quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

DISCIPLINA: "Não por força, mas pelo Espírito!"


Pr. Raul Marques


Eu logo aprendi desde que me converti que a vida cristã deve ser vivida à base do AMOR. Não daquele sentimento piegas através do qual a grande maioria tenta passar a ideia fantasiosa e malfadada de que "amor é tapinha nas costas" ou "aperto de mão", ou ainda, através da vazia verbalização de jargões da cultura dita "evangélica", que mais separam uns de outros do que promovem a verdadeira comunhão dos santos em Cristo.
Já ouvi algumas dezenas de vezes os fariseus externando suas opiniões - destilando o seu próprio veneno - sobre a leveza e candura com que trato os que, por qualquer infelicidade, se encontram atolados na areia movediça do pecado... Felizmente, não é por eles que baseio a minha fé e as minhas atitudes; como alguém que é também absolutamente dependente da GRAÇA DE DEUS, coloco os meus olhos e coração na direção do Mestre, Jesus Cristo.
A disciplina não tem por objetivo a execração e a humilhação das pessoas, pois este fardo o próprio pecado já lhes impõe. Ao contrário, ela busca corrigir, edificar, conscientizar e restaurar através, exclusivamente, do AMOR.
Vejamos, por exemplo, o caso particular de Pedro. Temperamento explosivo, cheio de atitudes impulsivas, apressado nas decisões e quase sempre sem a menor consciência delas. Mesmo tendo ciência de toda esta problemática comportamental de Pedro, Jesus não hesitou em chamá-lo para seguir na caminhada. Pedro demonstrou em diversas ocasiões um completo despreparo para lidar nos relacionamentos interpessoais e, sobretudo, nos relacionamentos com Jesus. Não obstante, o Mestre continuava junto dele tratando a sua mente e coração, preparando-o para situações futuras que iriam requerer dele perspicácia, sabedoria e, claro, AMOR.
Muito próximo do retorno de Jesus para junto do Pai, após a sua ressurreição, Ele chamou a Pedro e, didaticamente, colocou-lhe sob disciplina, usando o método seguinte:
- Simão, filho de João, você me ama mais do que a estes? Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Disse-lhe Jesus: "Cuide dos meus cordeiros!".
Novamente Jesus lhe disse: "Simão, filho de João, você me ama?". Ele respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo!". Disse-lhe Jesus: "Pastoreie as minhas ovelhas!". Pela terceira vez, Ele lhe disse: "Simão, filho de João, você me ama?". Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez "Você me ama?", e lhe disse: "Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que eu te amo!". Disse-lhe Jesus: "Cuide das minhas ovelhas!" (João 21.15-17).
Jesus recomendou a Pedro que CUIDASSE dos Seus "cordeiros" e fizesse o pastoreio das Suas "ovelhas", isto é, o Mestre estava confiando ao Seu discípulo o mesmo AMOR que lhe dedicara.
A grande maioria, por ter um histórico de vida permeado de "castigos" domésticos, escolares e sociais, acredita que a verdadeira disciplina é aquela que machuca, que produz marcas físicas e psicológicas. Jesus, ao contrário, mostra-nos que, 1) Só amamos porque primeiro fomos amados; 2) Só perdoamos porque fomos perdoados; 3) Só somos restaurados porque Ele nos resgatou das trevas para a Sua maravilhosa Luz. A grande lição de disciplina para nós pecadores é o confronto entre nós e a nossa malignidade; é o olhar dentro dos nossos próprios olhos e descobrirmos conscientemente as marcas danosas que ela produz; é, por fim, amarmo-nos a nós mesmos para que sejamos capazes de produzir o amor compassivo, compreensivo, sem interesses escusos, semente produzida pelo fruto do AMOR DE DEUS, da Videira Verdadeira.

Não posso e não devo cuidar dos outros, senão do mesmo modo como o meu Senhor tem cuidado de mim: com o mais puro AMOR! A violência espiritual é a mais ridícula de todas as torturas! Quem não tem pecados ou precisa de restauração, que atire a primeira pedra. Antes, porém, "ouça o que o Espírito diz às Igrejas" - “Não por força e nem por violência, mas pelo Espírito!” (Zacarias 4.6).