MUITO ALÉM DE DEZ CENTAVOS...
Pr. Raul Marques
A
Bíblia relata um fato ocorrido com certa mulher que havia perdido algumas moedas
dentro de sua própria casa e que, logo em seguida, foi diligentemente
procurá-las até que as encontrasse, tal era a sua necessidade e o seu senso de
responsabilidade no tratamento dos bens familiares. A parábola contada em Lucas 15:8-10 ajuda-nos a compreender
que os brasileiros acordaram para um Manifesto
Nacional muito além de dez centavos... Tal como na parábola, não
queremos nos deter nos vândalos ou depredadores do patrimônio que porventura
tenham tentado protagonizar a história encaminhando-a a um despropósito. Ansiamos
isto sim, fazer uma paráfrase, livres da conotação teológica, mas bem próximos
da questão social.
Nos últimos dias assistimos ininterruptamente
manifestações crescentes em várias capitais e em inúmeras cidades mais
populosas do país, que tiveram sua gênese nos “centavos” a mais que seriam
cobrados nas passagens de transportes urbanos. O fato é que, não eram apenas os
centavos que estavam em jogo; eram os bilhões e bilhões que construíram
suntuosos campos de futebol, que foram lançados na mídia dos “Ali
Babás” e também dos “quarenta ladrões (?)” que há séculos
lançam mãos nos cofres da República. Até aqui não tínhamos ainda assumido
publicamente a indignação do povo brasileiro que se sente humilhado e
ultrajado, além de traído e colocado no “banco de reservas”, sem a menor
possibilidade de entrar em campo outra vez.
Nunca
antes na história deste país os
centavos valeram tanto! Foram eles que acordaram a nação para o sucateamento da
saúde, a desvalorização dos profissionais da Educação, a manipulação dos
poderes, a violação dos direitos, o abafamento da Crise Institucional, a
desmoralização da função política, as aberrações religiosas, a desmoralização
da Família, o enriquecimento galopante dos “donos do dinheiro”, o
desprezo pela fome e a miséria nos sertões, a violência gritante, a
imoralidade, enfim, a fantasiosa inclusão do país no primeiro mundo à custa do
empobrecimento dos indivíduos, com ações lúdicas de mídias circenses em conluio.
Na
parábola bíblica, após se dar conta de que havia perdido uma moeda, a mulher
toma a decisão de procurá-la “diligentemente” até encontrá-la. O
Brasil, afinal, se deu conta de ter perdido a sua moeda... Deste modo,
chamou a sua gente, aliás, “brava gente brasileira”, para
encontrar com diligência o seu prejuízo. Os Estados e as Cidades foram sensibilizados
a procurarem juntos por uma solução. O Brasil foi às ruas. O povo acordou para
o poder que possui. A nação despertou para a valorização dos seus valores mais
profundos, que passam além do país do futebol e do carnaval; que
rendem muito mais do que todas as transações bilionárias do mundo da “bola
(?)” e que não estão nas Ilhas Cayman e nem em nenhum outro
paraíso fiscal; está, isto sim, aqui dentro deste gigante pela própria natureza:
o seu povo trabalhador!
Como
na parábola, é hora de chamar os vizinhos para a celebração da
moeda que foi achada. O caminho da dignidade foi reencontrado!