quinta-feira, 1 de abril de 2021

 


             Pr. Raul Marques


Eu vivi a vida me alimentando da música, da poesia, e das artes em geral. Os meus amigos na adolescência e juventude tinham a mesma avidez pelas expressões artísticas e, por isto mesmo, até hoje não me canso de aprender a cada dia com as mais diversas manifestações culturais: repente, cordel, folclore, música erudita ou popular, pintura, escultura, cinema, teatro, enfim, tudo o que faça emergir novas ideias, novos talentos, e seja capaz de conspirar para novas criações. Muitas vezes imaginamos que quanto mais difícil for a interpretação de uma obra, tanto mais rica e mais elaborada terá sido a sua mensagem. Certamente que não é bem assim. Nem sempre o mais sofisticado é o melhor; nem sempre o mais requintado tem o melhor conteúdo. Como as artes, assim são também as pessoas; muitas vezes as mais simples e com menos aparência, são as mais ricas e profundas ao transmitirem as suas mensagens. Apesar de saber que dá muito trabalho interpretar pessoas, não posso negar que sou profundamente fascinado pelo universo da compreensão dos sentimentos humanos.

Lembrei-me agora de uma canção de Roberto Carlos, que de tão singela e tão ingênua, estampa-nos uma mensagem ao mesmo tempo tão rica e adulta que é capaz de nos remeter a uma reflexão indispensável: “Mas, agora eu sei o que aconteceu: quem sabe menos das coisas, sabe muito mais que eu!”. Temos a falsa impressão de que o nosso academicismo nos eleva a patamares tão altos que nos esquecemos de pensar as coisas mais simples, as pessoas mais humildes, de frequentar os lugares mais toscos, de ler os livros menos lidos, ouvir as canções menos recomendadas, etc. Quando, no entanto, passamos a conviver com as coisas e as pessoas do mundo mais real, temos a grata surpresa de entender que somos aprendizes agora como sempre fomos. Nenhum saber é por si mesmo tão importante que não sejamos capazes de reconhecer que precisamos aprender sempre mais. Aprender, não para sobrepujar, mas, para compartilhar. Aprender para compreender que todos têm algo a ensinar e muito a aprender.

Agora eu sei porque Jesus Cristo, com tanta sabedoria, tanto poder, tanta eloquência e tanta visibilidade, vivia fascinado pelas multidões de pessoas mais simples, carentes, porém, mais verdadeiras. Agora eu sei a profundidade da riqueza dos seus ensinos articulados através do Sermão do Monte. Obrigado, Senhor, por me fazer entender tudo isto, pois, “agora eu sei: quem sabe menos das coisas, sabe muito mais que eu”.

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