A PEDRA...
Pr. Raul Marques
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radicionalmente
vem-se a dividir a Idade da Pedra em
Paleolítico
(ou Idade da Pedra Lascada), com um sistema econômico de caça-coleta, e Neolítico
(ou Idade da Pedra Polida), no qual se produz a revolução para o sistema
econômico produtivo e sedentário: agricultura e pecuária. Há um período
intermédio chamado de Mesolítico, no qual usavam, ao mesmo
tempo, instrumentos de pedra lascada e pedra polida. Os três períodos, por sua
vez, encontram-se subdivididos” (Wikipédia).
De acordo com a Bíblia as primeiras Leis escritas foram
estampadas em pedras: os dez mandamentos, que foram entregues a Moisés para
divulgação com o seu povo. Naquele Livro, a pedra tem significações
muito importantes e servem como designação e inspiração para todas as gerações
posteriores. Foi da pedra que Moisés extraiu água para matar a sede. Foi com uma pedra
que o pequeno Davi livrou o seu povo do cativeiro dos filisteus. Foi
com o exemplo da pedra que Jesus Cristo demonstrou o Seu profundo senso de
justiça ao livrar da morte por apedrejamento uma mulher vítima e algoz de si
mesma, que foi posta sob a execração pública. Jesus usou a pedra como símbolo de sua
firmeza e da sua inabalável conduta moral e espiritual. Os seus discípulos
afirmaram e reproduziram com convicção que Ele era a pedra angular, aquela que
aponta para uma edificação estruturada para sempre.
No entanto, a pedra
ganha outros significados nas mãos humanas. No século XIX, nasceu em
engenho de Cruz do Espírito Santo, o mais destacado poeta paraibano, Augusto dos Anjos, que afirmou em um
dos seus mais famosos sonetos, Versos
Íntimos: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Um pouco mais adiante,
no século XX, nasce em Itabira, Minas Gerais, um dos mais cotejados poetas
contemporâneos, Carlos Drummond de Andrade, que dentre tantas coisas profundas
e belas que escreveu não se conteve ao desabafar que “No meio do caminho tinha uma
pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra, no meio do caminho
tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida de minhas
retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho. Tinha uma
pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra”
(No meio do Caminho).
Cresci ouvindo as
pessoas dizerem que quando alguém está em dificuldades, está com uma pedra
no sapato. Quando duas pessoas não se dão muito bem se constituem uma pedra
no caminho da outra. Quando alguém é considerado insensível é porque
tem um coração de pedra... Enfim, quem não tem a sua pedra dos significados?
Quando Jesus evitou
o apedrejamento daquela mulher que foi denunciada por adultério, que pedras
Ele evitou que fossem atiradas sobre ela? A pedra da falsa santidade?
A pedra
da justiça mascarada? A pedra da censura em favor de
interesses escusos? A pedra da falta de misericórdia e
amor? A pedra da religiosidade hipócrita? A pedra
da supremacia masculina sobre a fragilidade feminina? Afinal de contas,
com que tipos de pedras mais lidamos hoje em dia? Quem ainda não esteve sob a
mira de muitas destas pedras?
Temo muito que tenhamos involuído tanto, ao
ponto de sairmos da era do Homem da Pedra para a era do Homem
de Pedra. Que Deus tenha misericórdia de todos nós!
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