RECOMEÇO
Pr. Raul Marques
Alguém já
disse que “um ponto final é apenas o inicio de um novo parágrafo”.
Sim, sem dúvidas, embora às vezes o ponto final poderá significar o desfecho de
toda uma história que acaba de ser contada...
Rasgamos a
última folhinha do calendário do ano, mas ao lado dele já avistamos a página
inicial de um novo marcador de novos dias e meses de mais um novo, como alguém
gritando a plenos pulmões no megafone da existência: “Continue! O tempo
ainda não parou pra você!”. Como diria o profeta: “Conheçamos e
prossigamos em conhecer o Senhor!” (Oséias 6.3). A vida é encantadora
também por este aspecto: ela se recicla, se renova, enfim, recomeça...
Tivemos um ano que passou absolutamente
marcado pelos sobressaltos, pelo medo, pela incerteza, pelas perdas irreparáveis
e de dados absurdos, como: mais de 83.527.738 casos registrados no mundo de
infectados pela COVID-19, dos quais 47.109.370 foram recuperados e,
infelizmente, 1.819.905 morreram, com recorde de 15.518 pessoas num só dia, segundo
a universidade Johns Hopkins.
O mundo
inteiro parou. Daí, inevitavelmente, algumas reflexões devem ser feitas: Por
que desaceleramos tão bruscamente? O que estamos fazendo com o tempo que
dizíamos não ter? Por que, de repente, a família passou a ter uma importância
tamanha? Por que descobrimos, finalmente, o nosso lado mais podre: o
individualismo, e passamos a sentir tanto a falta do abraço, do aperto de mãos,
o valor do sorriso escancarado? Por que foi preciso a orientalização do
costume do uso da “quase burca”, a máscara, como que a esconder o nosso rosto
da vergonha da falta de solidariedade humana? Por que, de repente, os lares
passaram a ser o lugar menos perigoso do planeta? Por que será que fomos tão
abruptamente arrancados dos braços dos nossos entes mais queridos? Por que a
solidão do isolamento tornou-se um fardo pesado se já o praticávamos egoisticamente
e sem a menor explicação racional?
Rapidamente
tivemos que suportar a dor dos “ilhados”. Tivemos que buscar pelo próximo ainda
que fosse somente saindo na sacada, indo até o meio do caminho, mantendo a
distância... Tivemos a necessidade de cumprimentos ainda que fossem por
telefones, vídeos, cartazes... Fomos forçados por um meio invisível a entender o
individualismo quando já o praticávamos quando tínhamos total liberdade de ir e
vir e nos omitíamos... Quando, na verdade, tudo isto voltará ao normal? Mas,
afinal, que normal? Quem disse que a forma como vivíamos era normal? A maior e
mais profunda mutação que está se revelando não é a do vírus, mas a nossa!
Mudamos tão profundamente a nossa forma de viver e de pensar que o outro, o
próximo, já não fazia parte do nosso espetáculo; nós éramos as estrelas em
constelações ilhadas e perdidas num infinito coberto de efemeridades e
despropósitos!
Deus nos
concedeu um RECOMEÇO, por isto mesmo estamos aqui agora! O que iremos fazer
daqui por diante? Que sentido daremos às nossas vidas? O que faremos com a
nossa capacidade de amar o próximo como a nós mesmos? Será que daremos lugar a
Deus na nossa vida, no nosso quarto, na nossa mesa?
“Porque há
esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão
os seus renovos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no
pó, ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta” (Jó
14:7-9). É tempo de recomeçar, façamo-lo da maneira certa! Deixemos de lado
a nossa arrogância e planos escusos, de maneira que o Senhor tome a direção das
nossas vidas e nos leve às águas de descanso! Que o Senhor tenha misericórdia
de todos nós!
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