Este é o modo como sempre foi feito”.
O vencedor demonstra seu arrependimento e busca reparar o que foi feito; o perdedor diz: “Sinto muito”, mas repete a mesma ofensa na próxima oportunidade.
O vencedor sabe pelo que deve lutar e com o que pode transigir; o perdedor transige com o que não deveria e luta por coisas que não valem a pena.
O vencedor trabalha mais duro do que o perdedor e tem mais tempo; o perdedor está sempre “ocupado demais” para fazer o que é necessário.
O vencedor não tem medo de perder; o perdedor secretamente tem medo de vencer.
O vencedor assume e honra seus compromissos; o perdedor faz promessas para depois ignorá-las.
A Bíblia também apresenta pensamentos desafiadores sobre vencer e perder. Por exemplo, o apóstolo Paulo escreveu acerca da importância de se estar preparado para alcançar a vitória: “Vocês não sabem que de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio” (I Coríntios 9.24). Em outra passagem, Jesus alertou sobre o risco de perder – mesmo quando se ganha: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8.36).
Mais Cristo, menos Cristianismo
Ed René Kivitz
Toda religião está estruturada em dogmas, rituais e códigos morais. O Cristianismo também. Mas não são os dogmas, os rituais e os códigos morais que definem a experiência pessoal com Cristo. O apóstolo Paulo esclareceu que os seguidores de Jesus não podem ser reduzidos a observadores de rituais e padrões morais: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa, ou à celebração das luas novas, ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo. Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras: Não manuseie!, Não prove!, Não toque!? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne [Colossenses 2.16,17,20-23].
A experiência mística do Cristo crucificado e ressurreto, comunhão com Ele, viver nEle, estar nEle, andar nEle [1Coríntios 1.9; Colossenses 1.2, 26,27; 2.6,7; 3.2], enfim, a devoção e a adoração a Cristo importam mais que a defesa do Cristianismo, isto é, dos dogmas, rituais e códigos morais considerados cristãos.
A imitação de Cristo é a essência do seguimento de Jesus, e importa mais que a adesão ao Cristianismo. Consta que Mahatma Gandhi teria afirmado a respeito dos protestantes ingleses: Aceito seu Cristo, mas não aceito seu Cristianismo. Eis aí uma constatação interessante: não poucas vezes a maneira como pretendemos servir a Cristo implica trair o espírito de Cristo. Talvez tenha sido isso o que Friedrich Nietzsche quis dizer ao afirmar que se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no Redentor. O apóstolo Paulo estava ciente desse perigo e, por isso, recomendou aos cristãos: Vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos. Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai [Colossenses 3.5-17]. Há muitas pessoas que se declaram adeptas da religião Cristianismo, mas não se comprometem a viver como Jesus Cristo viveu e ensinou. Não estão ocupadas em guardar (obedecer) todas as coisas que ele ordenou [Mateus 20.18-20], nem tampouco em andar como Ele andou [1João 2.6]. A respeito dessas pessoas, o próprio Jesus declarou: Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! [Mateus 7.21-23]. Cristo é maior que o Cristianismo. Por essa razão, a adoração a Cristo é mais importante que a defesa do Cristianismo, e a imitação de Cristo é mais importante que a adesão ao Cristianismo. Ser como Cristo e fazer mais por Cristo, eis as legítimas aspirações de todo aquele que se comprometeu com o caminho de Cristo.
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Traduções contemporâneas dos dez mandamentos
Ed René Kivitz
I Não terás outros deuses Não crerás na existência de outros deuses, senão de Deus. Não explicarás o universo senão em relação a Deus. Não terás outro critério de verdade senão Deus. Não te relacionarás com pseudodivindades, senão com Deus. Não dependerás de falsos deuses, senão de Deus. Não terás satisfação em nada que exclua Deus. II Não farás imagens Não tratarás como Deus o que não é Deus. Não compararás Deus com qualquer de suas criaturas. Não atribuirás poder divino a qualquer das criaturas de Deus. Não colocarás nenhuma criatura entre ti e o teu Deus. Não diminuirás Deus para que possas compreendê-lo ou dominá-lo. Não adorarás qualquer criatura que pretenda representar Deus. III Não tomarás o nome do teu Deus em vão Não dissociarás o nome da pessoa de Deus. Não colocarás palavras na boca de Deus. Não te esconderás atrás do nome de Deus. Não usarás o nome de Deus para te justificares. Não te relacionarás com uma idéia a respeito de Deus, senão com o próprio Deus. Não semearás dúvidas respeito do caráter e da identidade de Deus. IV Lembra-te do sábado Não deixarás de dedicar tempo exclusivamente para Deus. Não deixarás de prestar atenção em Deus. Não deixarás de descansar em Deus. Não derivarás teu valor da tua produtividade. Não tratarás a vida como tua conquista. Não deixarás de reconhecer que em tudo dependes de Deus. V Honra teu pai e tua mãe Não negarás tua origem. Não terás vergonha do teu passado. Não deixarás de fazer as pazes com tua história. Não destruirás a família. Não banalizarás a autoridade dos pais em relação aos filhos. Não deixarás teu pai e tua mãe sem o melhor dos teus cuidados. VI Não matarás Não tirarás a vida de alguém. Não tirarás ninguém da vida. Não negarás o perdão Não farás justiça com tuas mãos movidas pelo ódio. Não negarás ao outro a oportunidade de existir na tua vida. Não construirás uma sociedade que mata. VII Não adulterarás Não farás sexo; Não farás sexo na imaginação; Não farás sexo virtual; Exceto com teu cônjuge. Não te deixarás dominar pelos teus instintos físicos. Não terás um coração leviano e infiel. Não te satisfarás apenas no sexo, mas te realizarás acima de tudo no amor. VIII Não furtarás Não vincularás tua satisfação às tuas posses. Não te deixarás dominar pelo desejo do que não possuis. Não usurparás a propriedade e o direito alheios. Não deixarás de praticar a gratidão. Não construirás uma imagem às custas do que não podes ter. Não pensarás só em ti mesmo. IX Não dirás falso testemunho Não dirás mentiras. Não dirás meias verdades. Não acrescentarás nada à verdade. Não retirarás nada da verdade. Não destruirás teu próximo com tuas palavras. Não dirás ter visto o que não vistes. X Não cobiçarás Não viverás em função do que não tens. Não desprezarás o que tens. Não te colocarás na condição de injustiçado. Não desdenharás os méritos alheios. Não duvidarás da equanimidade das dádivas de Deus. Não viverás para fazer teu o que é do teu próximo, mas do teu próximo o que é teu.
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A Instituição
Ed René Kivitz
A igreja de Jesus Cristo sempre viveu a tensão entre suas faces orgânica e organizacional. Parece que nos últimos anos essa tensão se agravou. Especialmente no segmento evangélico de tradição reformada, a crítica à “igreja instituição” está na moda, e não são poucos os que se vangloriam de ter “rompido com a instituição”. Outro dia alguém me classificou de “institucionalizado”, e me senti praticamente xingado. Decidi dar mais atenção à dimensão institucional da igreja, corpo vivo de Cristo. Jamais imaginei que fosse levantar minha voz para defender a bandeira institucional, e é bem provável que no início eu estivesse movido pelo instinto de sobrevivência ou auto-justificação, mas ao final achei que meus argumentos faziam sentido. Hoje já não me incomodo quando alguém diz que sou “institucionalizado”.
Essa conversa de “ser desinstitucionalizado” na melhor das hipóteses reflete ignorância. Na pior, má fé. Considere a chamada “igreja primitiva”, geralmente idealizada como modelo “desinstitucionalizado” a ser reproduzido, e perceba que o desenvolvimento natural da igreja exigiu organização (Atos 6.1-7), nomeação de liderança e acomodação hierárquica (Atos 14.21-23), estabelecimento de normas, costumes e critérios éticos entre as igrejas (Atos 5.1-11), definição de um credo mínimo (Romanos 11.33-36; Filipenses 2.5-11; 1Timóteo 1.17; 3.16), assembléias presbiteriais (Atos 15); ação estratégica para a expansão (Atos 13.1-3; 11.19-21), sistema de arrecadação, gestão e distribuição de recursos financeiros (2Corintios 8,9); ordem e direção litúrgica para os encontros coletivos (1Coríntios 14.26-40), dentre outras características que hoje são consideradas um gesso que impede a boa manifestação do corpo orgânico da igreja.
A tão celebrada “igreja primitiva” era institucionalizada. Caso você participe de um “movimento” que tenha: (1) liderança identificada; (2) hierarquia definida; (3) rotina de atividades; (4) agenda de serviços; (5) voluntários coordenados; (6) demandas coletivas; e (7) necessidade de arrecadação financeira, então você não participa de um movimento, você é institucionalizado.
Os que se consideram “desinstitucionalizados” geralmente são aqueles que romperam com uma instituição e se comprometeram com outra. A diferença é que algumas instituições têm centenas de anos de história enquanto outras nasceram ontem, e quase sempre baseadas em uma personalidade tipo “guru” ou “messias reformador” que levará a igreja de volta às origens. Reconheço que por serem mais novas, as instituições emergentes podem ser mais leves, ágeis e eficazes. Mas não significa que não sejam instituições. E também não significa que sejam menos perniciosas e enfermas que as instituições centenárias.
Jesus advertiu que o vinho carece de odre, e que há odres mais adequados que outros. A questão, portanto, não é ser ou não ser institucionalizado, mas o tipo de instituição que pretende acomodar o vinho novo do Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Imaginar a possibilidade de uma igreja que seja apenas organismo espiritual sem qualquer dimensão de instituição social é o mesmo que considerar a possibilidade de chegar no balcão da padaria e pedir um refrigerante dizendo: “Sem garrafa, por favor”.
O conflito entre as dimensões orgânica e organizacional da igreja começou cedo. Tão logo Jesus foi levado aos céus. No contexto da comunhão e da oração (organismo) Pedro se levanta para promover a eleição do substituto de Judas (organização). Mas Deus não se fez de rogado, mandou do céu algo como um vento impetuoso e deixou claro que a necessidade humana de controle que tende a se perpetuar através de sistemas institucionais jamais conteria a dinâmica vital do povo batizado com o Espírito Santo, pois “o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Coríntios 3.18).
Essas reflexões me levaram a considerar os dez pecados que um líder institucional não pode cometer. São eles:
1° Enclausurar Deus nas paredes de sua instituição
2° Limitar a manifestação do Reino de Deus aos horizontes de sua instituição
3° Condicionar a relação com Deus à relação com sua instituição
4° Exigir da igreja, povo de Deus, sacrifícios em nome de sua instituição
5° Restringir a atuação ministerial dos cristãos ao engajamento em sua instituição
6° Confundir a instituição com o corpo vivo de Cristo
7° Pretender gerir o corpo vivo de Cristo com a lógica da gestão institucional – se preferir, basta “pretender gerir o corpo vivo de Cristo”
8° Priorizar as relações funcionais em detrimento das relações pessoais
9° Colocar o corpo vivo de Cristo a serviço da instituição
10° Tentar perenizar a instituição.
Pecados mortais estão em ação. Se você teme que sua igreja esteja morrendo, pare de procurar culpados e comece a assumir a responsabilidade.
Primeiro, as boas notícias. A Igreja é o Corpo de Cristo. Ela não pode morrer. Sua cabeça é o Cristo ressurreto, o Rei de tudo que há e que há de vir. Ele leva seu povo, de um a um, para a glória eterna ao morrerem, para de lá esperar [aqui as palavras falham: como você espera por algo quando o tempo já não existe?] pelo dia do Senhor, “quando o céu e a terra serão um”.
Segundo, não são nem boas nem más notícias que sua igreja local possa morrer, porque isto não é nenhuma novidade. Sua igreja é uma comunidade de mortais; se eles morrerem e não forem substituídos, a igreja estará morta naquele local. O meio oeste rural norte-americano está marcado de cemitérios com nomes de igrejas locais que já não mais existem.
Algumas destas igrejas não morreram, na verdade. As pessoas vivas mudaram, mas sensivelmente deixaram o cemitério para trás. Isso pode ser triste, mas é uma parte da ordem natural da terra e geralmente fica tudo bem – se as pessoas foram cristãs em suas atitudes e comportamento durante a crise.
Agora vem as más notícias e elas são muito más. Uma igreja local pode morrer pela ação do inimigo – algumas vezes de fora, mas eu percebo por longa experiência que geralmente é de dentro. Durante o processo de morte, muitos dos membros da igreja se tornam experts em nomear e culpar os inimigos de dentro e de fora da igreja. Eles geralmente ficam chocados e feridos ao descobrirem que fazem parte da lista de inimigos que outras pessoas estão fazendo, quando estão apenas pensando no bem da igreja!
Naturalmente, é inerente à expertise que os experts não concordem uns com os outros. Tem sempre um outro modo de ver as coisas. Neste aspecto, uma igreja que está morrendo se assemelha a um tribunal criminal no qual tanto a promotoria quanto a defesa apresentam depoimentos arranjados de “especialistas” para sustentarem o argumento. Em vez de lutar contra a enfermidade terminal que é o inimigo comum da igreja, terminamos lutando uns contra os outros.
Mesmo pessoas boas preferem apontar culpados do que assumir responsabilidades; eu conheço minhas próprias tentações a este respeito. Somos piedosos, auto-confiantes e seguros o bastante para lançar nosso peso ao redor em defesa da tradição da verdade. Temos boas intenções. Em meu próprio caso, levei a sério as palavras de minha filha quando ela observou, no meio de uma disputa de igreja: “Estou cansada de pessoas com boas intenções!” Fazer o certo sempre triunfa sobre as boas intenções.
Alguns descrentes com discernimento conseguem enxergar nossas reais motivações. Os chefes dos sacerdotes dos judeus eram alguns dos melhores homens no mundo de seus dias e Pôncio Pilatos era um dos piores; mas quando os chefes dos sacerdotes trouxeram Jesus a Pilatos, esperando uma sentença de morte, Pilatos viu que estes bons homens não tinham razão.“Vocês querem que eu lhes solte o rei dos judeus? “, perguntou Pilatos,sabendo que fora por inveja que os chefes dos sacerdotes lhe haviam entregado Jesus.” (Marcos 15.9-10 ênfase minha)
Inveja matou Jesus? Soa trivial, mas por que não? É um dos sete pecados mortais. Todos eles são assassinos se persistirem sem que haja arrependimento; este é o significado de mortal. Os pecados mortais matam. Cristãos e igrejas são espectadores ameaçados. Você não precisa procurar por razões sociológicas ou psicológicas quando um ou mais dos pecados mortais estiverem ativos em seu meio. Você não pode confessar os pecados de outras pessoas (que é o que acontece quando se tenta apontar e culpar), mas você deve confessar seus próprios se a igreja irá recuperar de seu estado terminal.
Aqui estão os sete, caso você necessite ser lembrado.
• Orgulho, quando se age em auto-justificação e determinação de fazer prevalecer seu próprio modo porque é o seu modo.
• Inveja, quando você está insatisfeito com seu lugar na igreja e age a partir de sua insatisfação para subverter aqueles que estão no lugar que você deseja estar.
• Glutonaria, quando você é consumido pelo seu consumo e fica sem tempo, energia ou vontade para mais nada.
• Cobiça, quando seu desejo físico por outro é sem amor e egoísta.
• Ira, quando direcionada para ferir e destruir a você mesmo ou outros.
• Avareza, quando seu único alvo é mais para você mesmo.
• Preguiça, quando não se está nem aí.
Pogo já foi citado inúmeras vezes: “Nós encontramos o inimigo, e ele somos nós.” Se sua igreja estiver morrendo, talvez seja sua vez de citá-lo.
Por Everett Wilson, 26 de Janeiro de 2011.
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A BÍBLIA MAL COMPREENDIDA,
UM PROBLEMA SÉRIO NA VIDA.
LUIZ SAYÃO
A maioria dos mais informados vai concordar que atravessamos um cenário complicado no evangelicalismo brasileiro. Todos sabem que a igreja cresceu demais nas últimas décadas, mas ela ainda busca um amadurecimento. Movimentos mais contextualizados e grupos voltados para a evangelização do país coloriram o cenário evangélico brasileiro nos últimos anos. Todavia, tanta euforia e efervescência também é sinal de atenção. O fato é que a igreja precisa achar um ponto de equilíbrio entre quantidade e qualidade. Sem o estudo sério e fundamentado das Escrituras Sagradas teremos problemas insolúveis a curto prazo em nossa realidade protestante tupiniquim. Infelizmente, ainda há grupos em nosso contexto de fé que desprezam o preparo teológico, há outros que são tão estranhos que vivem na fronteira entre a categoria de seita e denominação. Há muito trabalho a ser feito para a consolidação de uma tradição evangélica autêntica no Brasil.
Ninguém pode negar que essa tarefa de consolidação passa necessariamente pela referência máxima da cristandade e dos evangélicos: as Escrituras Sagradas. A compreensão da Bíblia é absolutamente fundamental para que se tenha uma igreja séria e cristãos espiritualmente saudáveis. Por incrível que pareça, o sinal de que nem tudo vai bem no cristianismo “tropical abençoado por Deus e bonito por natureza” é que há muitos textos lidos e enfatizados em nossa tradição evangélica que são mal compreendidos, gerando inclusive crises e problemas pessoais em muitos cristãos sérios e sinceros. Vejamos alguns exemplos.
Muita gente tem sofrido com seus familiares ao ler o conhecidíssimo texto de Atos 16.31: “Crê no Senhor Jesus, e tu e tua casa sereis salvos” (A21 – Versão Almeida 21). O problema desse texto é que muitas pessoas pensam que estamos diante de uma promessa divina de que todos os nossos parentes próximos serão salvos. A verdade é que o texto não ensina isso! Em primeiro lugar, é importante destacar que como texto narrativo histórico, o versículo não pretende ser normativo. Ou seja, o relato de alguma coisa que acontece não necessariamente é norma para toda a igreja. Aqui vemos uma promessa que foi dada ao carcereiro de Filipos e não para todos! A ele foi dito que ele e “os de sua casa” (NVI) seriam salvos. No caso dele, isso talvez tivesse incluído servos ou empregados, já que a “casa” de alguém nos tempos bíblicos incluía gente que não era da família de sangue. Portanto, a verdade é que ninguém pode assegurar a conversão de seus parentes com base nesse texto. Se esse fosse o caso, ninguém veria um parente próximo morrer sem converter-se a Cristo na história, mas sabemos que isso não se verifica. Além disso, o próprio Jesus deixou claro que muitos cristãos até perderiam suas famílias por causa do evangelho: “E todo o que tiver deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por minha causa, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna.” (Mt 19.29 – A21). Leia também Mateus 10.35,36. Como se vê, se nos fosse prometida a conversão de todos os parentes próximos estes textos de Mateus não fariam sentido.
Quase que na mesma linha de pensamento, muitos evangélicos, principalmente pais e mães, ficam literalmente desesperados diante de Provérbios 22.6 (ARC): “Instrui ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”. O que geralmente se entende desse versículo é que Deus está prometendo que uma criança levada ao conhecimento do evangelho desde pequena nunca se desviará da fé. Como uma mãe entende esse versículo diante do fato de que seu filho afastou-se da fé e da igreja? O problema não está em Deus e na Bíblia, pois o texto não está ensinando isso. Não há aqui uma garantia contra a apostasia! Em primeiro lugar, é importante afirmar que Provérbios não é um livro de promessas. De fato, suas afirmações são “máximas”, ou seja, fatos constatáveis de modo geral na vida. O texto está dizendo que aquilo que uma criança aprende desde pequena não é esquecido. A verdade é que a tônica do texto não é exclusivamente religiosa. É de criança que se aprende a andar de bicicleta, falar outra língua, tocar um instrumento, decorar versículos, etc. Além disso, devemos também ressaltar que o texto hebraico diz: “Instrui a criança no seu caminho...”. A tradução tradicional “deve andar” interpreta o sufixo pronominal genitivo do hebraico, indo muito além do literal. Todavia, há outras alternativas de interpretação! “Instruir a criança no caminho dela” pode significar “instruí-la segundo os objetivos que os pais têm para ela” (NVI), “instruí-la no caminho devido” (ARA, ARC, A21) ou “instruí-la conforme os dons que ela tem”. As interpretações são legítimas e o texto está aberto a mais de um enfoque distinto. No entanto, é bastante seguro afirmar que o texto não está prometendo segurança de salvação para a criança que vai à escola dominical, tem pais cristãos e ouve a Bíblia desde pequeno. O assunto ali discutido não é salvação!
Outro texto geralmente mal compreendido é Filipenses 4.13. Não faz tanto tempo, trafegando pelas áreas nobres da rica cidade de São Paulo, contemplei um belo carro importado com um adesivo que ostentava orgulhosamente o verso de Filipenses. Geralmente, quando se lê este texto isoladamente, a maioria das pessoas imagina que se trata de uma promessa de fé. Por meio do poder de Cristo, eu posso alcançar tudo o que eu quiser! Assim, posso adquirir bens caros, derrotar inimigos pessoais, subir de posição, etc, por meio de Cristo. Novamente, como nos outros casos, o texto bíblico não está dizendo isso. Aqui, para que se entenda corretamente o texto é preciso entender o contexto. O apóstolo Paulo está escrevendo Filipenses na ocasião de sua prisão, muito provavelmente em Roma (Fp 1.13-14). Portanto, ele está enfatizando que por meio de Cristo podemos suportar toda e qualquer situação adversa. Basta ler o que Paulo diz um pouco antes nos versículos 11 e 12 (NVI): “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” Por incrível que possa parecer, o texto bíblico significa exatamente o oposto do que muita gente tem sugerido sem analisá-lo adequadamente.
Numa outra ocasião, em minhas jornadas, encontrei dois cristãos evangélicos num debate acalorado, discutindo se devemos ou não mentir em certas situações. Independentemente da discussão sobre a possível legitimidade de uma inverdade ou omissão da verdade em certas situações (como o caso de mentir ou omitir para salvar uma vida), o que estamos discutindo é o uso de textos bíblicos de maneira indevida. O argumento dos debatentes era o de que Abraão, servo do SENHOR, e amigo de Deus, em uma situação de necessidade, mentiu (Gn 12.18-20), o que legitimaria o procedimento. A questão aqui não é tão difícil: o simples relato de um texto histórico não o define como norma. Muitas vezes o texto bíblico conta-nos os erros e falhas de seus personagens exatamente para enaltecer o poder de Deus na vida de um ser humano frágil. Muita gente, porém, tenta ver méritos e qualidades especiais em cada detalhe de vida do personagem bíblico, sem contrastar o comportamento dos mesmos com as normas divinas. Assim, com base nos fatos de que Moisés ficou irado, Abraão mentiu, Jacó enganou Labão, Raabe mentiu em Jericó, Davi foi polígamo, etc, alguns tentam justificar seus pecados, afirmando que homens e mulheres de Deus do passado fizeram tais coisas e não foram punidos por isso. O equívoco é muito claro. Não podemos fazer isso: um texto narrativo não é necessariamente normativo.
Esses exemplos mencionados neste breve artigo apenas nos mostram a necessidade urgente e gritante de um conhecimento mais aprofundado da arte de interpretação da Bíblia (hermenêutica). Muitas comunidades cristãs são hoje reféns de doenças hermenêuticas prejudiciais e destruidoras para a fé. Há grupos perdendo o equilíbrio teológico e caindo no liberalismo teológico (negação do sobrenatural), numa filosofia específica, no legalismo, no misticismo desenfreado, no tradicionalismo irrefletido, entre outros problemas! É preciso estudar a Bíblia no seu próprio contexto, entendendo elementos históricos, literários e teológicos para que conheçamos ao máximo a intenção original do autor. Depois disso, temos a tarefa de destacar os princípios que estão presentes no texto, para então comparar o que descobrimos com uma análise teológica mais profunda, a partir de outros textos importantes que falam do princípio descoberto no texto inicialmente analisado. Finalmente, devemos fazer a aplicação do princípio descoberto e teologicamente analisado na realidade do cotidiano.
A verdade é que a seriedade e o valor do texto sagrado para sempre ecoará através da história, especialmente quando ouvimos como o próprio Jesus considerava as Escrituras: “Pois em verdade vos digo: antes que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará uma só letra ou um só traço da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18- 21).
O TRIUNFO DA IDEOLOGIA DO MÉRITO CONTRA A TEOLOGIA DA GRAÇA
O ex-árbitro de futebol Oscar Roberto de Godói foi baleado num assalto em São Paulo. Depois de sair do hospital, fez a seguinte declaração:
--- “Eu tinha certeza que não morreria, mas não digo milagre, e sim por tudo que eu sou e faço eu não merecia. Se é Ele (Deus) que leva, não ia me levar”.
Reorganizando a frase, fica mais clara a teologia por trás dela: "Eu tinha certeza que não morreria. Se é Ele (Deus) que leva, não ia me levar, não por milagre, mas porque eu não merecia, por tudo que eu sou e faço".
Talvez pudéssemos, então, concluir: quem morre num assalto morre porque não merece ficar vivo. Estamos, portanto, cercados pela ideologia do mérito, contra a teologia da graça.
A ideologia do mérito é sedutora. A teologia da graça não tem charme nenhum. A ideologia do mérito é onipresente. A teologia da graça habita um ponto minúsculo no horizonte. A ideologia do mérito pressupõe que Deus é justo. A teologia da graça pressupõe que Deus é bom. A ideologia do mérito produz culpa. A teologia da graça espoca em liberdade. A ideologia do mérito é natural. A teologia da graça é espiritual. A ideologia do mérito exalta o ser humano. A teologia da graça exala o perfume da cruz de Cristo. Nascemos com a ideologia do mérito. Só vivemos bem com a teologia da graça.
Desejo-lhe um
BOM DIA.
Pr. Israel Belo de Azevedo
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COMO VIVER SEM MÁSCARAS
Rev. Hernandes Dias Lopes
O carnaval é a maior festa popular do Brasil, e talvez, do mundo. Nessa festa da extravagância e dos excessos, muitas pessoas saem às ruas usando máscaras. Algumas dessas pessoas escondem-se atrás das máscaras; outras se revelam por meio delas. Uma máscara é tudo aquilo que esconde ou encobre a nossa verdadeira identidade. É importante ressaltar que existem máscaras tangíveis e intangíveis; algumas cobrem o rosto; outras tentam disfarçar as atitudes da alma.
De certo modo todos nós usamos máscaras. Aquele que diz que nunca usou uma máscara, possivelmente esteja acabando de afivelar uma no rosto, a máscara da mentira. O problema das máscaras é que elas proclamam uma mentira ou escondem uma verdade. Quando usamos máscaras, as pessoas passam a amar não quem nós somos, mas quem nós aparentamos ser. As máscaras também não são seguras. Por melhor que nós as afivelemos, elas podem cair nas horas mais impróprias e nos deixar em situação de total constrangimento.
Queremos mencionar aqui algumas máscaras usadas ainda hoje.
1. A máscara da piedade - O apóstolo Paulo, ensinando sobre a doutrina da Nova Aliança, diz que podemos ser ousados em vez de agir como Moisés que pôs um véu sobre a face para que as pessoas não atentassem para a glória desvanecente em seu rosto. Quando Moisés subiu o Monte Sinai para receber as Tábuas da Lei, ao regressar, seu rosto brilhava. As pessoas não podiam olhar para ele. Então, ele colocou um véu em sua face para que as pessoas pudessem se aproximar e falar com ele. Mas houve um momento em que Moisés percebeu que a glória estava acabando. Ele não precisava mais do véu, porém, ele continuou com o véu, porque não queria que as pessoas soubessem que sua glória era desvanecente. Muitas vezes, somos parecidos com Moisés. Tentamos impressionar as pessoas com uma espiritualidade que não temos. Aparentamos ser mais crentes, mais piedosos do que na verdade somos.
2. A máscara da autoconfiança - O apóstolo Pedro era um homem impulsivo. Falava para depois pensar. Quando Jesus declarou que seus discípulos iriam se escandalizar com ele e iriam se dispersar, Pedro não titubeou e foi logo dizendo que ainda que todos o abandonassem, ele jamais o faria. Disse ainda que estava pronto para ir com Jesus para a prisão ou até mesmo para a morte. Pedro julgou-se forte e até melhor do que seus pares. Porém, naquela mesma noite, Pedro fraquejou e dormiu quando Jesus pediu para ele vigiar. Pedro abandonou a Jesus e seus condiscípulos e infiltrou-se na roda dos escarnecedores. Pedro negou, jurou e praguejou, dizendo que não conhecia a Jesus. A máscara de sua autoconfiança caiu quando Jesus olhou para ele. Então, ele caiu em si e desatou a chorar.
3. A máscara do legalismo - Um legalista é inflexível com as outras pessoas, mas condescendente consigo. Ele enxerga um cisco no olho de seu irmão, mas não vê uma trave no seu. O legalista preocupa-se mais com a forma do que com a essência. Cuida mais da aparência do que do interior. Os fariseus eram legalistas. Eles eram fiscais da vida alheia, mas descuidados com sua intimidade com Deus. Eram bonitos por fora, mas feios por dentro. Jesus os comparou a sepulcros caiados, limpos por fora, mas cheios de rapina por dentro. Os fariseus eram hipócritas. Eles eram atores que representavam no palco um papel diferente daquele desempenhado na vida real.
A vida cristã é uma contínua remoção das máscaras. A Bíblia diz que onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade; não liberdade para fazer o que queremos, mas liberdade para vivermos na luz. Pela obra de Cristo e pela ação do Espírito, podemos viver sem máscaras, sendo transformados de glória em glória, até atingirmos a estatura de Cristo, o Varão Perfeito.
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VELHO É QUEM ACHA IMPOSSÍVEL A MUDANÇA
O cineasta egípcio Ahmed Maher participou ativamente do movimento que culminou com a inimaginável queda de Hosni Mubarak. Perguntado sobre que conselhos daria aos jovens insatisfeitos de outros países, ele sugeriu:
-- Meu principal conselho: não dêem ouvidos aos mais velhos. Eles dirão que é impossível.
"Velho" não se define pela idade, mas pela visão da vida, não importa se o corpo pesa.
"Velho" também se define pela atitude diante dos jovens. Se tudo o que eles fazem está errado, você é "velho". Se você estimula os jovens, mesmo que fique em casa, não será chamado de "velho" por eles. Se você sonha junto, mesmo que a maturidade o torne menos confiante, você é irmão dos irmãos, não importa a data em que lhe foi emitida a certidão de nascimento. Se você protesta junto, escreve junto a história da mudança. Tudo o que o é realizado hoje era impossível ontem. Que lado escolhemos?
Desejo-lhe um
BOM DIA.
Pr. Israel Belo de Azevedo
BOM DIA.
Pr. Israel Belo de Azevedo
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Tais Machado
O cristianismo tem sido bastante criticado hoje em dia. Os cristãos parecem andar um pouco confusos em sua identidade, ou, em dar razão de sua fé. A incoerência entre discurso e prática pode ser ofensiva, além de desabilitar os empolgados e fazer cair em descrédito alguns perseverantes. Nossa preocupação em "defender" Deus, como se ele precisasse e nós pudéssemos, pode nos fazer pouco interessados no próximo, além de relapsos ouvintes, nos descredenciando para um diálogo saudável e dificultando a criação de novos espaços na proclamação.
Chamou-me a atenção o que disse em recente entrevista um dos mais influentes historiadores vivos, Eric Hobsbawm, 92 anos, quando fez algumas ponderações a respeito das religiões. Fiz um recorte para nossa reflexão: "Está claro que a religião está tão amplamente presente ao longo da história que seria um equívoco enxergá-la como fenômeno superficial ou que esteja destinado a desaparecer, pelo menos entre os pobres e fracos, que provavelmente sentem mais necessidade de seu consolo e também de suas potenciais explicações do porquê de as coisas serem como são. [...] Muitas religiões estão claramente em declínio. [...] A única exceção é o islã, que vem continuando a se expandir sem nenhuma atividade missionária efetiva nos últimos dois séculos. [...] Me parece que o islã possui grandes trunfos que favorecem sua expansão contínua - em grande medida, porque confere às pessoas pobres o sentimento de que valem tanto quanto todas as outras e que todos os muçulmanos são iguais. Mas um cristão não crê que vale tanto quanto qualquer outro cristão. Duvido que os cristãos negros acreditem que valham tanto quanto os colonizadores cristãos, enquanto alguns muçulmanos negros acreditam nisso, sim. A estrutura do islã é mais igualitária, e o elemento militante é mais forte no islã".
Por meio dos comentários desse tão respeitado historiador, somos provocados a refletir a respeito de nossa postura e prática. Podemos considerar, a partir da fala dele, que há ainda espaço para a religião e ela não pode ser descartada, ou mesmo, menosprezada. As religiões estão enraizadas na história da humanidade. E, se assim é, podemos nos perguntar como temos tirado proveito disso e procurado aprofundar os estudos e oferecer leituras do nosso tempo partindo da ótica cristã. Inclui-se aí, sobretudo, o tema da pobreza e do sofrimento e de como lidamos com tudo isso, sendo Deus soberano e amoroso.
Outro dado interessante ressaltado por ele é o crescimento do islã. Como pode uma religião ter a maior expansão "sem nenhuma atividade missionária efetiva nos últimos dois séculos"? Em seu argumento, Hobsbawm coloca que isso se deve à estrutura igualitária e à militância forte. Isso nos faz refletir sobre a razão de não termos mais gente engajada na missão, pessoas rendidas sem restrições ao senhorio de Cristo. Homens e mulheres que participem intensamente do Reino de Deus, percebendo-se como agentes de transformação, parceiros de Deus na história de salvação.
Será que um evangelho raso está sendo engolido, manco devido à sua parcialidade, e que é compreendido e aceito à medida que "funciona" para meu benefício próprio? Um evangelho exclusivamente para a vida privada, no qual faço escolhas a partir do meu gosto pessoal e meu bem-estar e se algo der errado recorro a Deus como uma espécie de magia a meu dispor?
Há uma infantilização da fé promovendo uma espécie de Peter Pan do reino (encantado). Esta doença nos faz continuar pensando eternamente como crianças, diferentemente do apóstolo Paulo, que testemunha ter vivenciado outros estágios em seu desenvolvimento (1Co 13.11). Nosso jeito de viver não atrai ninguém para Cristo? Desconfio que, ao invés de atrair, permanecemos traindo ao nosso Senhor Jesus. Se Cristo não mudou nosso jeito de vivermos "cada um na sua e tão somente para si", é preciso rever quem é esse Cristo e ter clareza de sua falsidade. Parafraseando Paulo, "se alguém vier com outro 'evangelho', querendo perverter o evangelho de Cristo, perturbadores desejosos de mudar a mensagem de Jesus, saibam recusar, conscientizem-se de que esses tais não passam de malditos enganadores. Não se pode aceitar um evangelho diferente do que aquele pregado e ensinado pelo próprio Jesus. Afinal, isso seria uma perversão" (Gl 1.6-9). Paulo, naquele contexto, salienta o caminho da graça e explica que não há outro. Entretanto, hoje há oferta de outros evangelhos na praça, e um mais ensimesmado do que outro.
Há até castas, numa possível versão cristã, em nosso meio. Olha a que ponto chegamos. Um historiador, ao observar a postura dos cristãos e observar a postura de muçulmanos, conclui que estes últimos conferem às "pessoas pobres o sentimento de que valem tanto quanto todas as outras" enquanto os cristãos, não. Antes de querer atacá-lo, podemos aproveitar a oportunidade para avaliar nossa postura, verificar como de fato temos vivido o evangelho de Jesus. O Messias tanto ensinou e insistiu no amor e, conforme o apóstolo Paulo salienta, é preciso vivermos de forma cristalina que em nosso meio já não há hierarquias. Não pode haver diferenças no trato, criando privilegiados e desprezados. Não, "não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3.28).
Como já clamava, em 1989, o respeitado pastor John Stott, "na sociedade contemporânea existe uma grande necessidade de mais pensadores cristãos se lançarem ao debate público, assim como de mais ativistas cristãos organizando grupos de pressão a fim de promover uma obra de persuasão. Sua motivação deveria ser inteiramente cristã - uma visão do Deus que ama a justiça, a compaixão, a honestidade e a liberdade em sociedade, e uma visão do ser humano que, embora caído, foi criado à imagem de Deus e é, portanto, moral, responsável e tem uma consciência que deve ser respeitada".
A fraca atuação da igreja, ou mesmo a omissão em questões tão importantes em nossa sociedade, bem como nossa passividade freqüente diante das injustiças sociais, têm feito pessoas ao nosso redor tamparem os ouvidos quando desejamos falar do amor de Deus. Têm também promovido a descrença quanto ao evangelho como poder de Deus para a salvação (Rm 1.16). Podemos clamar juntos por misericórdia divina. Podemos orar para que o Espírito de Deus nos ensine a amar como Deus, encarnando em nossos dias o que Jesus - encarnação de Deus - nos ensinou.
Dia da Reforma Protestante
Por Marcos Sampaio
No dia 31 de Outubro geralmente é celebrado o Dia da Reforma Protestante pela maioria dos cristãos. Em Sua providência, Deus escolheu alguns homens em um determinado momento da história como John Wycliffe, John Huss, Martinho Lutero, Ulrich Zwingli, João Calvino, John Knox, William Tyndale e tantos outros para recuperar o genuíno evangelho das Escrituras e impactar toda uma sociedade em todos os aspectos. E nós, que confessamos a fé evangélica em nossos dias, não podemos ser negligentes em esquecer este momento tão importante da nossa história. Isso porque a Reforma na Europa durante o século 16 foi uma das épocas mais importantes na história do mundo.
Embora tivesse um impacto profundo e duradouro sobre os aspectos políticos, econômicos, sociais, literários e artísticos da sociedade, a Reforma foi, sobretudo, uma revolução cristã. A Reforma foi a grande redescoberta das Escrituras. A Reforma nos deu a Bíblia - agora disponível em nossas próprias línguas. A liberdade religiosa e de consciência, o Estado de Direito, a separação de poderes eram impensáveis antes da Reforma. Ao mesmo tempo, os reformadores lutaram pelos princípios que somente a Escritura é nossa autoridade final, somente Cristo é a cabeça da Igreja, a justificação é pela graça de Deus fundamentada na obra consumada por Cristo na cruz do calvário recebida pela fé somente.
A verdade é que poucas pessoas percebem hoje que as primeiras impressões de Bíblias em Inglês tiveram de ser contrabandeadas para a Inglaterra, e que o tradutor William Tyndale foi queimado na fogueira por crime de traduzir a Bíblia para o Inglês. Há o registro de que sete mães foram queimadas vivas em Coventry por ensinar os Dez Mandamentos, a Oração do Senhor e o Credo Apóstolos para os seus próprios filhos.
Os sacrifícios feitos pelos reformadores e o impacto de longo alcance da sua aplicação corajosa da Palavra de Deus para cada área da vida, precisa ser redescoberto.
A Igreja Cristã fez mais mudanças positivas no mundo do que qualquer outra força ou movimento da história. Mais escolas e universidades foram levantadas pelos cristãos do que por qualquer outra religião, nação ou grupo.
A elevação das mulheres a partir da exploração degradante da poligamia e da discriminação foi uma conquista cristã. Os reformadores cristãos e missionários conseguiram trazer a abolição da escravatura, canibalismo, o sacrifício de crianças e queimação de viúvas. A Igreja cristã tem, ao longo da história, contido a desumanidade do homem.
Quase toda a civilização e cultura tiveram a escravidão e sacrifícios humanos antes da influência cristã. Aqueles países que gozam as liberdades civis são geralmente mais aquelas onde o Evangelho de Cristo penetrou mais profundamente.
A verdade é que o Evangelho de Cristo ao longo dos séculos tem transformado vidas e as nações! E se hoje o novo cristianismo moderno não muda a realidade da vida e aqueles que o cercam, é porque esse não é o evangelho genuinamente bíblico defendido e proclamado pelos nossos irmãos ao longo da história da igreja. Pois quando olhamos para trás, a verdade do evangelho impactou a nossa história e a vida da própria igreja.
Portanto, glorificamos a Deus pelo que ele realizou na Alemanha do século 16 através de Seu servo Lutero e outros reformadores que se dispuseram na grande batalha da Reforma em prol da recuperação do evangelho da salvação pela graça mediante a fé por Cristo somente. Também sinceramente oro para que Deus nos guarde para que possamos nos manter fiéis ao verdadeiro evangelho e nos ajude a declará-lo com alegria para o mundo.
Enfim, vamos fazer a data 31 de Outubro num dia de memória e oportunidade educacional da nossa herança reformada. Aprendendo mais sobre as nossas raízes como protestantes, uma oportunidade para resgatarmos os grandes Solas da Reforma: Sola Gratia, Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Fide e Soli Deo Gloria.
Nele que é Soberano!
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A Mensagem da Reforma para os Dias de Hoje
F. Solano Portela Neto
I. Por que Lembrar a Reforma?
Em 31 de outubro de 1517 Martinho Lutero pregou as suas hoje famosas 95 Teses na porta da catedral de Wittenberg. Periodicamente as igrejas evangélicas relembram aqueles eventos que, na soberana providência de Deus, preservaram viva a sua igreja. Muitos, entretanto, questionam essas comemorações e alguns chegam até a contestar a lembrança da Reforma. "Por que considerar o que aconteceu há quase 500 anos?"
Seguramente muitos não estudam a Reforma por mero desconhecimento, por falta de informação, por não se aperceberem da sua importância na vida da igreja e da humanidade. Entretanto, muitos procuram um esquecimento voluntário daqueles eventos do século XVI. Martin Lloyd-Jones1 nos fala que entre aqueles que rejeitam a memória da Reforma temos, basicamente, dois tipos de argumentação: 1. "O passado não tem nada a nos ensinar." Segundo este ponto de vista, o progresso científico e o futuro é o que interessa. Firmadas em uma mentalidade evolucionista, estas pessoas partem para uma abordagem histórica de que "o presente é sempre melhor do que o passado" e assim nada enxergam na história que possa nos servir de lição, apoio, ou alerta. 2. A segunda forma de rejeição parte daqueles que vêem a Reforma como uma tragédia na história religiosa da humanidade. Estes afirmam que deveríamos estar estudando a unidade em vez de um movimento que trouxe a divisão e o cisma ao cristianismo. Dentro desta visão, perdemos tempo quando nos ocupamos de algo tão negativo.
Podemos dar graças, entretanto, pelo fato de que um segmento da igreja ainda acha importante estar relembrando e aplicando as questões levantadas pelos reformadores. Mas é o mesmo Martin Lloyd-Jones que alerta para um perigo que ainda existe dentro do interesse pelos acontecimentos que marcaram o século XVI. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma forma certa de relembrar o passado, do ponto de vista religioso.
A forma errada, seria estudar o passado por motivos meramente históricos. Esse estudo seria semelhante à abordagem que um antiquário dedica a um objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, ele não está interessado em saber se ela é confortável, se dá para sentar-se bem nela, se ela cumpre adequadamente a função de cadeira. Basicamente a preocupação se resume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a quem pertenceu. Isto determinará o valor daquele objeto para o antiquário e, conseqüentemente, o seu estudo é motivado por essa visão.
Em Mateus 23.29-35 teríamos um exemplo dessa abordagem errada do passado. O trecho diz:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! ...porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos, e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas. Assim, contra vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? Por isso eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e o altar.
Jesus diz que aqueles homens pagavam tributo à memória dos profetas e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que cuidavam dos sepulcros e os enfeitavam. Proclamavam a todos que os profetas eram homens bons e nobres e atacavam quem os havia rejeitado. Diziam eles: "se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito isso!" Mas Jesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Ele prova a sinceridade deles pondo a descoberto a sua atitude no presente para com aqueles que agora pregam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos profetas.
Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, no presente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus?
Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Nós a deduzimos não apenas por exclusão e inferência do texto anterior, mas porque temos um trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente."
A maneira correta de relembrar a Reforma é, portanto, verificar a mensagem, a Palavra de Deus, como foi proclamada, e isso não apenas por um interesse histórico de "antiquário," mas para que possamos imitar a fé demonstrada pelos reformadores. Devemos observar aqueles eventos e aqueles homens, para que possamos aprender deles e seguir o seu exemplo, discernindo a sua mensagem e aplicando-a aos nossos dias.
II. Distorções Verificadas na Lembrança da Reforma
Muitos de nós que crescemos neste país de maioria católica podemos nos recordar de, numa ou outra ocasião, termos ouvido alguma posição distorcida sobre os fatos da Reforma do Século XVI, ou sobre os reformadores. Uma das versões comuns, na visão da Igreja Católica, era apresentar Lutero como um monge que queria casar e que por isso teria brigado com o papa. Outros diziam que Lutero foi alguém que ambicionava o poder político. Ainda outros falam que Lutero era apenas um místico rebelde, sem convicções reais e profundas. Até mesmo a descrição dele como doente da alma, psicopata, enganador e falso profeta permanece em vários escritos de historiadores famosos do período.2 Um famoso autor e historiador católico brasileiro chegou a escrever que "excomungado em Worms, em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à moleza."3
Em anos mais recentes, um novo de tipo de abordagem da Reforma tem surgido nos círculos católicos, que igualmente representa alguma forma de distorção. Por exemplo, nos 500 anos do nascimento de Lutero (1983) o Papa participou de algumas cerimônias comemorativas do evento, na Alemanha.4 Certamente não foi por convencimento das verdades ensinadas por Lutero, pois a igreja que representa nada mudou doutrinariamente após a sua participação. A visita do Papa evidencia, entretanto, uma comprovação de que a imagem de Lutero e os princípios que pregava estão sendo alvo de revisionismo histórico e de distorções. Diluindo-se a força das doutrinas pregadas pelos reformadores, possibilita-se uma aproximação com os fatos históricos descontextualizados.
Em 1967, nos 450 anos da Reforma, a revista TIME escreveu o seguinte:"O domingo da Reforma está se tornando um evento ecumênico que olha para o futuro, em vez de para o passado."5 Na mesma ocasião, um semanário jesuíta fez esta afirmação: "Lutero foi um profundo pensador espiritual que foi levado à revolta por papas mundanos e incompetentes."6 Podemos ver como essa colocação faz da Reforma uma revolta contra pessoas temporais e não contra um sistema de doutrinas de uma igreja apóstata, que persiste até hoje.
Refletindo o sentimento ecumênico que tem permeado a segunda metade do século XX, bispos das igrejas católica e luterana dos Estados Unidos fizeram uma declaração solidária, no aniversário da Reforma, dizendo o seguinte: "…recomendamos um programa conjunto, entre os membros de nossas igrejas, de estudos, reflexão e oração."7 Podemos imaginar discípulos jesuítas consciente e sinceramente fazendo estudos, reflexão e oração em comemoração à Reforma do Século XVI? Certamente só se ignorarem os pontos fundamentais de doutrina levantados pelos reformadores.
Refletindo uma visão político-sociológica da Reforma, uma outra distorção permeou durante muito tempo o pensamento revisionista da história. Na época em que o comunismo ainda imperava na Europa oriental, porta-vozes do partido comunista da Alemanha relembraram Lutero como sendo "um precursor da revolução."8
III. Esquecimento Doutrinário dos Princípios da Reforma
Muitas das ações descritas acima, de comemoração conjunta da Reforma por católicos e protestantes, só ocorrem porque não se fala nas doutrinas cardeais levantadas pelo movimento do século XVI. Tristemente, temos observado que mesmo no campo chamado "evangélico" a situação é semelhante. Raras são as igrejas e denominações evangélicas que ensinam o que foi a Reforma do Século XVI e muito poucas as que comemoram o evento e aproveitam para relembrar e reaplicar os princípios nela levantados. Mais recentemente, observamos que tem sido removida a clara linha que separa as igrejas protestantes da católica quanto ao entendimento da fé cristã e da salvação. Esta ação, até alguns anos atrás praticada somente pela teologia liberal, que já havia declaradamente abandonado os princípios norteadores da Palavra de Deus, hoje está presente no campo protestante evangélico.
A falta de discernimento e conhecimento histórico, prático e teológico tem-se achado até mesmo dentro do campo ortodoxo e inclui teólogos reformados e tradicionais. Referimo-nos ao documento "Evangélicos e Católicos Juntos" (Evangelicals and Catholics Together), publicado em 1994 nos Estados Unidos, que tem sido uma fonte de controvérsia desde a sua divulgação.
A base e intenção do documento foi a realização de ações conjuntas de cunho moral-político por católicos e protestantes,9 mas ele evidencia uma grande falta de discernimento e sabedoria. Por exemplo, o documento encoraja a que as pessoas convertidas sejam respeitadas em sua decisão de filiar-se quer a uma igreja católica quer a uma protestante.10 Essas declarações foram emitidas como se a fé fosse a mesma, como se a doutrina fosse igual, como se a base dos ensinamentos fosse comum, como se as distinções inexistissem ou fossem extremamente secundárias.
A premissa básica do documento "Evangélicos e Católicos Juntos" é que a evangelização de católicos é algo indesejável e não recomendável, uma vez que a verdadeira fé e prática cristã devem já estar presentes na Igreja de Roma. Em sua essência, esse documento é a grande evidência do esquecimento da Reforma do Século XVI e do que ela representou e representa para a verdadeira igreja de Cristo.
Algum evangélico poderia argumentar, "mas isso é coisa de americano, não atinge o nosso país!" Ledo engano! A conhecida e prestigiada Revista Ultimato trouxe em suas páginas, no número de setembro de 1996, artigos e depoimentos, advindos do campo evangélico conservador, refletindo basicamente a mesma compreensão do documento "Evangélicos e Católicos Juntos," ou seja: as distinções com relação à Igreja de Roma seriam secundárias e não essenciais.
Tal situação reflete pelo menos uma crassa ignorância da doutrina católica romana. Por exemplo, os canônes 9 e 10 do Concílio de Trento, escritos no auge da Contra-Reforma mas nunca ab-rogados até os dias de hoje, dizem o seguinte:
Cânon 9: Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, querendo dizer que nada coopera com a fé para a obtenção da graça da justificação; e se alguém disser que as pessoas não são preparadas e predispostas pela ação de sua própria vontade—que seja maldito.
Cânon 11: Se alguém disser que os homens são justificados unicamente pela imputação da justiça de Cristo ou unicamente pela remissão dos seus pecados, excluindo a graça e amor que são derramados em seus corações pelo Espírito Santo, e que permanece neles; ou se alguém disser que a graça pela qual somos justificados reflete somente a vontade de Deus—que seja maldito.11
Estas declarações, ou melhor, maldições, foram pronunciadas contra os protestantes. Elas atingem o cerne da doutrina da justificação somente pela fé. São afirmações contra a defesa inabalável da soberania de Deus na salvação, proclamada pela Reforma do Século XVI, e continuam fazendo parte dos ensinamentos da Igreja Católica.
A visão distorcida do evangelho e da evangelização, no campo católico romano, não é algo que data apenas da era medieval. Veja-se esta declaração extraída da encíclica papal "O Evangelho da Vida," escrita e divulgada à Igreja em 1995: "O Evangelho é a proclamação de que Jesus possui um relacionamento singular com todas as pessoas. Isso faz com que vejamos em cada face humana a face de Cristo."12 Certamente teríamos que chamar esta visão do evangelho de universalismo e declará-la contrária à fé cristã histórica.
Perante esse emaranhado de opiniões tão diferenciadas, perante o testemunho e o registro implacável da história, perante a crise de identidade, de doutrina e de prática litúrgica que nossas igrejas atravessam, qual deve ser a nossa compreensão da Reforma?
IV. Considerações Práticas Sobre a Reforma e os Reformadores
Nosso apreço pela Reforma e suas doutrinas não deve levar-nos a uma visão utópica e idealista com relação aos seus personagens principais. Devemos reconhecer os seus feitos, mas também as suas limitações. É na compreensão da falibilidade humana que detectamos a mão soberana de Deus empreendendo os seus propósitos na história. Vejamos alguns pontos que valem a pena ser recordados:
A. Lutero foi um Homem Falível
As 95 Teses de Lutero13 realmente representaram um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas. Entre as teses encontramos expressões de compreensão dos ensinamentos da Bíblia, como por exemplo na Tese 62 ("O verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus") e na Tese 94 ("Os cristãos devem ser exortados a seguir a Cristo, a sua cabeça, com diligência…"). Entretanto, devemos reconhecer que elas estão longe de serem, em sua totalidade, expressões precisas da verdadeira fé cristã. Elas registram, na realidade, o início do pensamento de Lutero, que seria trabalhado e refinado por Deus ao longo de seus estudos e experiências posteriores. Vejamos os seguintes exemplos:
- Lutero faz referência ao purgatório, sem qualquer contestação à doutrina em si, em doze das suas teses (10, 11, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 25, 26, 29, 82). Ex.: Tese 29: "Quem disse que todas as almas no Purgatório desejam ser redimidas? Temos exceções registradas nos casos de S. Severino e S. Pascal, de acordo com uma lenda sobre eles."
- Além da menção aos santos na tese acima, Lutero faz referência a Maria como mãe de Deus (Tese 75), aparentemente não no sentido histórico do termo (o termo histórico, em grego theotokos,tinha o propósito de reconhecer a divindade de Jesus14), mas no conceito católico da expressão, que infere a existência de um poder especial em Maria. Diz a Tese 75: "É loucura considerar que as indulgências papais têm tão grande poder que elas poderiam absolver um homem que tivesse feito o impossível e violado a própria mãe de Deus."
- Quatro teses inferem legitimidade ao papado e à sucessão apostólica (77, 5, 6, 9). Ex.: Tese 77: "É blasfêmia contra São Pedro e contra o Papa dizer que São Pedro, se fosse o papa atual, não poderia conceder graças maiores [do que as atualmente concedidas]."
Além disso, verificamos que resquícios do romanismo se fizeram presentes na formulação da Igreja Luterana, principalmente na sua estrutura hierárquica e na compreensão quase católica dos elementos da Ceia do Senhor. Possivelmente também poderíamos dizer que na Reforma encontramos individualismo em excesso e falta de unidade entre irmãos de mesma persuasão teológica (principalmente nas interações dos luteranos com Zuínglio e Calvino). Mas, com todas essas limitações, os reformadores foram poderosamente utilizados por Deus na preservação das suas verdades.
B. A Revolta de Lutero foi Eminentemente Espiritual
Não podemos compreender a Reforma se acharmos que Lutero liderou uma revolta contra pessoas, contra padres corruptos, apenas. A ação de Lutero foi uma revolta contra uma estrutura errada e uma doutrina errada de uma igreja que distorcia a salvação. Não foi um movimento sociológico: ele não pretendia ensinar a salvação do homem pela reforma da sociedade, mas compreendia que a sociedade era reformada pelas ações do homem resgatado por Deus. Na realidade, a Reforma do Século XVI foi um grande reavivamento espiritual operado por Deus, que começou com uma experiência pessoal de conversão.
C. Lutero não Formulou Novas Doutrinas, ou Novas Verdades, mas Redescobriu a Bíblia em sua Pureza e Singularidade
As 95 Teses representam coragem, despreendimento e uma preocupação legítima com o estado decadente da igreja e com a procura dos verdadeiros ensinamentos da Palavra. Mas é um erro acharmos que a Reforma marca o surgimento de várias doutrinas nunca dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada. Uma das características comuns das seitas é a apresentação de supostas verdades que nunca haviam sido compreendidas, até a sua revelação a algum líder. Essas "verdades" passam a ser determinantes da interpretação das demais e ponto central dos ensinamentos empreendidos. A Reforma coloca-se em completa oposição a esta característica. Nenhum dos reformadores declarou ter "descoberto" qualquer verdade oculta, mas eles tão somente apresentaram em toda singeleza os ensinamentos das Escrituras. Seus comentários e controvérsias versaram sempre sobre a clara exposição da Palavra de Deus.
Mais uma vez, Martin Lloyd-Jones nos indica "que a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás."15 Lutero e Calvino, diz ele, "foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido."16
V. A Mensagem da Reforma para os Dias de Hoje
As mensagens proclamadas pela Reforma continuam sendo pertinentes aos nossos dias. Da mesma forma como as Escrituras são sempre atuais e representam a vontade de Deus ao homem, em todas as ocasiões, a Reforma, com suas mensagens extraídas e baseadas nessas Escrituras, transborda em atualidade para a cena contemporânea da igreja evangélica. Vejamos apenas alguns pontos pregados pelos Reformadores e a sua aplicação presente:
A. A Reforma Resgatou o Conceito do Pecado – Rm 3.10-23
A venda das indulgências mostra como o conceito do pecado estava distorcido na época da Reforma do Século XVI. A igreja medieval e, principalmente, as ações de Tetzel, fugiram totalmente à visão bíblica de que pecado é uma transgressão da Lei de Deus e qualquer falta de conformidade com seus padrões de justiça e santidade. A essência do pecado foi banalizada ao ponto de se acreditar que o seu resgate podia se efetivar pelo dinheiro. É fácil vermos as implicações que a falta de um conceito bíblico de pecado tem para outras doutrinas chaves da fé cristã. Por exemplo: se o resgate é em função da soma de dinheiro paga, como fica a expiação de Cristo, qual a necessidade dela? Ao se insurgir contra as indulgências Lutero estava, na realidade, reapresentando a mensagem da Palavra de Deus sobre o homem, seu estado, suas responsabilidades perante o Deus Santo e Criador, e sua necessidade de redenção.
Hoje esses conceitos estão cada vez mais ausentes da doutrina da igreja contemporânea. A mensagem da Reforma continua necessária aos nossos dias. Estamos nos acostumando a ouvir que todas as ações são legítimas; que pecado é uma conceito relativo e ultrapassado; que o que importa é a felicidade pessoal e não a observância de princípios. Mesmo nos meios evangélicos existe grande falta de discernimento — há uma preocupação muito maior em encontrar justificativas, explicações e racionalizações do que com a convicção de pecado e o arrependimento.
B. A Reforma Pregou a Doutrina da Justificação Somente pela Fé – Gl 3.10-14
A Igreja Católica havia distorcido o conceito da salvação, pregando abertamente que a justificação se processava por intermédio das boas obras de cada fiel. Lendo a Palavra, Lutero verificou quão distanciada esta pregação estava das verdades bíblicas — a salvação era uma graça concedida mediante a fé. Todo o trabalho vem de Deus. As boas obras não fornecem a base para a salvação, mas são evidências e sub-produtos de uma salvação que procede da infinita misericórdia de Deus para com o homem pecador que ele arranca da perdição do pecado.
Hoje estamos novamente perdendo essa compreensão – a mensagem da Reforma é necessária. A justificação pela fé continua sendo esquecida e procura-se a justificação pelas obras. Muitas vezes prega-se e procura-se a justificação perante Deus através do envolvimento em ações de cunho social.
A justificação pela fé está sendo, ultimamente, considerada até um ponto secundário, mesmo no campo evangélico, partindo-se para trabalhos de ampla cooperação, como base de fé e de unidade, como vimos no pensamento expresso pelo documento já referido: Evangélicos e Católicos Juntos.
C. A Reforma Resgatou o Conceito da Autoridade Vital da Palavra de Deus – 2 Pe 1.16-21
Na ocasião da Reforma, a tradição da igreja já havia se incorporado aos padrões determinantes de comportamento e doutrina e, na realidade, já havia superado as prescrições das Escrituras. A Bíblia era conservada distante e afastada da compreensão dos devotos. Era considerada um livro só para os entendidos, obscuro e até perigoso para as massas. Os reformadores redescobriram e levantaram bem alto o único padrão de fé e prática: a Palavra de Deus, e por este padrão aferiram tanto as autoridades como as práticas religiosas em vigor.
Hoje o mundo está sem um padrão. Mas não é somente o mundo: a própria igreja evangélica está voltando a enterrar o seu padrão em meio a um entulho místico pseudo-espiritual – a mensagem da Reforma continua necessária.
Sabemos que nas pessoas sem Deus imperam o subjetivismo e o existencialismo. A única regra de prática existente parece ser: "Comamos e bebamos porque amanhã morreremos." Verificamos que nas seitas existe uma multiplicidade de padrões. Livros e escritos são apresentados como se a sua autoridade fosse igual ou até superior à da Bíblia. A cena comum é a apresentação de novas revelações, geralmente de natureza escatológica e com características fluidas, contraditórias e totalmente duvidosas.
No meio eclesiástico liberal, já nos acostumamos a identificar o ataque constante à veracidade das Escrituras. Já vamos com mais de dois séculos de contestação sistemática da Palavra de Deus, como se a fé cristã verdadeira fosse capaz de subsistir sem o seu alicerce principal.
Mas é no campo evangélico que somos perturbados com os últimos ataques à Bíblia como regra inerrante de fé e prática. Ultimamente muitos chamados intelectuais têm questionado a doutrina que coloca a Bíblia como um livro inspirado, livre de erro. Podemos tomar como exemplo o caso do Fuller Theological Seminary. Esta famosa instituição evangélica foi fundada em 1947 sobre princípios corretos. Logo após o seu início, formulou-se uma declaração de fé que especificava: "…os livros do Velho Testamento e do Novo Testamento…, nos originais, são inspirados plenariamente e livres de erro, no todo e em suas partes…" Entretanto, em 1968, o filho do fundador, Daniel Fuller, que havia estudado sob Karl Barth, começou a questionar a inerrância da Bíblia, fazendo distinção entre trechos "revelativos" e trechos "não revelativos" das Escrituras. Foi seguido nessa posição pelo presidente, David Hubbard, e por vários outros professores, todos considerados evangélicos.17 Logicamente não há critério coerente ou legítimo para fazer essa distinção. Subtrai-se da igreja o seu padrão, derruba-se um dos pilares da Reforma, e a igreja é retroagida a uma condição medieval de dependência dos especialistas que nos dirão quais as partes em que devemos crer realmente e quais as que devemos descartar como mera invenção humana.
No campo evangélico neopentecostal, a suficiência da Palavra de Deus é desconsiderada e substituída pelas supostas "novas revelações," que passam a ser determinantes das doutrinas e práticas do povo de Deus.
Em seu Capítulo I, Seção II, a Confissão de Fé de Westminster apresenta a mensagem inequívoca da Reforma do Século XVI, cada vez mais válida para os nossos dias. Ali a Bíblia é descrita como sendo a "regra de fé e de prática."
D. A Reforma Redescobriu na Palavra a Doutrina do Sacerdócio Individual do Crente – Hb 10.19-21
O sacerdócio individual do crente foi uma outra doutrina resgatada. Ela apresenta a pessoa de Cristo como único mediador entre Deus e os homens, concedendo a cada salvo "acesso direto ao trono" por intermédio do sacrifício de Cristo na cruz e pela operação do Espírito Santo no "homem interior."18 O ensinamento bíblico, transmitido pela Reforma, eliminava os vários intermediários que haviam surgido ao longo dos séculos entre o Deus que salva e o pecador redimido. Na ocasião, esse era um ensinamento totalmente estranho à Igreja de Roma, que sempre se apresentou como tendo a palavra final de autoridade e interpretação das Escrituras.
Lutero rebelou-se contra o véu de obscuridade que a Igreja lançava sobre as verdades espirituais e levou os fiéis de volta ao trono da graça. Isso proporcionou uma abertura providencial no conhecimento teológico e religioso. Lutero sabia disso, mas também sabia que o acesso a Deus deveria estar fundamentado nas verdades da Bíblia, tanto assim que um de seus primeiros esforços, após a quebra com a Igreja Romana, foi a tradução da Palavra de Deus para a língua falada em seu país: o alemão.
O ensinamento do sacerdócio individual do crente foi o grande responsável pelo estudo aprofundado das Escrituras e pela disseminação da fé reformada. Levados a proceder como os bereanos,19 os crentes verificaram que não dependiam do clero para o entendimento e aplicação dos preceitos de Deus e passaram a penetrar com determinação nas doutrinas cristãs.
A mensagem da Reforma continua sendo necessária hoje. A igreja contemporânea está multiplicando-se em quantidade de adeptos, mas é uma multiplicação estranha porque é acompanhada de uma preguiça mental quanto ao estudo. Parece que fomos todos tomados de anorexia espiritual, pois nos contentamos com muito pouco, nos achamos mestres sem estudar, nos concentramos na periferia e não no cerne das doutrinas, e ficamos felizes com o recebimento só do "leite" e não da "carne."
A mensagem da Reforma é necessária para que não venhamos a testemunhar a consolidação de toda uma geração de "cristãos analfabetos." Em vez de procurarmos coisas "enlatadas" e de deixar que apenas formas de entretenimento povoem nossas mentes e corações, devemos lembrar-nos constantemente da importância de "guardar a palavra no coração."
Precisamos nos aperceber de que o conteúdo da Palavra de Deus é verdade proposicional objetiva. Mas essa objetividade tem que ser acompanhada do nosso estudo e da nossa capacidade de compreensão, sob a iluminação do Espírito Santo, e da aplicação coerente dos ensinamentos dessa Palavra em nossas vidas.
E. A Reforma Apresentou, de Forma Clara e Inequívoca, o Conceito da Soberania de Deus — Salmo 24
Na ocasião da Reforma, as expressões de religiosidade tinham se tornado totalmente centralizadas no homem. Isso ocorreu principalmente pela grande influência de Tomás de Aquino na sistematização do pensamento católico romano. Abraçando as idéias de Pelágio, Aquino enfatizou fortemente o livre arbítrio do ser humano, desconsiderando a gravidade da escravidão ao pecado que o torna incapaz de escolher o bem, a não ser que a ele seja direcionado por Deus. Lutero reconheceu que a salvação se constituía em algo mais que uma mera convicção intelectual. Era, na realidade, um milagre da parte de Deus e por isso ele tanto pregou como escreveu sobre "a prisão do arbítrio." Costumamos atribuir a cristalização das doutrinas relacionadas com a soberania de Deus a João Calvino apenas, mas o ensinamento bíblico de Lutero traz, com não menor veemência, uma teologia teocêntrica na qual Deus reina soberanamente em todos os sentidos.
Hoje, a mensagem continua a ser necessária, pois o homem, e não Deus, permanece no centro das atenções. Mesmo dentro dos círculos evangélicos, nossa evangelização é efetivada tendo a felicidade do homem como alvo principal, e não a glória de Deus. Até a nossa liturgia é desenvolvida em torno de algo que nos faça "sentir bem," e não com o objetivo maior da glorificação a Deus. Nesse aspecto, deveríamos estar atentos à mensagem de Amós, que nos ensina (Am 4.4-5) que Deus não se impressiona com uma liturgia que não é direcionada a ele.20 Nesse trecho vemos que a adoração realizada em Betel21 e Gilgal22 tinha várias características dos cultos contemporâneos:
1. Os locais eram suntuosos e famosos (Betel possuía belas fontes no topo da montanha).
2. A periodicidade dos cultos e possivelmente a freqüência era exemplar (reuniam-se diariamente).
3. As contribuições eram generosas, superando até os padrões de Deus (de três em três dias traziam as ofertas).
4. O louvor era abundante (sacrifícios de louvor eram ofertados; Am 5.23 e 6.5 também fala do estrépito dos cânticos e da transbordante música instrumental).
5. Havia bastante publicidade (as ofertas eram divulgadas e apregoadas).
6. Havia alegria e deleite geral nos trabalhos ("disso gostais," diz o profeta).
O resultado de toda essa adoração centralizada no homem foi a mão pesada de Deus em julgamento sobre aquela sociedade insensível (com aquele culto, as pessoas, dizia o profeta, "multiplicavam as suas transgressões"). Realmente, à semelhança da Reforma, precisamos resgatar a pregação da soberania de Deus e demonstrar essa doutrina na prática de nossas vidas e na de nossas igrejas.
Conclusão
Devemos reconhecer a Reforma como um movimento operado por homens falíveis, mas poderosamente utilizados pelo Espírito Santo de Deus para resgatar suas verdades e preservar a sua igreja. Não devemos endeusar os reformadores nem a Reforma, mas não podemos deixá-la esquecida e nem deixar de proclamar a sua mensagem, que reflete o ensinamento da Palavra de Deus aos dias de hoje. A natureza humana continua a mesma, submersa em pecado. Os problemas e situações tendem a repetir-se, até no seio da igreja. O Deus da Reforma fala ao mundo hoje, com a mesma mensagem eterna. Devemos, em oração e temor, ter a coragem de proclamá-la à nossa igreja.
English Abstract
In his essay Portela shows how modern references to the Reformation have distorted its main thrust – the reformers have been presented with characteristics that vary from narrow-minded men, seekers of their own interests, to socio-political revolutionaries. Also, the Reformation has lately been celebrated as an ecumenical event rather than a reaffirmation of cardinal doctrines buried by Roman Catholic tradition. The result has been the loss, for today’s evangelical church, of the distinctiveness that prompted the Reformation. Commenting about the document "Evangelical and Catholics Together," Portela points out that the historical revisionism of the Reformation has diluted the doctrine of salvation, even in reformed circles. Recognizing that the Reformers were fallible men, and that even the 95 Theses have theological flaws, Portela states that the Reformation was essentially a spiritual movement in which the Bible and its teachings were rediscovered in purity and uniqueness. It is not precise, therefore, to say that new doctrines were formulated by that movement. Portela finds the modern church lacking, among other things, in its emphasis on the concept of sin, of justification by faith alone, of the vital authority of the Word of God, of the priesthood of the believer, and of the sovereignty of God. One of the examples given to substantiate his claims is the gradual departure from biblical inerrancy shown at mainline evangelical seminaries, such as Fuller. In his conclusion, Portela calls the church to have courage to continue proclaiming the eternal message of the God of the Reformation.
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Notas
1 D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994) 2-5.
2 O Rev. Sabatini Lalli compila várias dessas distorções em seu livro Lutero: Cinco Séculos Depois (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1983) 4-5.
3 Plínio Corrêa de Oliveira, Folha de São Paulo (10.01.1984), 2. O autor cita uma carta de Lutero a Melanchton para provar o seu ponto, na qual Lutero reclama da sua preguiça. Provavelmente as colocações expressam o profundo sentimento de incapacidade perante as grandes tarefas que confrontam os cristãos verdadeiros e responsáveis. O autor parece desconhecer que enquanto Lutero se entregava "ao ócio e à moleza," como diz, ele entre outras coisas traduziu a Bíblia em sua totalidade.
4 Jornal de Brasília—Caderno Internacional (10.11.1983), 11, e Isto É (09.11.1983), 37.
5 Time (24.03.1967), citado por Dr. Allen A. MacRae em Luther and the Reformation (New York: American Council of Christian Churches, 1967) 2.
6 MacRae, Luther and the Reformation, 2.
7 Ibid.
8 Time (24.03.1967), citado em The Christian News (N. Haven: Lutheran News, 1983); (27.06.1983), 18.
9 Reconhecemos que algumas dessas ações possuem validade moral, como, por exemplo, levantar a voz conjunta da sociedade contra o crime do aborto, contra a promiscuidade defendida pelos meios de comunicação, etc.
10 O cristão que "…experimentou a conversão…" deve ser "…continuamente respeitado... em sua decisão acerca de compromisso e participação comunitária…" Também, "…os que são convertidos… devem receber plena liberdade e respeito para analisar e decidir em que comunidade irão viver a sua nova vida em Cristo."
11 Transcritos no Western Reformed Seminary Journal 2/2 (verão 1995) 15.
12 Encíclica Evangelium Vitae, pt. 81.
13 O texto completo das 95 teses em inglês pode ser obtido através da Internet, no seguinte endereço: http://www.bibleclass.com/lib/95.htm.
14 Termo utilizado na igreja desde Orígenes (Escola de Alexandria), atacado por Nestório no quinto século, mas aprovado e acolhido pelos Concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451). Posteriormente, a Igreja Católica veio a distorcer o significado de "Mãe de Deus" — em vez de representar uma defesa da divindade de Cristo, o termo passou a expressar uma situação privilegiada de Maria em poder e essência, como objeto próprio de adoração e fonte de poder.
15 Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma, 8.
16 Ibid.
17 Harold Lindsell, The Battle for the Bible (Grand Rapids: Zondervan, 1976) 106-121. Exemplos de outros autores famosos (considerados evangélicos) que questionam a inerrância: Paul K. Jewett e George Eldon Ladd.
18 Ef 2.18 e 3.16.
19 At 17.11.
20 Várias mensagens expositivas sobre os alertas de Amós, e a sua aplicabilidade aos nossos dias, têm sido proferidas pelo Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes (1995-1997), das quais alguns destes pontos foram extraídos.
21 Betel (casa de Deus): cidade em Samaria, lugar de adoração dos cananeus (El, Baal). Contrasta com o templo dos judeus, chamado de Beth Yaweh, a casa de Jeová.
22 Gilgal: existem várias na Bíblia (pelo menos seis). Esta deve ser a de Js 4.19, Jz 2.1 e 3.19, que ficava perto de Jericó, chegando a abrigar a arca do concerto (Js 18.1). Outros acham que seria a de 2 Rs 2.1-4. Saul utilizou a primeira como base de operações contra os amalequitas. Os 12.11 indica que virou local de sacrifícios. Etimologicamente, pode ter seu significado ligado a um "círculo de pedras."
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INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Estevam Fernandes
Dentre as atitudes humanas mais inaceitáveis está a intolerância. Em essência, a intolerância é o reflexo da nossa incapacidade em lidarmos com o diferente, especialmente quando ele se manifesta contra aquilo que não comungamos. Ela é a rejeição radical de tudo e de todos que não cabem em nosso mundo particular. Para o intolerante, só existe uma verdade: a sua; seja no campo das idéias, dos valores, da estética, da política, das crenças, etc.
É exatamente na dimensão das crenças onde a intolerância se torna mais danosa às relações humanas e, portanto, à paz social. Ela agride o outro naquilo que lhe é profundamente subjetivo e valioso: a experiência do sagrado, isto é, a sua fé. É através da experiência do sagrado que individuo crente organiza o seu cotidiano, fundamenta sua fé e alimenta suas esperanças. Por isso, a intolerância religiosa é um ato de desrespeito e de violência contra a crença de alguém. Ela é inaceitável.
Através dos séculos, parte da historia da humanidade tem sido escrita com o sangue derramado pela intolerância religiosa. Se por um lado as religiões têm um papel relevante na construção das utopias universais, como por exemplo, a paz, a justiça, a solidariedade, o amor, a fraternidade, por outro lado, elas podem alimentar o ódio entre os povos, entre famílias e entre pessoas, a exemplo da Irlanda, onde católicos e protestantes se matam irracionalmente; o conflito árabe/israelense, onde terras e crenças tornam-se o combustível de guerras; e a inquisição católica medieval, que condenava à fogueira e a torturas, judeus, protestantes e outros que não fossem católicos romanos.
A essência de toda religião deve ser o reencontro com Deus, através da experiência do amor, que possibilita o encontro do homem consigo mesmo, com a natureza e com o seu próximo. Religião é, pois, relacionamento. A intolerância é o obstáculo mais cruel para construção de relacionamentos, na medida em que fomenta preconceitos, levanta muros, demoniza a fé alheia e condena aqueles que pensam diferente, mesmo amados por Deus. Jesus Cristo, a encarnação do amor de Deus, teve que enfrentar os obstáculos da intolerância da religião da época.
Como cristão, amo, trabalho e vivo pela mensagem do cristianismo. Tornei-me refém da minha vocação e creio profundamente no projeto redentor de Jesus Cristo. Todavia, isso não me concede o direito de condenar os outros que não comungam da minha fé e não freqüentam a minha igreja. Pelo contrário, respeitando-os e amando-os, permito que vejam Jesus em minha vida. Pontes ou muralhas? O que queremos ser?
Afinal de contas, não é o rótulo da igreja que freqüentamos que nos faz mais pertos de Deus, mas nossa capacidade de amar os outros, mesmo aqueles que não comungam da nossa fé, mas que testemunharão de Deus conhecendo nossas ações.
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A Hora de Jogar a Toalha
Sergio Buaiz
Admitir a derrota em uma batalha pode ser a única chance de o líder manter a saúde da sua equipe. Você gosta de boxe? O que acontece quando um campeão invicto começa a apanhar do seu adversário? Ele cai a primeira vez, a contagem é iniciada e ele se levanta. A luta continua até o fim do round. O médico faz curativos, o treinador grita palavras de incentivo e instruções ao seu ouvido. Recomeça a luta. Ele continua apanhando e cai pela segunda vez. Está mais ferido. E assim vai, por mais alguns rounds...
A cada término de round, todos observam que o campeão está mais ferido e fragilizado. Ele continua motivado e quer vencer a luta, mas o médico e o treinador percebem que ele não vai resistir por muito mais tempo.
O que fazer? O campeão só está acostumado às vitórias e não imagina o perigo que está correndo. Insistir nessa luta é um grande erro, pois não há nada mais importante na carreira de um atleta que a sua integridade física. A saúde é fundamental. Ele é um campeão!
Perder uma luta pode ser horrível para quem se acostumou com as vitórias, mas talvez seja apenas uma noite ruim. Talvez tenha faltado algum detalhe em sua preparação para este combate, ou talvez o adversário tenha conseguido um golpe incomum, que abalou seus sentidos antes da hora.
Não importa o que aconteceu, mas nessa noite o campeão foi derrotado. Por mais que insista, é improvável que ele consiga reverter o resultado. O risco de continuar a luta é imprevisível e não compensa. Tudo leva a crer que ele será nocauteado a qualquer momento, podendo sofrer sérias conseqüências.
O médico e o treinador sabem disso, mas e o que pensa o campeão? Ele está com raiva e quer revidar cada golpe que recebeu. Mesmo sem enxergar direito, ele investe toda a energia que resta em cada soco, mas não consegue atingir o adversário. Ele está atordoado e sua capacidade está comprometida. Como ele vai interpretar uma derrota assim? É melhor deixar que ele se mate em um combate já perdido ou antecipar sua derrota, jogando a toalha? O que é melhor, perder essa luta ou comprometer a saúde de um atleta vitorioso?
Se a luta for encerrada agora, ele terá tempo para se recuperar e buscar uma revanche. Sentindo-se derrotado, ele vai se empenhar como nunca na preparação e, daqui a alguns meses, será novamente o campeão. Entretanto, se continuar agora, haverá uma segunda chance de sobreviver? Ao sofrer uma contusão séria, quanto tempo ficará parado? E se tiver que parar de lutar? Vale a pena arriscar tanto por uma vitória como outra qualquer?
O que é mais importante, a luta ou a carreira? Nesse momento, o treinador joga a toalha. O líder joga a toalha, pois sabe que sua equipe não tem mais condições de permanecer no combate. Ele sabe que, mais importante que vencer uma batalha isolada, é manter-se vivo em direção aos seus objetivos. Uma derrota nunca é bem-recebida, pois compromete todo o planejamento da equipe. A estratégia precisa ser revista e perde-se um tempo precioso. A recuperação pode ser dolorosa e outras perdas podem acontecer como conseqüência, mas a derrota faz parte de qualquer jornada vitoriosa. Não há ganho sem dor, lembra?
Um líder de verdade precisa conhecer sua equipe melhor que a palma da sua mão. Ele deve ser capaz de interpretar nos primeiros sintomas de estresse, fadiga e desespero. Quando um membro da sua equipe demonstra estar fragilizado, é o momento de conversar ao pé do ouvido, instruir e motivar, repetindo o gesto do treinador. Quando há um problema mais sério ou um ferimento emocional, o líder assume o papel do médico.
A qualidade de um treinador, médico ou líder em geral, deve ser medida pela sua capacidade de identificar claramente esses sintomas e conhecer os limites do seu "atleta". Até quando é possível incentivar, empurrar, estimular... e quando é a hora de parar? Ser líder não é orientar sua equipe até o barranco e gritar: "pulem"!
Se isso acontecer e a equipe inteira se espatifar, o líder terá alcançado o seu objetivo? Se o líder não observar os limites dos seus jogadores e apertá-los até que desistam, mudem de empresa ou adoeçam, terá alcançado o seu objetivo? Não!
O papel de um líder é fazer o que for preciso para levar seu time até a vitória final, e ele deve se utilizar de todos os recursos disponíveis. Às vezes, ele terá que motivar, incentivar, empurrar; às vezes, ele precisará ouvir, consolar, respeitar, cuidar, curar... Insistir é diferente de persistir. Nem sempre a insistência é saudável. Por outro lado, "admitir uma derrota" não é sinônimo de "desistir". Pode representar prudência, responsabilidade e confiança.
Para admitir uma derrota, é preciso confiar em dias melhores! Somente os vencedores são capazes de admitir um mau desempenho. Vencedores sabem que a derrota faz parte do crescimento e estão dispostos a aprender com ela. Quando a equipe perde, o líder deve assumir a responsabilidade pela derrota e conversar com seu time para identificar os pontos falhos da estratégia. O que precisa ser ajustado? O que precisa ser revisto? De quem foi a culpa? Do líder, é claro. Somente o líder tem a visão global necessária para saber a hora certa de investir e de parar. O papel do líder é manter o controle dos recursos, promover substituições e se precaver para qualquer eventualidade, enquanto o papel de cada jogador é confiar no líder e dar o máximo de si.
Quando a equipe está em combate, os jogadores estão cegos. Eles enxergam somente uma parte do campo de batalha. Se um membro da equipe está fragilizado, cabe ao líder substituí-lo. Se a equipe inteira está jogando mal, é hora de jogar a toalha! Por isso, o mérito das vitórias é da equipe, mas a derrota é responsabilidade do líder. Saiba a hora certa de jogar a toalha. Preserve a saúde da sua equipe, que é seu bem mais valioso. Seja um líder nas derrotas e a vitória estará ao seu alcance. Contextualize tudo isso na sua experiência como cristão.
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A Crise da Transmissão da Fé
A Crise da Transmissão da Fé
Rev. Ricardo Barbosa de Souza
A transmissão da fé em nossa cultura secularizada requer de nós novos cuidados e preocupações que nossos pais não tiveram.
Uma preocupação que vem crescendo e provocando muitas conversas tanto dentro da Igreja Católica como na Evangélica é o da transmissão da fé para as futuras gerações. Na Europa, alguns estudiosos já demonstraram isso em trabalhos como o do espanhol Juan Martin Velasco, que escreveu La transmissión de la fé en la sociedad e do bispo alemão J. J. Degenhardt, com seu livro Crisis of the transmission of the faith, em que ambos apontam um fenômeno, não só europeu, mas ocidental, envolvendo principalmente as igrejas cristãs.
Existem várias causas para isso, mas a secularização da sociedade ocidental é apontada por todos como a causa primeira desta crise. Olhando para o Brasil, vemos uma Igreja que ainda cresce numericamente, mas que tem perdido sua relevância cultural, social, política e econômica. E vem perdendo também suas raízes históricas e teológicas. Uma Igreja que oferece uma infinidade de programas, atividades e várias formas de entretenimento religioso, mas que tem perdido a capacidade de criar, principalmente nas novas gerações, um grau de compromisso e fidelidade para com a verdade bíblica. O que os membros fazem no domingo tem pouca ou nenhuma relação com o que fazem nos outros seis dias da semana. Nossas tradições foram descartadas, nossos valores relativizados e nossas convicções se transformaram em discretas e frágeis impressões religiosas. Vemos também, inclusive dentro da Igreja cristã, a intensificação do individualismo como resposta à secularização e o crescente movimento da moderna psicologia, que valoriza o “indivíduo autônomo” em sua busca pela auto-realização.
Diante de um cenário assim, ao olhar para o futuro do cristianismo, somos tomados por um sentimento de apreensão e perplexidade. Por um lado, sabemos que a Igreja é de Cristo e é ele quem a sustenta e guarda – no entanto, a história da Igreja é dinâmica e, em muitas nações e até continentes onde ela já foi viva e forte, hoje não é mais. Portanto, temos que refletir sobre nosso papel nesse processo e como será o processo de transmissão da fé para as novas gerações.
A transmissão da fé em nossa cultura secularizada requer de nós novos cuidados e preocupações que nossos pais não tiveram. No passado, com a centralidade da religião e da família na cultura ocidental, o processo era natural. Hoje, nenhuma das duas ocupam mais este lugar. Antigamente, os valores e convicções cristãs eram claramente definidos e aceitos socialmente. Eram eles que estabeleciam uma fronteira clara entre o que era certo e errado ou entre o que era pecado e o que não era. A identidade do cristão era socialmente bem definida, o que lhe dava também uma certa segurança e responsabilidade. Agora, não – falta essa identidade clara e os valores e convicções evaporaram. A grande pergunta que se coloca diante de nós é: como iremos transmitir para nossos filhos e netos os valores e princípios da fé cristã?
A nova preocupação com a “espiritualidade” pode ser uma resposta à crise da transmissão da fé. Muitos têm confundido espiritualidade com uma forma de intimismo religioso que surge como resposta ao individualismo secularizado, intensificando a alienação e não promovendo um relacionamento real e verdadeiro com o Deus triúno da graça. Para ser relevante, a espiritualidade precisa oferecer uma resposta à crise da transmissão da fé, fundamentando-se na revelação bíblica de Deus como uma Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).
Uma espiritualidade fundamentada na Trindade nos conduz a um relacionamento pessoal com Deus-Pai que não é fruto de uma compreensão particular e intimista, mas da revelação que Jesus, o Filho unigênito nos apresenta. Conhecer a Deus Pai não é o resultado das projeções das nossas melhores intenções paternas, mas o resultado exclusivo da relação única que o Filho eterno tem na comunhão com o Pai. Somente Cristo é quem nos revela a natureza paterna de Deus. Conhecer a Cristo é conhecer aquele que nos foi enviado pelo Pai e que realizou por nós, na cruz do Calvário, a gloriosa obra da reconciliação através da justificação e do perdão dos nossos pecados. Compreender o que Jesus fez na cruz e responder ao Pai em comunhão, obediência e adoração só nos é possível pelo poder do Espírito Santo, que abre nossos olhos, levando-nos a compreender nosso pecado e a necessidade de redenção. E que também nos abre para Deus por meio de Cristo e para a comunhão com os santos.
O caminho para enfrentar a crise da transmissão da fé passa por uma espiritualidade centrada na Trindade e nas Sagradas Escrituras. Somente a partir de um relacionamento pessoal com o Deus trino da graça é que poderemos recuperar o valor daquilo que é verdadeiro e resistir à subjetividade da cultura secular. Compreender a realidade a partir da revelação de Deus em Cristo, e não através da psicologia e sociologia modernas, nos libertará da percepção reducionista da cultura secular e nos conduzirá a uma compreensão profunda e realista da natureza humana, da nossa condição social, dos propósitos da criação e da comunhão com o Senhor e com o próximo.
Olhar para a realidade a partir da auto-revelação de Deus em Cristo nos conduzirá a uma nova dinâmica de vida e fé onde todos os eventos, encontros, experiências, desejos, ações e paixões serão holisticamente absorvidos em Cristo. É isso que nos tornará mais verdadeiros e nos conduzirá à vida abundante prometida pelo Senhor. O legado que precisamos deixar para as novas gerações envolve um caminho de fé que nos conduza a uma completa rendição e entrega, da mesma forma como o Filho de Deus se entregou por nós em amor e obediência ao Pai. Somente através de uma conversão real e dinâmica é que as novas gerações irão reconhecer o valor pessoal, histórico e social da fé cristã e responderão a ela numa vida de obediência, amor, comunhão e serviço.
Ricardo Barbosa de Souza
é conferencista e pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília
Procuram-se amigos
Pr. Ricardo Gondim
Quando eu era menino, mamãe me aconselhava a tomar cuidado com os meus amigos. Depois, quando cresci mais, papai repetiu o surrado provérbio: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Passados vários anos e com tanta água sob pontes e viadutos, não consigo avaliar se consegui obedecê-los. Sinto, porém, que preciso achar novos amigos.
Cheguei à meia idade bem decepcionado com a palavra Amizade. Esfolei os joelhos nos desdéns, aprofundei as ranhuras da cara com decepções e perdi tufos de cabelo com traições. Mas mesmo assim, reluto; não posso tornar-me cético, sei que devo manter-me próximo de amigos verdadeiros - Isso não é fácil!
Faz pouco tempo, devido à internet, encontrei um colega (já não posso chamar-lhe de amigo) - estranho, eu o considerava um "irmãozão". Havíamos perdido o contato há alguns anos. Redigi e mandei-lhe uma mensagem cheia de afeto e saudade. Na verdade, eu estava carente, necessitado de vínculos leais. Tal como um doente que aperta a campainha da UTI, desesperado pelo socorro do médico, eu clamava por sua atenção. Arrasado, amarguei uma resposta horrível. Ele candidamente agradeceu a “carta eletrônica” e não hesitou em propor que, daquele dia em diante, compartilhássemos esboços de sermão. Quase chorei. A última coisa que eu precisava era um “esqueleto” de pregação. Entretanto, mesmo amealhando decepções, insisto em garimpar amigos.
Quero ser amigo de quem valoriza a lealdade. Quando papai esteve preso, o estigma de subversivo grudou nele. Um dia, ele me contou com lágrimas nos olhos que vários ex-colegas da Aeronáutica desciam a calçada para não se verem obrigados a cumprimentá-lo. Guardo esse trauma e, sinceramente, não consigo lidar com amizades de conveniência. Preciso acreditar em amizades que não se intimidam com censuras, que não retrocedem diante do perigo e que não abandonam na hora do apedrejamento. Amigos não desertam.
Quero ser amigo de quem eu não deva me proteger, mas que também não se sinta acuado e com medo de mim. Não creio em companheirismo lotado de suspeita. Grandes amigos são vulneráveis; conversam sem cautela; sentem-se livres para rasgar a alma e sabem que confidências e segredos nunca serão jogados no ventilador da indiscrição. Amigos preferem proteger os amigos a defender normas, estatutos e leis.
Quero ser amigo de quem não se melindra com facilidade. Eu me conheço, sei que piso em calos. Agrido com meus silêncios. Uso a introspecção para tecer comentários ácidos e impensados. Às vezes quanto mais tento, mais me mostro tosco. Vou precisar de amigos que tolerem as minhas heresias, hesitações e pecados. Dependo de que suportem o baque de minhas inadequações, e que sejam teimosos em me querer bem.
Quero ser amigo, não simples parceiro de vocação. Já preguei em igrejas em que o pastor, depois da programação, se despediu de mim na calçada do aeroporto e nunca mais tive notícias dele ou da igreja. Não vou colocar o meu nome em conferências ou congressos que só me querem para divulgação. Recuso-me a reforçar eventos que engrandecem pessoas ou instituições, mas não criam vínculos de carinho ou de cuidado.
Já não agüento abraços coreografados. Manifestações artificiais de coleguismo me enfadam. Tornou-se ridículo para eu testemunhar pessoas dizendo "somos uma só família em Cristo" e depois vê-las alfinetando os "irmãos" com comentários venenosos.
Amizades certinhas, alimentadas por pieguismos e textos re-encaminhados de PowerPoint, já não dizem muita coisa. Quanta preguiça e descuido jazem nas entrelinhas dos cartões de aniversário com frases prontas. Verdadeiros amigos sabem que seus sentimentos são preciosos e como é valioso compartilhá-los. Amizades superficiais são mais danosas do que inimizades explícitas.
Quero ser amigo de quem não tem necessidade de parecer certinho. Não tolero conviver com quem nunca tropeça nos próprios cadarços. Ando cauteloso com quem se arvora de ter a língua sob controle absoluto.Vez por outra preciso relaxar, rir do passado, sonhar maluquices para o futuro e conversar trivialidades.
Necessito de amigos que se deliciam em ouvir a mesma música duas vezes para perceber as sutilezas da poesia. Como é bom encontrar um velho camarada e comentar aquele filme que a gente acabou de assistir. Adoro partilhar pedaços do último livro que li. Vale contar com amigos que numa mesma conversa, elogiam ou espinafram políticos, pastores, atores, árbitros de futebol. Não existe preço para riso ou lágrima que vem da poesia.
Quero terminar os dias e poder afirmar que, mesmo desacreditado das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, jamais negligenciei a minha melhor fortuna: meus bons e velhos amigos. Contudo, ainda desejo encontrar mais amigos.
Soli Deo Gloria.
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O agricultor por excelência, a Ele a glória!
Em Genesis 1.11 a 12 o agricultor por exigência faz com que a terra produza erva verde que dê semente; árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, e assim a terra se encha de todo o alimento necessário para a vida humana; e viu Deus que era isso bom.
Deus também viu que era bom ter em São Gonçalo uma Igreja formosa, formada por uma maioria de agricultores, homens que lidam com a terra e mulheres que os auxiliam; que ao lidarem com a terra, vendo que esta é boa, o resultado da produção também seria bom.
E porque Deus viu que era bom, Ele plantou na terra boa dos seus corações a semente do seu amor; a semente da vida eterna; semente que nascerá e dará bons frutos porque Deus, o agricultor por exigência, já arou a terra, já tratou a semente e a mantém limpa, adubada, e regada perenemente.
Que Deus, o nosso Senhor e Pai, venha abençoar cada agricultor, e que cada um seja recompensado no seu trabalho; que tudo o quanto ele plantar venha prosperar, e que seus celeiros estejam sempre cheios da provisão do Senhor. Que Deus lhe abençoe, agricultores da seara do Senhor.
Deus seja louvado!
Célia dos Santos
Seminarista da PIB de São Gonçalo
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OS BATISTAS BRASILEIROS E A AUTONOMIA DAS IGREJAS
Fundamentação Bíblica - A autonomia das igrejas locais é um princípio estabelecido desde os tempos neo-testamentários, com farta relação de textos atestando a sua prática nos Atos dos apóstolos, nas epístolas e até no livro de Apocalipse. Embora possamos observar que dentro daquele contexto histórico houve a realização de um concílio em Jerusalém (Atos 15), o exame cuidadoso do texto nos leva a entender que:
A necessidade do concílio surgiu a partir de uma dúvida doutrinária semeada entre os irmãos gentios por alguns que não aceitavam a transição do antigo Judaísmo para o Cristianismo que acabara de ser lançado (verso 1).
A ida ao concílio foi espontânea. Ninguém os convocou. Após discutir o assunto, reconhecendo a necessidade de ouvir os apóstolos e outros irmãos mais experientes, eles resolveram ir para Jerusalém (v 2).
Durante o concilio, fariseus, apóstolos e anciãos presentes fizeram uso da palavra (versos 5 e 6). Também falaram Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago, sem que houvesse entre eles qualquer diferença de ordem hierárquica (versos 7, 12, 13).
A recomendação do concilio para a questão em pauta foi comunicada às igrejas como sendo uma recomendação coletiva, que teve o apoio de toda a assembléia presente (verso 22 e seguintes).
Resolvida a questão, dissolvido foi o concilio. Cada um passou a cuidar de sua própria comunidade e os itinerantes prosseguiram na tarefa de pregar o Evangelho e plantar novas igrejas, sem que entre eles tenha sido estabelecida a figura de um líder máximo.
Anos mais tarde, o apóstolo Paulo, diante da enorme quantidade de igrejas e também do número de obreiros que rejeitavam a sua visão de trabalho, não ousou exercer sobre eles qualquer primazia, deixando bem claro que a pregação do nome de Cristo era o que mais importava (Filipenses 1:15-19). E, finalmente, quando Jesus trata com as sete igrejas da Ásia, não endereça suas correspondências a nenhum arcebispo, pelo contrário, trata com o anjo de cada igreja em particular (Apocalipse 2 e 3)!
Fundamentação Histórica – Sabemos que o surgimento do papado criou dentro do mundo cristão uma divisão anteriormente não observada na igreja primitiva – o alto e o baixo cleros. Uma vez corrompido o alto clero, composto pelo papa e pelos seus assessores mais próximos, sacerdotes sem grande poder político dentro da cadeia eclesiástica também se deixaram corromper ou foram brutalmente silenciados pela repressão de Roma. Essa foi a marca da Idade Média, período de obscurantismo, exploração, torturas e homicídios praticados em nome de Deus!
Mais tarde, a Reforma Protestante do século XVI, que teve Lutero como principal líder, seguido por Calvino, Zwinglio e tantos outros, passou a ser divulgada na Europa pelos anabatistas, comunidades independentes de cristãos, que com suas idéias libertadoras, acabaram contribuindo para a formação doutrinária dos atuais batistas. Defensores apaixonados da autonomia da igreja local, os primeiros batistas nos deixaram até hoje, como legado, esse principio que está bem arraigado na alma e no jeito de ser de nosso povo.
Ameaças Pós-Modernas – Em seu site oficial, a Convenção Batista Brasileira, referindo-se ao princípio da autonomia das igrejas, diz o seguinte: “O princípio governante para uma igreja local é a soberania de Jesus Cristo. A autonomia da igreja tem como fundamento o fato de que Cristo está sempre presente e é a cabeça da congregação do seu povo. A igreja, portanto, não pode sujeitar-se à autoridade de qualquer outra entidade religiosa”.
Apesar disso, temos observado no Brasil grande desinteresse por parte de muitas igrejas no que diz respeito às relações convencionais, desinteresse bem semelhante ao que já vem ocorrendo nos Estados Unidos, onde denominações históricas cada vez mais enfraquecem e prosperam as igrejas livres.
Isaltino Gomes Coelho Filho, respeitado autor batista, em artigo publicado em sua página, além de declarar que o principio da autonomia da igreja local é inegociável, aprofunda o seu pensamento sobre a crise denominacional, dizendo: “Entendo que vivemos um tempo bem diferente do vivido há 20 anos. As estruturas denominacionais passam por um processo de desgaste junto às igrejas. Sua imagem está afetada. Isto é conseqüência até mesmo de um dado cultural, a pós-modernidade, momento social em que vivemos e em que as estruturas são questionadas e deixadas de lado, e o individualismo é cada vez mais acentuado. Para piorar, em algumas de nossas instituições denominacionais houve má gerência, e isto atingiu as demais. Em outras, houve açodamento de pessoas que confundiram as coisas e conseguiram, com suas atitudes, criar uma postura refratária por parte das igrejas”.
Diante da diminuição do número de igrejas cooperantes e da indiferença de muitas outras que ainda contribuem para a manutenção do plano cooperativo, mas já não participam ativamente dos programas em comum, tem surgido em alguns lugares a idéia de rever as relações convencionais, impondo às igrejas filiadas mudanças que ferem acintosamente o princípio da autonomia da igreja local. Citando casos isolados de pastores e igrejas que se desviaram das boas práticas batistas, os proponentes dessas mudanças tentam impor modificações no estatuto e no regimento interno de cada igreja, adequando-os ao estatuto e ao regimento interno da convenção. Dessa forma, abrem-se brechas jurídicas que mais tarde poderão resultar em intervenção dos órgãos convencionais nas igrejas locais!
Apelo ao bom senso – Por isso, se tais idéias forem aprovadas, irão produzir efeito inverso ao esperado pelas lideranças denominacionais, causando uma debandada em série por parte da grande maioria das igrejas acostumadas à liberdade herdada de nossos pioneiros e avessas ao sistema de governo episcopal. Na hora H, as comunidades locais, inseridas dentro de um mundo cada vez mais pensante, tomarão suas decisões levando em conta os seguintes pontos:
1. Entre o bíblico e o extra-bíblico, preferirão ficar com o bíblico – No artigo supracitado, Isaltino Gomes Coelho Filho, analisando nossas estruturas convencionais, afirma: “Em outras vezes, a luta por poder, nos bastidores, em nada difere da luta que se vê no mundo. Esta confusão, para mim, se deu porque se ignorou o fato de que a estrutura é serva das igrejas e existe em função delas e não o oposto. Nem mesmo chamo nossas instituições de denominação porque denominação, no meu entendimento, são as igrejas e as doutrinas que elas sustentam. Chamo de estrutura e as vejo como pára - eclesiásticas, ou seja, elas existem para caminharem ao lado das igrejas. Por isso, entendo que as estruturas precisam rever seus métodos e seu discurso”.
Como já vimos no inicio deste ensaio, não existe no Novo Testamento nenhuma ordenança no que diz respeito à filiação ou subordinação das igrejas locais a qualquer instituição religiosa. Portanto, todas as outras organizações que criamos, somente terão razão de ser enquanto forem interessantes para as igrejas locais.
2. Entre a compulsoriedade e a espontaneidade, ficarão com a espontaneidade – As igrejas do Novo Testamento cooperavam umas com as outras espontaneamente, como desejavam e podiam.
3. Entre a agência de missões e a igreja, optarão por fazer missões através da igreja – No que diz respeito às missões transculturais, já está provado que é bem mais fácil evangelizar a Bolívia através de crentes bolivianos e Cuba através de crentes cubanos. Ao que me parece, as grandes igrejas de nossos dias também já descobriram que o melhor modelo de evangelização nacional é aquele em que Igrejas plantam Igrejas! Este método, além de mais rápido e mais econômico (pois aplica diretamente no campo missionário valores que seriam gastos para sustentar a burocracia convencional), produz maior envolvimento por parte dos membros das igrejas locais e em muito facilita o acompanhamento das Igrejas Filhas.
Convenções – Extinguir ou repensar? – Ao longo dos anos, as assembléias convencionais têm sido marcadas em todo o país por acirradas discussões que sempre giram em torno de questões financeiras, patrimoniais e outras mais oriundas das disputas por cargos. Ouvi certa vez alguém de outra denominação se referir à última assembléia convencional de que participara como sendo a “convenção da liminar” pelo fato de ter a mesma se transformado num palco de gladiadores onde a Bíblia foi trocada pelo Código Civil, com constantes ameaças de uso do Código Penal entre um discurso e outro. Nós batistas, não estamos muito distantes disso; mas, esses encontros de onde as pessoas acabam saindo tristes e ressentidas poderiam ter final bem melhor caso as convenções resolvessem repensar o papel que ainda lhes cabe entre nós.
Para não perder de uma vez por todas a relevância, sugiro que as convenções abram mão de toda e qualquer atitude impositiva, sob pena de se verem esvaziadas. Redirecionar o foco, transformando-se em órgãos organizadores de encontros, congressos, seminários, simpósios, mini-cursos, treinamentos e outros eventos que tenham como propósito principal o congraçamento, o encorajamento e o fortalecimento das igrejas locais é a saída, a mais sensata saída!
Pr. Humberto de Lima