Meu pai foi um homem muito simples, com grau de instrução primária, mas, sempre muito atento às coisas importantes da vida, ávido pelo conhecimento libertário que abre novos horizontes e capacita para o enfrentamento das lutas diárias. Pois bem, foi através dele que ouvi falar pela primeira vez sobre dois livros com personagens muito marcantes: “Cela 2455 – o corredor da morte”, cuja personagem central era o próprio autor Caryl Whittier Chessman; e “Vingança, não!”, de Francisco Pereira da Nóbrega, que tinha a própria alma descrita na vida da família que protagonizava a história. Essas obras me saltaram à memória em função da violência que vemos acontecer na atualidade, de modo que, apesar de perturbadora, também tem muito a nos ensinar, mesmo que pela dor, evitando a cadeia do mal e o conseqüente desinteresse pelo bem. Vivenciamos hoje uma guerra por dia, e em cada guerra inúmeras batalhas: pela família, pelo emprego, pela paz, pela fé e pelos relacionamentos humanos. Somos hoje uma população mundial de mais de 6,5 bilhões de pessoas que agonizam de alguma forma e que não sabem mais o caminho da convivência, da tolerância e da mutualidade. Até parece que não cabemos dentro do planeta – (a superfície da terra é estimada em 510.065.500 Km2) - e por isso necessitamos empurrar alguns milhares ladeira a baixo todos os dias, na cruel ilusão de que estamos preservando o nosso espaço pessoal.
Chessman não queria vingar-se do mundo e da justiça; ele ansiava, isto sim, que se fizesse justiça a alguém que trazia consigo muitas marcas de sofrimentos e que estava lutando com todas as suas forças para defender a si mesmo. “Em sua pequena cela na penitenciária de San Quentin no estado da Califórnia, a famosa cela 2455, Chessman que só tinha feito o quinto ano primário fez algo que deixou o mundo boquiaberto: leu mais de dois mil livros de direito e tornou-se autodidata em leis... Chessman sofreu sua agonia por nove minutos na Cadeira de Gás, ele que através de dezenas de petições aos tribunais e a corte suprema americana, conseguira adiar por sete vezes a sua execução, desta vez não teve jeito. O coração dele já não bate mais, mataram aquele que no mundo todo se tornara um famoso rapaz, sua luta pela vida e comoveu gente importante demais”.
Chico Pereira transcreveu a saga da própria família marcada pela dor, e cunhou o título da sua obra bem no coração da humanidade: “Vingança, não!”. É de amor que todos necessitamos. Amor capaz de dizer verdades que libertem; que seja capaz de parecer duro, sem ser leviano; que possa produzir mudança e crescimento sem qualquer conotação de vingança. Que os nossos erros tragam consigo lições libertárias e da dimensão do amor, “porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Filho unigênito para que o todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Nenhum comentário:
Postar um comentário