SACUDINDO O PÓ DAS SANDÁLIAS...
Pr. Raul Marques
“…se forem mal recebidos, saiam logo daquela cidade. E na saída sacudam o pó das suas sandálias, como sinal de protesto contra aquela gente”
Lucas 9.5 - NTLH.
Lucas 9.5 - NTLH.
Confesso que hoje entendo muito melhor a recomendação que Jesus fez aos seus discípulos com relação àqueles por quem eles não fossem bem recebidos. Lembro-me das orientações dos meus pais cada vez que voltávamos do cemitério, do funeral de alguém: era preciso deixar os calçados fora de casa, expostos ao sol por algum tempo, até que se descontaminassem da terra neles trazida. O pó de um chão que rejeita a vida deve ser prontamente batido e sacudido de nós...
Quando Jesus comissionou os seus seguidores, foi incisivo quanto às possibilidades de aceitação e rejeição. Isto significa que a mensagem da salvação deve ser levada a todos indistintamente; porém, não quer dizer que se rejeitada, devamos comungar e compactuar jogando "pérolas aos porcos".
A expressão de "sacudir o pó das sandálias" tem uma extensão ainda maior se pensarmos que a rejeição àquilo de trazemos em nós da parte de Deus para ser compartilhado for evidenciada através de atitudes ou da ausência delas, sobretudo, se configurado com a indiferença ou a aceitação fingida.
Podemos "bater o pó das sandálias" também quando somos ignorados por quem um dia comeu no mesmo prato que nós; por quem covardemente nos vendeu por moedas sujas: traição, dissimulação e ambição... Por quem um dia caminhou do nosso lado sem que houvéssemos, sequer, desconfiado que nutríamos um inimigo voraz!
Devemos sim, "sacudir o pó das sandálias" quando, imbuídos dos mais nobres propósitos, formos ignorados nos nossos pleitos, quando do melhor que temos formos descartados como se nada tivéssemos a oferecer... Jesus Cristo, por exemplo, quando percebeu que a sua cidade o havia rejeitado, conforme registra o evangelista Marcos, não foi capaz de realizar nenhum milagre ali, exceto a cura de uns poucos doentes.. Após o início de seu ministério, ele volta apenas duas vezes a Nazaré e em ambas as ocasiões é rejeitado pelos seus.
Quantas vezes seremos obrigados a "sacudir a poeira das sandálias"? Quantas vezes seremos rejeitados como discípulos de Jesus? Quantas vezes precisaremos da perspicácia de Jesus para desviarmos o nosso pé dos abismos das relações interesseiras, do egoísmo camuflado, da inveja impiedosa, da acidez das línguas carregadas de censura, do baile de máscaras do inferno onde desfilam os lobos em peles de cordeiros? Este é um ato de protesto inteligente, silencioso e eficiente, afinal de contas, é isto mesmo que, com outras palavras, nos ensina o Salmo 1.1: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores".
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